São Paulo, 2 de março de 2014
— Eu adoro as suas roupas – Cauã declarou, enquanto passava os tecidos coloridos pendurados no interior do armário de Caio como se estivesse vasculhando a arara de uma loja – Elas são tão... gays.
Caio riu da colocação do amigo, erguendo os olhos do artigo que escrevia em seu notebook para encará-lo, de costas para ele.
— Elas são mesmo. Vira e mexe tenho que tirar uma bermuda de dentro da outra. É um pesadelo – comentou, irônico.
Cauã riu, puxando uma camisa branca de tecido leve com estampas coloridas de abacaxi.
— Obrigado por me ajudar a me arrumar para o encontro – ele disse, com um sorriso tímido – Acho que eu ia morrer de ansiedade se precisasse esperar até às três horas da tarde sozinho.
— Não seja por isso – Caio descartou o agradecimento abanando uma das mãos – Mas enquanto isso, me fale sobre esse rapaz. Quero todos os detalhes.
— Bom... – o outro rapaz continuou analisando as roupas do armário – O nome dele é Henrique. Estamos nos falando sem parar há três dias. Ele está cursando História na USP e tem um acervo bem respeitável de gifs de RuPaul's Drag Race. E uma coleção impressionante de fotos do próprio pinto.
— Huuuuum! – Caio sorriu – Só ouvi qualidades.
— Sim – Cauã concordou, rindo – Posso experimentar essas daqui? – perguntou, erguendo três camisas diferentes que tinha separado.
— Claro – o estudante de jornalismo concordou.
Sem hesitar, Cauã tirou a camisa que estava usando e vestiu a camisa cheia de abacaxis, desfilando pelo quarto do amigo e girando sobre o próprio eixo como um modelo, fazendo com que Caio caísse na gargalhada.
— E aí, o que você acha? – o mais jovem perguntou.
— Você definitivamente parece gay – Caio comentou.
— Ótimo. Era o que eu queria – ele respondeu.
— Querido, se você trocou fotos do seu bráulio com o Henrique, não precisa da camisa para nada – retrucou.
Cauã riu e sentou-se na cama, ao lado dos pés de Caio.
— Estou ansioso – declarou, com um sorriso largo de quem é incapaz de esconder as próprias emoções.
— Estou vendo. Até parece que você nunca foi a um encontro antes – Caio respondeu, achando graça da situação.
— É que... – Cauã encolheu os ombros, envergonhado – Na verdade, eu nunca tive um encontro mesmo. Esse é o primeiro.
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Refém do Silêncio - DEGUSTAÇÃO
RomanceNa madrugada em que Cauã perdeu a vida, muitas outras foram afetadas: Bernardo não esperava testemunhar um assassinato cometido por seus amigos, e está consumido pela culpa. Bruna e seus pais precisam lidar com o luto repentino e o anseio cego por j...