Capítulo 1

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São Paulo, 14 de agosto de 2010

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São Paulo, 14 de agosto de 2010

Bruna olhou para o relógio, impaciente. Já era quase seis horas da tarde e se Cauã não aparecesse logo ela perderia o episódio de "Conectados", a telenovela infanto-juvenil que ela acompanhava de forma quase obsessiva, o que poderia ser facilmente comprovado pelos pôsteres colados nas paredes do seu quarto e pelo fato de que tinha imagens dos personagens principais coladas nas capas de todos os seus cadernos.

— Ai, Cauã, que saco... cadê você? – Ela resmungou para si mesma.

Não era do feitio do irmão se atrasar. Assim, a garota resolveu voltar para dentro do colégio para procurar por ele.

Não demorou muito para escutar o som de alguém batendo contra uma porta e berrando por ajuda, acompanhado de risadas de pelo menos três pessoas diferentes.

Bruna virou o corredor e encontrou três garotos mais velhos aglomerados, a garota percebeu que eles seguravam a maçaneta de uma porta, mantendo alguém preso.

Alguém, não; Cauã.

Com a visão turva pelo ódio, ela estreitou os olhos e rosnou como um animal selvagem. Correu até eles e arremessou seu corpo contra o trio, chutando, arranhando, batendo e xingando.

Assustados com a agressividade da menina, o trio saiu correndo, derrapando pelos corredores enquanto se afastavam com velocidade. Respirando com dificuldade, Bruna abriu a porta do armário de produtos de limpeza e encontrou seu irmão mais velho com o rosto vermelho por causa das lágrimas.

A garota odiava que aquele tipo de coisa acontecesse ao seu irmão. Cauã era a pessoa mais gentil e bondosa do mundo, incapaz de fazer mal a uma mosca, mas as pessoas – principalmente os meninos do seu ano e os mais velhos – insistiam em pegar no seu pé.

Ela não fez perguntas, apenas abraçou o irmão, que retribuiu o gesto. Os dois voltaram de mãos dadas e em silêncio para casa. Bruna perdeu o episódio de Conectados naquele dia, mas não se importou nem um pouco com isso.

São Paulo, 19 de maio de 2018

A visão de Bruna não estava muito clara, enquanto ela lutava para encaixar a chave na fechadura da entrada de sua casa. Precisou de alguns longos segundos para conseguir completar a hercúlea missão de abrir a porta e mordeu o lábio inferior para evitar que um berrinho vitorioso escapasse de sua garganta quando a porta finalmente se abriu.

O silêncio era uma parte importante do seu plano.

Afinal de contas, não queria que seus pais soubessem que ela estava voltando da balada quase de manhã. Eles não tinham combinado um horário de volta, mas ela sabia que eles a olhariam com ar de reprovação se soubessem que voltou para casa quando o céu já estava se tingindo de um tom mais claro de azul.

Refém do Silêncio - DEGUSTAÇÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora