ENTÃO É NATAL

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Já não sabia mais o que fazer, com as festas de fim de ano chegando, minha família ficava ocupada demais para me enxergar e ver meu sofrimento. Eu vivia choramingando pelos cantos, mas ninguém notava.

As festas de fim de ano na minha casa eram inesquecíveis, vinha toda a família passar o Natal e o reveillon conosco.
A casa estava cheia,  era véspera de Natal, e Henrique e eu estávamos brigados mais uma vez.

Estava sentada na sala, e meu pai queria programar o churrasco, e como sempre, queria ajuda do Henrique.
Pai: Filha liga para o Henrique, diga que as 18:00 horas estarei o aguardando aqui conforme combinado.
Diz ordenando e virando as costas para mim.
Eu: Pai estamos brigados, não estou falando com ele.
Digo o seguindo pela casa.
Pai: Ana é Natal, não quero saber de confusão, diga a ele que estarei o  aguardando.

Saio pisando fundo, e resmungando baixo para meu pai não ouvir.

Pego o telefone com violência.
- Que saco ter que ligar para Henrique.
Após três  toques ele  entende.
Henrique: Oi!
Eu: Meu pai pediu para lembrar do seu compromisso com ele. Alguma coisa de churrasco.
Digo indo direto ao assunto.
Henrique: Ah pode deixar, estarei aí conforme combinado.
Termina desligando o telefone na minha cara sem se despedir.
Vou até minha mãe que está na cozinha preparando o almoço, e tento explicar meus motivos para não me encontrar com Henrique.
Eu: Mãe por favor, não quero ver o Henrique. Mãe ele está ficando descontrolado.
Mãe: Como assim filha descontrolado?
Percebendo que não adiantaria contar tudo, e que só a deixaria preocupada, omito grande parte da história.
Eu: Descontrolado?
Ah mãe, é modo de dizer. Ele está mais ciumento.
Mãe: Minha filha ciúmes é normal, quer dizer que ele te ama.
Diz saindo da cozinha, e me deixando sozinha com meus pensamentos.

Fico ali a mesa, passa um verdadeiro filme em minha cabeça. Como fui permitir tanta coisa, como faço para me livrar disso tudo.
Mas não adiantava pensar nisso agora, era Natal e minha família estava em festa, mesmo estando eu de luto.

Almoçamos e ficamos conversando em família, meus primos e tias já  haviam chegado para a ceia de natal.

Até então estava tudo perfeito, até Henrique chegar.
Ele entra pela porta, e  minha felicidade sai.
Ele como sempre, cumprimenta toda a família cordialmente, ele era sempre muito educado, e todos o amavam por isso.
Após cumprimentar a todos, ele se aproxima de mim.
Henrique: Oi amor, estava com saudades.
Diz me puxando para junto de si, e me dando um beijo na bochecha.
Não rejeito o afeto por estar na presença de todos. Mas a minha vontade, era de gritar e o empurrar para bem longe.

Ele rapidamente me encara de cima a baixo, reparando em minha roupa.
Henrique: Amor pode ir trocar essa roupa. Não percebe que esse short está curto?
Diz me puxando pelo braço, sem que ninguém percebesse.
Aquela situação estava insustentável, mas nesse dia eu não troquei de roupa, tão pouco o beijei de volta.
Estava farta, mas devia pensar muito bem antes de agir.
Vou ao quarto de meus pais
deixando todos na sala, queria conversar com meu pai a sós, e tentar explicar que não queria mais namorar com Henrique.
Eu: Pai, lembra que eu disse estar insatisfeita com Henrique?
Digo me sentando na cama ao lado do meu pai.
Pai:Sim você me disse, só não  me deu motivo suficiente para que eu te dê apoio filha.
Diz se levantando.
E o seguro pelo braço, tentando o parar.
Pai: Ana não tenho tempo para isso. Se quiser choramingar faça nos ombros de sua mãe que sempre passa a mão na sua cabeça, não tempo para isso.
Diz saindo do quarto, e me deixando ainda pior.

Já era a terceira ou quarta tentativa de mostrar minha insatisfação, acabei destindo de ter apoio de minha família.

Vou para o meu quarto, e fico por lá até a noite.
Certamente ninguém deu falta de mim pois ninguém havia ido à minha procura, a não ser Henrique que sempre queria ter o controle total.

Vejo que todos estão se arrumando, e também descido fazer o mesmo.

Já pronta, fico na sala aguardando o churrasco começar, Henrique se aproxime mais uma vez e corrige minha roupa.
Henrique: Ana você está precisando de mais tecidos nessas roupas.
Diz apontando para minha saia, que nem era tão curta.
Eu: Henrique hoje não!
Digo dando as costas e indo para varanda, precisava tomar um ar.
Ele vem atrás de mim, e com violência me encurrala próximo a uma janela que dava para o meu quarto.
Henrique: Você tá ficando doida?
Mulher minha não fala desse jeito comigo Ana.
E a cada segundo ele apertava ainda mais meu braço.
Eu: Henrique me solta você está me machucando.
Eu vou gritar.
Henrique: Se você gritar seus pais vão acabar brigando ainda mais com você Ana, seu pai me contou que vocês conversaram, ele queria saber o que estava acontecendo, e eu disse que provavelmente você estava de TPM.
Ana, não tente medir força comigo. Você sabe que perde.

Lágrimas rolam em meu rosto, e me sinto sozinha e desesperada.
Finjo estar tudo bem mais uma vez, mas minha vontade era morrer.
Então a Brilhante ideia de subir para o quarto  andar, e de vez acabar com a minha vida surge em minha cabeça.
Espero todos se entreterem, e subo rapidamente.
-Uau daqui de cima parece que a queda realmente vai ser fatal.

Me lembro de meus pais, de  meus amigos, não tive tempo de me despedir de ninguém.
Dou um passo adiante, e fico bem na beirada, o vento está forte, sinto um frio na barriga, mas era como se fosse um passo para acabar com a minha dor.
Respiro fundo e fecho os olhos, estou pronta.

Sinto um puxão no braço, era Henrique  me trazendo de volta à vida, ou à que ele achava que era vida.
Henrique: Ana você o que está fazendo?
Pelo amor de Deus Ana!
Diz me puxando para junto de si e me abraçando fortemente.
Eu: Me deixa morrer, eu não quero mais viver desse jeito Henrique.
Henrique: Nunca, eu prefiro morrer primeiro.
Nunca mais repita isso Ana, me promete?
Vamos Ana me promete!
Diz me sacudindo e trazendo de volta minha razão.
Eu: Me solta Henrique eu quero descer.
Desço as escadas sem olhar para trás. Vou para o meu quarto e fico o resto da noite lá.
Minha mãe bate na porta tenta conversar, mas não quero falar com ninguém.
Provavelmente ela não sabia de nada pois na terceira batida ela desistiu e foi jantar com todos os outros.

Acabo adormecendo e perdendo a festa em família.
Esse foi o pior natal de todos.

O INÍCIO DA METAMORFOSE 🦋💜Onde as histórias ganham vida. Descobre agora