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Tinha a mão apoiada no queixo e o olhar direcionado na janela completamente coberta. Sentia o sangue esvaindo-se de seu sistema, deixando claro que deveria se alimentar em breve. 

Em sua mente tudo parecia pequeno demais, conseguia lidar com tantos pensamentos ao mesmo tempo que sentia que iria enlouquecer. De um lado do cérebro, tratou de ocupar-se com problemas matemáticos; os criava rapidamente e resolvia na mesma velocidade. Do outro lado, pensava sobre política -esteve tão fissurado em política em certa época, que pessoalmente investigou o assassinato do presidente Kennedy. Bom, teorias mirabolantes sobre a ganância do vice presidente ou até mesmo queima de arquivo da CIA estava fora de questão. Na verdade a ira de uma mulher traída é capaz de tudo e Kennedy era prova viva -ou morta- disso, Chanyeol confirmou-. Se organizou por anos para conseguir criar um sistema funcional onde pensava em aleatoriedades diversas sem ficar completamente fora de si. E ali, sentado no colchão e sem blusa, percebeu que, intencionalmente, criou um espaço apenas para Byun Baekhyun. Se concentrava em gravar sua respiração, pulsação, corrimento sanguíneo, suspiros, passos. Era como um satélite orbitando um planeta, um planeta pequeno e fofoqueiro. 

Pouco a pouco sentia os problemas de exatas esvaindo-se, o espaço Byun querendo ter mais lugar no cérebro, desejando ocupar todos os pensamentos do vampiro.  Se levantou e foi até a pilha de folhas, procurando seu maço de cigarros. 

Sob pilhas de músicas escritas, avistou a pontinha de seu único desenho. Puxou e deixou os olhos varrerem o rosto desenhado com total precisão, riu ao se lembrar de sua obsessão em capturar todos os desenhos do homem naqueles traços feitos com lápis. 

Desistiu do fumo e decidiu vaguear pelas ruas, estava ficando sem sangue em seu organismo e precisava reocupar se quisesse continuar o mais vivo possível.  Levou a mão para o pescoço, procurando com os olhos sua blusa. Os dedos tocaram a cicatriz permanente pouco abaixo da nuca, desenharam em volta e sentiu seu sistema mental se desfazer, a matemática, a política, a física, música e todos os outros pensamentos sumindo, dando lugar a apenas um. Um proibido que o tirava da sanidade humana. Retirou os dedos da pele com brusquidão.

Seu plano mental estava esvaindo-se, voltando a trabalhar como uma máquina quebrada, genial e mais rápida que qualquer outra, mas funcionando de maneira fora do comum. 

Agarrou a blusa debaixo do lençol e a vestiu, precisava se controlar. Colocando o boné na cabeça e andando até a porta, percebeu que deveria apagar o espaço Byun. 


(...)


  —Meu amigo, primeiro que eu não ligo. 

  —Eu só não mando você se jogar num poço de ignorância que nem a Samara, porque você já é o poço.

Estavam desde de manhã discutindo o futuro do anime que Jongin obrigou Baekhyun assistir. Mesmo totalmente viciado no desenho e obcecado em saber o que aconteceria com o universo de Shingeki no Kyojin, Byun continuava a dizer que era mais ou menos e ainda preferiria que o moreno tivesse colocado em seu programa de vendas de jóias.   

  —Não vê que não faz o menor sentido o Erwin ser o titã misterioso?- Jongin vociferou, totalmente irritado pela insistência do mais novo na teoria sem sentido. 

  —Eu vou acreditar no que eu quiser, se continuar reclamando vou pessoalmente na porta do autor dessa porcaria e mando ele escrever que esse loiro gigante é o titã misterioso. 

Kim, vencido pelo ódio e preguiça de continuar, apenas revirou os olhos e se deitou na cama de solteiro. O relacionamento dos dois era estranho, estranho é a palavra certa que define os garotos. No início era só Baekhyun o ameaçando com o assunto da traição -não que tenha parado, Jongin até estranhou que o garoto não jogou sua falsidade em pauta naquela pequena discussão- , no entanto agora ambos apreciavam realmente a companhia um do outro; Jongin porque o pequeno era o único na pequena ilha que sabia sobre si; Baekhyun porque era obrigado mesmo, não conhecia mais ninguém por ali e, sinceramente, duvidava que qualquer outra pessoa aceitasse ouvir seus monólogos sobre o vizinho vampiro. 

Vampire «Chanbaek»Where stories live. Discover now