Capítulo 5 - O café

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Bate o sinal, indicando o fim da terceira aula. Acabo ficando pra trás, em meio a tantos adolescentes famintos saindo para o intervalo. Resolvo que vou esperar para sair, mas lembro-me de meu encontro com Gio. Recolho minhas coisas e saio no mesmo momento.
A sala dos professores já estava cheia, eu estava na turma do 2º ano C, uma das mais afastadas dali. Olhei rapidamente por toda a sala, não vi Giovana - "deve ter saído depressa para não encontrar a Carla", imagino - Quando dou por mim, Pedro, outro professor que eu não conheci em minha época como aluna, estava me encarando bem em minha frente, como se estivesse aguardando eu falar algo.

- Perdão? Não ouvi. - disse meio tímida.

- A Giovana. Falou que iria aguarda-la no carro dela. - respondeu.

- Ah! Obrigada por avisar! - fui em direção ao meu armário, guardei algumas coisas, peguei minha bolsa e saí - Pedro, sabe me dizer qual o carro dela?

- Procure por um carro na cor grafite com uma professora dentro. É tudo que sei, sou péssimo com nomes de carro - falou, me arrancando uma gargalhada.

- Certo, obrigada pelas informações.

Saí da sala, confesso que estava um pouco nervosa. Aquela mulher fazia isso comigo, mas eu não poderia deixar transparecer, então tratei de me recompor. Chegando próximo ao estacionamento, enxergo um Honda H-RV piscando a luz para que eu pudesse notar. Respiro fundo, até digerir a informação de que Giovana dirige uma SUV. Não que eu fosse interesseira, mas mulheres dirigindo SUVs sempre foram meu fraco. E Giovana era, praticamente, a personificação de todos os meus fetiches: uma mulher linda, inteligente, e poderosa! Eu precisava manter meus pensamentos longe disso.

Me aproximei de seu carro e fui em direção à porta do motorista, a fim de terminar de combinar com ela para onde iríamos.

- O que está fazendo aí? - perguntou - entra!

- Mas eu estou com meu carro aqui, preciso só saber pra onde vamos, e então podemos seguir.

- Eu conheço um café ótimo, e caso a gente se estenda um pouco na conversa, fica muito próximo de um dos meus restaurantes favoritos, poderíamos aproveitar e almoçar por lá.

- Perfeito! - falei animada - você me guia?

- Sim, vamos lá! Já que você está recusando minha carona... - sorriu pra mim.

Entrei em meu carro e seguimos em direção ao café. Lá chegando, descemos de nossos carros e seguimos para uma mesa mais afastada, mas que nos dava uma bela visão de uma das principais avenidas da cidade.

Após fazermos os pedidos, olhei pra ela e disse sorrindo:

- Então, a Carla... Sou toda ouvidos.

Gio chacoalhou a cabeça em sinal positivo, olhou nos meus olhos e disse:

- A história é longa, tem certeza de que quer ouvir?

Agora, já com nossos cafés na mesa, estávamos conversando, soube que Carla e Giovana tinham uma boa relação até uma festa do colégio, que ocorreu no dia dos professores do ano passado.

- Eu, como sempre, estava sozinha. Meu noivo não pode vir porque tinha alguns compromissos lá na nossa cidade, e a Carla, gentilmente, ofereceu-me companhia. Sentei com ela e com o seu namorado, o Lucas, e em algum momento ela cismou que ele me olhava diferente. Simplesmente, pegou suas coisas e foi embora. O Lucas pediu desculpas e saiu atrás.

Eu estava apenas ouvindo, atenta, com uma sobrancelha arqueada.

- Depois disso, tentei mandar algumas mensagens, perguntei se estava tudo bem, o que tinha acontecido, mas nada... Não obtive resposta alguma. Ela nem quis me ouvir, e eu juro, Bárbara, eu não estava fazendo nada, e nem percebi o Lucas dando em cima de mim, acho que foi tudo coisa da cabeça dela. Eu tentei, tentei muito resolver as coisas, procurei saber porque ela ficou daquele jeito, e tudo que eu soube foi por outras pessoas que ela conversou, porque ela nunca mais me dirigiu a palavra. Mas agora - deu um gole em seu café - eu simplesmente nem quero resolver nada.

- Nossa, Gio, ela está toda errada. Primeiro porque não te deu nem o direito de se defender, apenas ficou com a versão dela e não quis saber de mais nada. Outro erro, porque ficar brava com você? Garanto que no dia seguinte ela e o Lucas já estavam resolvidos, mas não era ele quem estava te olhando? Eu não duvido desta parte, mesmo sem conhecer o Lucas, eu sei como seria difícil manter os olhos longe de uma mulher como você, mas ela deveria era ficar chateada com ele, não com você.

Ela me olhou sorrindo, um pouco envergonhada. Quando eu me dei conta do que tinha acabado de falar, também ruborizei.

- Sem dúvidas, se existe uma pessoa inocente nessa história toda, sou eu - disse ela, deixando pra lá meu elogio. - mas, por favor, não precisa mudar sua relação com ela por minha causa, você precisa dar a ela o benefício da dúvida.

- Gio, eu percebi a falta de caráter dela ao ficar falando comigo, quase gritando, só pra ter certeza de que você ouviria e se sentiria atingida pelo que ela estava falando. Naquele momento, sem nem saber nada desta história, eu já fiquei do seu lado.

- Né? Aquilo foi ridículo - ela respondeu.

- Eu só não posso começar a ser grosseira sem motivos com ela, isso faria com que ela te odiasse ainda mais - eu ri - Então, por favor, quando estivermos na sala dos professores, fica comigo, pra ela nem pensar em chegar perto.

- Com certeza - falou, achando graça em mim - agora que você já sabe de tudo, não vou te deixar em paz.

Ficamos mais um tempo ali, conversando. Ela me contou da vida dela fora daqui, falou sobre sua família, e sobre seu noivo.

- Nós estamos juntos há 5 anos, terminamos por alguns meses e depois, para reatar, ele me pediu em noivado, há 2 anos. Mas tudo anda muito estranho, eu não sei explicar.

- Entendo. Às vezes a coisa complica mesmo, e a gente nem entende o porquê, eu já passei por isso.

- Exatamente. Desde que reatamos, parece que ele não faz tanta questão em me ver. Tá tudo bem se eu vou pra casa no fim de semana, ou se eu fico aqui na cidade durante um mês inteiro, ele reage da mesma forma. Nunca veio me visitar, nem nas férias dele. Eu, sinceramente, não sei o que ainda tá segurando a gente juntos.

Fiquei meio sem saber o que dizer, apenas assenti com a cabeça e falei o quanto parecia complicado. Aí é que percebemos o quanto o tempo voou enquanto conversávamos, o que tornou ainda mais agradável a ideia de almoçarmos juntas.

No meio de tudo, Você!Where stories live. Discover now