Capítulo 4 - Desavenças

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Passaram-se algumas semanas, o tempo passou até que rápido. Já era sexta-feira novamente, dia que eu tinha apenas a segunda e a terceira aula. Cheguei, como de costume, pouco tempo depois de todos entrarem para a primeira aula. Sentei em uma das cadeiras frente aos computadores e liguei, a fim de poder ler as notícias do dia. Enquanto pegava um copo de café, pude ouvir alguém se aproximando, - "seria Giovana?" - eu não a via desde a última terça-feira, pois nossos horários de quarta e quinta não estavam se encontrando, e eu realmente queria vê-la. Quando olho em direção à porta, a vejo.

- Bom dia, Gio!

- Bom dia! - me respondeu com um sorriso curto, percebi que ela não estava tão bem como de costume.

- Quer um café? - perguntei entregando-lhe o copo recém-cheio que estava em minha mão.

- Obrigada! - pegou-o e sentou-se na mesa central.

Obviamente, Giovana estava com algum problema, mas não me senti no direito de pergunta-la, achei que seria um pouco invasivo.
Aquele dia, apesar de ser fevereiro, estava fazendo um frio incomum para a época. Levantei por um pouco mais de café e disse:

- Caramba, este frio está terrível!

- Nem me fala, mal pude dormir por isso, não estava preparada para precisar de meus cobertores e edredons. Tive que dormir com o único cobertor, fininho, que estava limpo - respondeu-me, desta vez prestando-me mais atenção.

- Nossa, consigo imaginar seu sofrimento - fiz uma pausa - percebi que você não estava muito bem hoje, agora entendi o porquê - disse, como forma de mostrar que estava sentindo seu desânimo.

- Ah - disse ela - quem dera fosse só este o meu problema.

- Poxa, eu posso ajudar em algo? Quer conversar? - perguntei, um pouco sem graça, já que não esperava aquela resposta, mas não podia simplesmente ignora-la.

- Obrigada, Bárbara. - olhou bem ao fundo dos meus olhos, fazendo eu sentir a veracidade - acredite se quiser, você já está ajudando, só por sua companhia.

- Fico feliz por isso. Se eu puder fazer algo mais, não hesite em me chamar - sorri e caminhei até minha tela.

- Pode deixar. Você vai conviver muito aqui nesta sala, eventualmente vai ouvir e perceber algumas coisas.

Estranhei seu comentário, mas não quis me estender, já que estava chegando outro professor, a professora Carla. Percebi que ela chegou e, animada, me desejou um bom dia, mas nem ao menos se deu conta da presença de Giovana. Olhei para Gio, e ela estava com a feição cerrada, olhando fixamente para a tela de seu celular.

Carla, professora de Literatura, tinha 26 anos e trabalhava ali há apenas um ano, eu não a conhecia. Embora ela tenha me parecido ser uma boa pessoa, quando a conheci, trocamos apenas algumas palavras, mas não tivemos a oportunidade de conversar muito, pois sempre estávamos de saída.

Ela se aproximou, sentou na cadeira do computador ao lado e começou a conversar, um pouco alto para a distância em que estávamos:

- Estou feliz de te encontrar aqui, ainda não tivemos a oportunidade de conversar direito, não é? Mas já sinto que teremos uma amizade incrível - como estava com o corpo virado para ela, pude notar, ao fundo da minha visão, Giovana revirando os olhos.

Se eu ainda tinha alguma dúvida, agora tive certeza de que um dos problemas de Gio era Carla. De qualquer forma, continuei sendo amigável com Carla, conversamos sobre algumas coisas e, por fim, sobre como eu acabei topando dar aulas ali.

- Isso é ótimo, Barb - eu odiava esta abreviação de meu nome- a escola está precisando mesmo de um ar novo entre os professores, alguns ainda seguem, mas não durarão muito.

Foi então que eu percebi que aquela conversa tinha como principal intuito chamar a atenção e alfinetar Giovana. Assim, acabei por responde-la, mostrando um tom tranquilo, disfarçando minha revolta por usar-me desta forma para gerar intrigas:

- Caramba, espero que eu não me torne um destes professores - falei rindo, enquanto levantava com meu copo para leva-lo ao lixo. - não posso esquecer de trazer uma caneca na próxima semana - mudei de assunto.

Voltei a me aproximar de Carla apenas para desligar o computador que usava. Fui até a mesa central e comecei a arrumar minhas coisas para a aula. Giovana não me olhou, eu podia ver que ela tinha maturidade o suficiente para não entrar no jogo de Carla, por isso resolveu ficar em silêncio.

Assim que o sinal bateu, Carla recolheu suas coisas e saiu, enrolei um pouco, para poder caminhar ao lado de Giovana. Assim que estávamos saindo, eu disse:

- Bom, um dos seus problemas está desvendado, aos poucos vou te conhecendo melhor - falei com bom-humor, para tentar arrancar-lhe um sorriso.

- Ora ora, você conseguiu descobrir, mesmo com tooooda aquela sutileza da Carla? - respondeu rindo.

- O que eu posso dizer? Estou completamente envolvida neste caso! - nós duas rimos.

- Argh, mas aquela mulher consegue mesmo me tirar do sério, ao menos me faz esquecer todos os problemas maiores por um tempo, e focar apenas no quanto ela é insuportável. Ainda bem que hoje só dou aulas até o intervalo, se eu der sorte, só cruzo com ela na próxima semana.

- Vamos cruzar os dedos - eu disse - mas, ei, você tem algum compromisso depois daqui? Eu também só darei a segunda e a terceira aula, poderíamos tomar um café fora e bater um papo, se te interessar.

- Zero compromissos, "Barb" - disse com tom de deboche - vamos fazer algo, sim. Saindo das aulas, nos encontramos, qualquer coisa, estarei no estacionamento.

- Fechado!

No meio de tudo, Você!Onde histórias criam vida. Descubra agora