Helena

Preferia um cachorro!

LEÔNIDAS

Deitei, mas não dormi direito. Não podia, minha mente trabalhava tanto, e eu só conseguia lembrar de domingo pela manhã.

Quando estava na porta da casa da Helena e dona Nadir disse a ela que acordasse o Luca, imaginei que fosse um cachorro. Um desses bem preguiçosos, super gordos que te derruba no chão e baba na sua cara, o dono chama o animal  no diminuitivo e tira ele de cima de você falando que  "danadinho, gracinha". Escrotice do caralho!

Me preparei emocionalmente para ter um monte de pata marcada em minha blusa branca e   já estava com um discurso na ponta da língua para fazer a Helena lavar. Mas não era um cachorro, era um homem. E quando aquele homem de dois metros passou pela porta da cozinha de Dona Nadir eu vi, literalmente, a grande ameaça que ele era.

Eu não sou gay, não é isso! E nem estou falando isso para me justificar  por ter um ego masculino frágil e nem nada, só não sinto atração por outros homens e ponto, e quero deixar isso claro. Só que o tal de Luca era um cara boa pinta. Porra! Vou ser sincero, o cara era bonito para cacete! Se ele era o homem que entrou no carro com a Helena eu estava fodido. Não dava para competir com aquele cara, caralho! Eu sou bonito, sei disso. Mas aquela cara era a sacanagem de Deus com todos os homens. E  Ok  se o cara fosse só bonito, só que aquele babaca era educado, brincalhão, simpático,  tinha um jeitão de menino, e entendia a Helena só de olhar! Filho da puta arrombado! 

Enfim,  preferia aquela merda de cachorro. Não sei porque eu pensei que um cachorro seria ruim. Um cachorro é ótimo! Eu lavava com prazer a merda da blusa se o cachorro sujasse, na boa, se aquele cara não existisse. E o pior, até eu estava gostando dele, Luca era gente de boa demais.

Fiquei mais tranquilo quando ficou claro que eles não transavam. Alguém lá em cima ainda ia com a minha cara! Yes! Mas na segunda feira já tinha programado ter mais frequência na minha academia, contratar um personal, e  treinar uma luta qualquer. Também queria passar num barbeiro, corte de cabelo novo, cuidar da barba, essas coisas. Ele podia ser o melhor amigo da Helena, mas vai que um dia ele caía na real? Para minha sorte, nesse dia ela já teria que ser minha, meu velho. Só digo isso.

Duas semanas depois...

Cheguei na VidalCofee tarde na segunda-feira. Tinha usado a manhã para dar uma repaginada em mim e fazer exames de rotina. Adiei duas semanas  o projeto "Leônidas Legal".Caralho! Eu sei que o nome é super idiota, mas foi a Antonella quem deu. E por falar  nela, a mesma tem vindo cada dia mais na empresa. E graças a minha secretária, Antonella está mais confiante sobre ser uma ótima arquiteta, e com meu aval todos os projetos de restruturação da Vidal Corps e VidalCoffe foram passados para o seu comando. Sei que Antonella  tem cara de vinte aninhos, mas já tem vinte sete anos, duas pós graduações e está iniciando o mestrado. A garota é fera. 

Deixo uma papelada em cima da mesa de Helena ao passar e vou direto para a minha sala, sei que ela virá atrás de mim. A mulher entrou na sala igual uma vespa, não avisei aonde estava de proposito e quando ela ligou para  o meu celular pedi que a secretária do consultório em que eu estava perguntasse quem era e falasse que eu estava ocupado.

_ Leônidas, por que não me avisou que cancelou as reuniões da manhã? - Eu ainda estava de costas.

_Tinha coisas melhores para fazer. - Queria que ela pensasse quais coisas eram essas.

_ Não perguntei se havia coisas melhores para fazer, perguntei porque não me informou.- Ela estava formal demais, fria demais.

_ Me distrai.- Curto e grosso.

_ Acho bom que tenha distrações, mas não atrapalhe meu trabalho. - Me virei.

_Eu sou o seu trabalho. - Ela perdeu o fala por uns segundos. 

_Não é. A VidalCofee é. - Ri.

_ Eu sou a VidalCofee, Helena. - Eu estava me descontrolando. Ela não ligou a minima que hipoteticamente eu tivesse dormido com outra mulher? Droga! 

_ A VidalCoffe são 783 funcionários, Senhor Vidal. E para mim, você é apenas mais um deles. - Falou isso e saiu.

Ela não tinha medo nenhum de mim? Era louca?Fui atrás dela.

_ Quem você pensa que é para falar comigo nesse tom?-   Cheguei na antessala gritando.Estava furioso.

Falei para o vazio, ela não estava ali.  

Procurei em todos os lugares, estava preocupado, o único que faltava era sala de arquivos.Entrei e meu coração deu um salto, ela estava sozinha e com a cabeças nas mãos, parecia tão frágil que meu ódio passou na hora. Cheguei mais perto e me abaixei na poltrona em que ela estava.

_ Vai embora. - Foi um sussurro. 

_ Me perdoa? - fui um babaca, eu sabia.

_ Só quero ficar sozinha. - Mas ela não tirou minha mão do seu colo.

_ Você chorou? Eu a magoei tanto assim? - me odiei.

_ Esquece. Não estou bem, é isso. Vou ligar para o Luca, não queria atrapalhar a aula dele, mas vai dar certo. - Ela falou isso olhando para o chão. Doeu.

_  Onde você quer ir? Eu te levo. Não precisa do Luca. - fui ríspido demais. Emendei mais delicadamente - Não precisa atrapalha-lo, aulas são importantes.

_ Estou cansada, Leônidas. Muito cansada. - E eu senti todo o peso que ela carregava.

Levantei seu rosto e a encarei bem no fundos dos olhos, não podia perdê-la. Eu a queria tanto que acabava fazendo tudo errado por desespero. Ela não desviou os olhos, parecia hipnotizada, então o clima mudou. Eu senti um zunido no ouvido, parecia que tudo estava ficando quente, só conseguia me concentrar na boca dela. Me aproximei e ela não se afastou. Toquei seu rosto, esperando ela dizer não, mas ela não disse. Nós sabíamos que íamos nos beijar. Cheguei tão próximo que eu sentia o calor que saia da boca dela, nossos lábios estavam a milímetros um do outro, encarei aqueles dois olhos negros, afundei minha mão  na sua nuca a puxando para mim, e a beijei. Ela correspondia  de um jeito totalmente entregue, dando e tomando na mesma moeda, enquanto eu ditava o ritmo, ela gemia. Eu havia morrido e encontrado o paraíso, enfim.

Gente, tive que recuperar essa versão agora de manhã! Desculpe por ter ficado estranho para   quem leu o rascunho! Bjuu