A Queda

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Observando-a, estive
Tão saudável,
Tão feliz,
Tão satisfeita,

Com a vida,
Com as coisas,
Com as amigas,
Com as roupas,

Pois sim: saudável estava
Menos eu, que, de tão doente
Suspirava. Tudo doía, e ainda dói
E corrói: essa distância indiferente.

Olho as curvas de seu sorriso
E as demais de seu corpo
Obra sem escultor
Paixão sem resplendor.

E daí se sinto dor?
E daí se sinto amor?
O que importa
É a realidade que vigora; e que me apavora.

Olho tais coisas a distância
Por foto. Pois isto basta:
Estar longe e doer muito
Do que estar perto e doer ainda mais.

Aqui vos fala um enfermo sentimental
Que reduziu o alfabeto inteiro
As sete letras daquele nome
Pois eram as únicas coisas que conseguia falar.

E logo me vi em meio
De um completo nada
Pois nada mais me importava
Nem as outras letras, nem o resto do mundo.

E aí fico mudo.
Sem reação e razão
E esta última perdi há muito tempo
Desde o início disto tudo; sentimento unilateral.

Não te tenho
E nunca te tive.
Minha queda por ti
Predisse minha própria queda; meu fim.

Poemas de AprendizWhere stories live. Discover now