Ausência

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Amei, sem de fato amar

Doei, sem de fato doar

Me entreguei em hora e ocasião indevida

A esperança não só tarda; também morre.


Por tempos, achei que eu fosse meu próprio médico

Quando na verdade era eu mesmo o enfermo e o paciente

Rejeitava remédio até entender a causa.


Entendi a causa numa tarde de domingo, na praia

Lá estava somente eu, a multidão, a areia e o mar

Mas a multidão era o mesmo que nada: era como se ela não existisse

Não estava lá quem eu estava disposto a amar

Minhas mãos não sentiam as dela; sentia apenas o vento

O efeito do silêncio no espírito era como se fosse físico, real

E não tinha ninguém mais ali para amar

Senão eu mesmo

(E por isso era eu o enfermo).


Ali entendi que eu devia ser o primeiro a receber o amor: receber de mim mesmo

Entendi, aceitei

Mas foi impossível matar ali aquela sensação

A sensação da ausência

Naquela tarde de domingo.

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*Inspirações: "Claro Enigma", Carlos Drummond

- "Friends, lovers or nothing", música de John Mayer

Poemas de AprendizWhere stories live. Discover now