Capítulo 17 - UM ESTRANHO NO NINHO

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A queda parecia maior do ele que imaginara. Sentiu seu corpo ser atraído pela gravidade, enquanto a resistência do ar amassava a pele do rosto e empurrava seus cabelos. Estava quase chegando ao ponto de impacto com a lâmina d'água quando sentiu-se sendo agarrado à força.

Garras poderosas o pegaram pelo ombro e cintura, erguendo-o para o alto feito uma presa indefesa. Seu corpo balançava no ritmo do bater das imensas asas do dragão, enquanto se sentia esmagado pela força descomunal das patas daquele grande réptil.

Voou alguns minutos sobre as copas das árvores, embriagado pelo panorama geográfico da gigantesca Floresta Negra. Pela primeira vez, via o sol arder sobre sua cabeça, depois de dois dias imerso naquela escuridão úmida. Ficou enjoado, com vontade de vomitar. Porém, estranhamente, estava encantado com a experiência de quase flutuar no céu acima daquele imenso dossel verde.

O monstro voou em direção à montanha, e Lucas pensou que voltaria à caverna do tesouro. Para sua surpresa, o dragão subiu, evitando a abertura e dirigindo-se ao topo da elevação. Quando atingiu o pico, a centenas de metros da base, a criatura o soltou.

A queda foi de uns dois metros até atingir uma superfície fofa, feita de galhos e folhas secas. O material vegetal estava propositalmente entrelaçado e organizado em uma espécie de forma circular com proteção lateral. Para seu espanto, deu-se conta de que estava em um ninho.

O espaço era grande. Deveria ter uns 8 metros de diâmetro, e percebeu a presença de crânios de animais e carcaças empilhadas. O cheiro de carniça invadia as narinas, quando foi surpreendido por uma voz moribunda:

- Aqui... Lucas!

O garoto não conseguia acreditar no que via. Era Gael, estirado na borda do ninho, com o abdômen aberto e algumas vísceras expostas. Era possível ver seus intestinos saindo pra fora da cavidade pélvica. Já estava em processo de morte, algo terrível e muito doloroso.

- Gael! Meu Deus, o que fizeram com você!

Lucas se aproximou, horrorizado, sem saber o que fazer. Queria cessar aquela dor. Queria poder ajudar o pesquisador que fora seu colega de campo. Sentiu vontade de chorar.

Em um dilema, percebeu que ainda estava com o sabre e segurou-o com as duas mãos. Enquanto buscava coragem para um golpe de misericórdia, Gael proferiu, em um último esforço:

- Cuidado... o filhote! - disse apontando para trás do garoto.

Lucas se virou, instintivamente, a ponto de ver aquele animal desajeitado, com escamas claras e ainda macias, avançar com o bico em sua direção. Ele tinha um metro e meio de altura, do tamanho de uma pessoa pequena, mas o suficiente para ser mortal. Com a lâmina entre as mãos, conseguiu acertar o bico e desviar da mordida, correndo para o outro lado do ninho.

Aterrorizado, Lucas assistiu a bizarra criatura se dirigir para Gael e comer seus olhos. Enquanto gritava, abocanhou sua língua e a puxou, como uma goma elástica, até arrebentá-la e comê-la vorazmente.

O jovem estagiário já havia vivenciado muitas coisas terríveis desde quando partira para aquela maldita saída de campo. Viu coisas horríveis e, mesmo com pouca experiência, havia superado todos os perigos, contra todas as probabilidades. Ele tinha que dar um basta àquela matança. Tinha que vingar seus colegas e salvar a sua própria pele. Ele precisava matar o monstro, assim como a sua prole.

Enquanto o filhote desajeitado devorava as vísceras de Gael, Lucas segurou firme o sabre dourado e atravessou o corpo escamoso com a lâmina afiada. A criatura soltou um grito estridente, arregalando os olhos e abrindo o bico, até cair morta logo em seguida.

Para seu terror, Tiamat escutou o chamado de morte da sua cria e voou da floresta de volta para a montanha, em sua direção.

Não havia saída do ninho. Não tinha como descer ou pular para um lugar seguro. Ele tinha que enfrentar o monstro e matá-lo, com suas próprias mãos.

Lucas respirou fundo e, com toda a sua vontade, pensou nos olhos da floresta que o vigiaram naquela noite em que estava perdido. Lembrou-se das palavras que ouvira e pediu, do âmago de seu ser:

- Por favor! Se realmente existe uma Unidade na floresta, ajude-me a matar Tiamat!

Ele só poderia estar louco. Aprendera, em todos os anos de aula de Biologia, que não existia magia ou sobrenatural. Isso tudo eram histórias fantasiosas de pessoas supersticiosas, que davam desculpas criativas para problemas de causas desconhecidas. Porém, acreditava haver uma espécie de sistema interdependente na Natureza. Uma espécie de ligação profunda entre todos os seres e elementos do ecossistema. Na ecologia, tudo era interligado, como se houvesse uma unicidade nos sistemas vivos. A possibilidade de uma consciência nesta unicidade era a sua última esperança.

- Floresta Negra! Ajude-me a matar o monstro, para que a sina de morte e destruição seja acabada, de uma vez por todas!

O dragão subiu, voando em torno da montanha, quando um som estranho surgiu de dentro da mata. 


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Olá, caros leitores!

Lucas se encontra, agora, numa terrível enrascada. Talvez, o maior de todos os perigos que já tenha enfrentado nestes dias de privações e horrores desta saída de campo mortal.

Como ele vai se deparar com o monstro enfurecido pela perda de de sua cria?

Será que existe mesmo uma unidade consciente na floresta que atenderá ao seu chamado?

Acompanhe os próximos capítulos e descubra os mistérios que assombram as profundezas da Floresta Negra!

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