Capítulo 12 - REVELAÇÕES

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Lucas despertou assustado, com a visão de um homem grande e robusto na sua frente. Era o velho Jon, com as mãos livres das amarras e a espingarda apontada diretamente para a sua cabeça.

O jovem estagiário congelou de pavor e nem tentou se mexer. O lenhador estava com os olhos arregalados, mirando a arma a cerca de um metro de distância. O olhar insano denunciava o desespero do homem, que exalava um vapor quente da boca a cada respiração ofegante.

Com a voz quase lhe sumindo na garganta, Lucas decidiu falar:

- Por que você quer me matar?

O Velho Jon se manteve imóvel, enquanto rugiu com sua voz rouca e gutural:

- Eu disse pra vocês irem embora!

Ainda não satisfeito com a resposta, o jovem insistiu:

- Você não respondeu minha pergunta. Por que quer me matar? Por que você matou Bertran na cabana?

O homem robusto, com sua enorme barba grisalha e os braços cobertos de pelos brancos, começou a aparentar desconforto.

- Eu matei aquele filho da puta que veio vasculhar minhas coisas! Ele queria roubar o que é meu!

- Roubar o quê? O que há nesta floresta além de um monstro e um velho assassino?

O lenhador ficou com raiva, mas era isso mesmo o que Lucas queria. Pessoas com raiva tendem a falar mais do que deveriam.

- Ele queria roubar o meu tesouro!

- Tesouro? Do que você tá falando? A gente não sabia de tesouro nenhum!

- Claro que sabiam! O seu chefe idiota e aquele pesquisador puxa saco dele sabiam!

- Mas como... - Lucas ficou sem voz.

- Por que você acha que ele queria tanto explorar mais fundo a floresta, mesmo sabendo que tinha uma besta assassina à espreita?

De repente, algumas coisas começaram a fazer sentido. Era mesmo muito estranho a insistência obstinada do Professor Rodrigo em seguir para o vale, mesmo com todos os perigos mortais pelo caminho, assim como a ideia louca de Bertran de procurar um suposto mapa da floresta.

- Se você não sabia, foi muito burro por não perceber. Mais burro ainda por ter ido atrás deles! - e relaxou um pouco, com uma curta gargalhada nervosa.

Neste momento, Lucas percebeu a distração do velho lenhador, que afrouxou a espingarda enquanto sorria com uma larga boca de dentes quebrados. Esse foi o momento em que juntou coragem, sabe-se lá de onde, para pegar uma pedra pesada e acertar-lhe no rosto com toda a força, e de surpresa.

O grande homem caiu de costas, com a investida inesperada, e acabou derrubando a arma no chão. O garoto correu feito louco para fora da gruta, atravessando a cortina de água que estava bastante turbulenta. A tempestade havia parado, mas ele só conseguiu sair pela outra margem, oposta ao caminho por onde viera. A piscina estava funda e não tinha mais como atravessar para o outro lado.

Pensando rápido, decidiu subir por uma trilha de animais que se elevava acima da cachoeira. Talvez, lá de cima, ele tivesse uma visão melhor do terreno, e poderia seguir um caminho mais seguro para fora daquela floresta infernal.

Sem nenhum equipamento ou comida, Lucas correu morro acima, já mais descansado. Torcia para que o velho Jon estivesse desmaiado, ou distraído com sua dor, por tempo suficiente para que o estagiário conseguisse escapar com vida.

Chegando no topo, por sobre a cachoeira e de frente para o vale, viu que o rio corria ferozmente por muitos quilômetros adiante. Olhando para o sul, muito longe, estava a cabana na clareira, no topo de uma pequena colina. Decidiu averiguar o que tinha logo atrás, e viu que o rio deslizava menos feroz conforme se aproximava da montanha, a poucos quilômetros dali, mais ao norte. Escolheu seguir por este caminho para tentar atravessar o rio em algum lugar mais raso e seguro.

Olhando a Natureza pelo caminho, Lucas percebeu que a Floresta Negra era um lugar muito bonito, com árvores exuberantes e frondosas. Pássaros silvestres e coloridos voavam para lá e para cá, e também cantavam, trazendo uma paz estranha para aquele lugar maldito.

Lucas estava faminto. Sentia seu estômago colado nas costas, de tanta fome. Daria tudo por uma lasanha ou pizza com queijo bem derretido. Podia quase sentir o cheiro do seu desejo por alguma coisa que pudesse mastigar e engolir.

"Por que faltei à oficina de sobrevivência?" Pensou, com raiva de si mesmo.

Lembrou de seus colegas de faculdade comentarem sobre um fungo comestível, chamado auriculária. Só que comer cogumelos na floresta era perigoso, pois grande parte dos basidiomicetos carregam alcaloides alucinógenos, muitos deles até mortais.

"Eu tenho que comer alguma coisa! Mas o quê?"

Olhou para as árvores ao redor, porém, não encontrou um fruto conhecido sequer.

"Se, ao menos, eu soubesse caçar..."

Tentou pegar um pequeno lagarto com as mãos, mas foi deixado para trás facilmente. Perderia a corrida até mesmo para uma galinha. Tentou agarrar um filhote de peixe no rio, mas também não conseguiu. Sentiu-se fracassado e faminto.

Com calor e desanimado, sentou-se encostado no tronco de uma velha árvore, à sombra. Não havia sol, mas o mormaço, apesar de toda aquela caminhada, parecia não ter fim. Além da desnutrição, perdia água e minerais pelo suor. A floresta estava matando-o aos poucos.

Lucas nunca pensou que se meteria naquela situação. Ele nunca imaginou que ser um estagiário poderia ser algo tão perigoso.

Exausto, decidiu repousar um pouco sob a sombra da velha árvore. Observando ao redor, percebeu que na base do tronco haviam cogumelos pequenos, numa quantidade suficiente para aliviar sua fome desesperada. Entretanto, Lucas não tinha certeza se eram comestíveis.

Ele já estava ficando tonto e incapaz de raciocinar direito. Só pensava em abrir os lábios e preencher o vazio que havia na sua barriga. Num ato quase reflexo, pegou um punhado de cogumelos na mão e pôs na boca, mastigando e engolindo seco, na ânsia de forrar o seu estômago.

No começo, sentiu uma espécie de satisfação momentânea. Porém, logo depois, ele ficou muito enjoado. Sentiu vontade de vomitar, mas não conseguiu. Após alguns minutos, começou a ver luzes e formas, como se tudo estivesse se mexendo de uma maneira muito bizarra.

O jovem, transtornado, levantou-se e saiu a esmo, andando sozinho pela Floresta Negra.


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O que vai acontecer com Lucas nesta viagem alucinante pela escuridão da floresta?

Qual será o seu próximo desafio de sobrevivência?

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Aos leitores e amantes de suspense sombrio, espero que estejam apreciando esta obra criada com muita dedicação para o entretenimento de vocês. Agradeço imensamente a todos que vem me acompanhando nesta aventura!

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