Capítulo 13 - ÀS PORTAS DO INFERNO

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Tudo girava e se mexia, como uma aquarela se esvaindo em tinta. Não tinha como saber onde estava. Parecia que a floresta sinistra mudava de forma à medida em que avançava, e aquilo se tornava um thriller de horror que não acabava mais. Achou que ia enlouquecer.

Estava escurecendo, e Lucas não tinha mais lanterna ou equipamentos. Estava completamente só no meio daquela natureza obscura e mortal. Perdera todos os membros da sua equipe. Vira seu chefe morrer abatido como um animal indefeso. Ele acreditou que ia morrer ali mesmo, abandonado, longe de tudo e de todos. Agora, sentia-se ferrado de vez.

Chegou um momento, após o crepúsculo, em que havia completa escuridão. Conforme caminhava sem rumo, começou a sentir que estava sendo perseguido. Havia uma forte presença ao seu redor. Ele temia que o Velho Jon o pegasse naquela condição. Seria como matar uma mosca tonta sobre a mesa.

Correu, cambaleante, pela mata sombria. Teve a sensação de que a própria floresta o estava vigiando, abrindo caminho enquanto avançava. Sentiu teias de aranha grudarem no rosto, colando nos cabelos, braços e roupas. Se debateu histérico, pois temia as aranhas.

A luz do luar entrava timidamente pelos espaços entre as copas das árvores. Mesmo assim, não conseguia enxergar um palmo à frente do nariz. Pra dizer a verdade, ele via sombras dançando e imagens confusas, difusas, tomando formas bizarras e assustadoras. Estava ofegante, apavorado, em verdadeiro pânico. Sentia que algo muito ruim estava para acontecer.

Os minutos se passaram feito horas, e não sabia mais se o que sentia era o horror ou se já havia se acostumado com aquela sensação de pânico constante, de boca seca e pupilas dilatadas, de coração acelerado e de sensações bizarras. Os sons ecoavam alto aos ouvidos, e as árvores projetavam-se como braços monstruosos tentando pegá-lo.

Não sentia mais as próprias pernas. Desnorteado, tropeçou em uma raiz, caindo estatelado de bruços.

Sentiu o gosto de terra e sangue em sua boca. Queria chorar, mas estava desidratado o suficiente para não correr uma lágrima sequer. Se sentiu o mais sujo e fracassado dos mortais. Poderia morrer ali mesmo, pois pensava que ninguém se importaria. Estava tão frustrado e fora de si que chegou quase a desejar a própria morte. Mas algo, de repente, chamou-lhe a atenção.

Abriu os olhos na escuridão e percebeu pequenas luzes, que piscavam de vez em quando.

Não eram vaga-lumes. Eram como olhos atentos, pequenas esferas douradas refletindo a lua que despontava no céu. Estava numa trilha de animais e percebeu, em seus devaneios, que vários olhos o observavam ali, estendido no chão.

No início, achou curioso mas, ao longe, um par de grandes olhos veio se aproximando, sorrateiramente, e Lucas teve um surto de pânico. Ele quis se levantar e sair correndo, mas seus membros não obedeciam mais. Pensou que iria morrer. Malditos cogumelos.

O vulto negro de olhos dourados aproximou-se mais um pouco, sem revelar a sua forma. Apenas duas esferas brilhosas fitavam Lucas ao longe.

Lucas sentiu uma vertigem, uma tontura, com tudo girando como um vórtex. Ouviu uma voz sussurrar em sua mente:

"Quem és tu que desbrava da floresta os confins? Não temes encontrar o teu fim?"

O jovem estagiário pensou estar sonhando ou tendo alucinações. Só conseguiu juntar forças para dizer:

"Água..."

Com a mente confusa, sentiu várias mãos pequenas e geladas tocarem seu corpo, virando ele de posição. Ficou de barriga para cima. As mesmas mãos frias ergueram sua cabeça e derramaram água em sua boca. Ela tinha um sabor diferente, mas muito refrescante. Bebeu como se fosse a última vez.

"Quem és tu que da floresta desbrava os confins? Não tens medo de encontrar o teu fim?" Sentiu de novo a voz distante sussurrar em sua mente.

O jovem estagiário começou a se sentir melhor. Conseguia balbuciar um pouco mais claramente as palavras, enquanto aqueles olhos giravam ao seu redor.

- Eu sou Lucas... eu não quero morrer...

Os olhos maiores o fitaram, agora imóveis, e a voz sussurrante parecia mais próxima e clara:

"O que queres na escuridão, já que temes a morte, então?"

- Eu vim aprender, mas fui enganado... quero voltar pra casa!

"Tiamat foi despertada, a morte e o fim ela traz. Ajude-nos a derrotar o monstro, e para todos haverá paz!"

- Quem são vocês? - perguntou Lucas, tentando focalizar a imagem dos olhos, que se duplicava à sua frente.

"Nós somos da Floresta Negra, os Guardiões do tesouro mortal. Derrote quem traz a cobiça e o protegeremos de todo o mal!"

- Peraí! Querem que eu mate aquele monstro, sozinho? - O jovem riu, só poderia estar delirando.

"Durma, descanse, amanhã começa o desafio. Cumpra com este acordo e encontrarás a saída ao final do rio!"

- Acordo? Que acordo? Eu...

E sua visão foi coberta pela total escuridão.


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Então, caros leitores? O que são os olhos que espreitam Lucas entre as árvores da floresta sombria?

Como ele vai sair dessa louca viagem para encontrar o seu caminho de volta, ainda vivo?

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