Capítulo 22 - CALVÁRIO

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Atordoado pela dor e pela exaustão, não conseguiu distinguir as palavras que ecoavam difusas pela mata chuvosa. Os pingos pesados caíam sobre as folhas da floresta, provocando um barulho alto e confuso.

As lágrimas e as gotas de chuva deixaram sua visão turva, impedindo um vislumbre mais claro à sua frente. Mas tinha certeza de que ouvira um chamado. Eram vozes que ecoavam por dentro da floresta.

Num lampejo tímido de esperança, mudou de ideia e decidiu arrastar-se em direção às vozes. Um pequeno resquício de vontade reacendeu-se no fundo do seu ser, e Lucas focou toda a energia que ainda habitava as células de seus músculos na tentativa de se mover. Avançou mata adentro, lentamente, cravando os dedos da mão de seu único braço móvel na terra e empurrando o peso do corpo com os pés. Sua barriga raspava na lama escura do solo e seus cabelos sujos sobre o rosto ferido denunciavam sua situação deplorável.

Lucas deslocava-se feito um verme humano, imundo, enfrentando os obstáculos que se projetavam do solo entre os troncos e arbustos da mata sombria. Sentiu o gosto da terra em sua boca, e o frio doía-lhe nas pontas dos dedos das mãos e dos pés, já quase dormentes. A respiração falhava, e sentia que o diafragma relutava em responder-lhe ao fôlego. Estava bem perto de desistir.

Foi quando, ao longe, avistou uma luz distante e teve a impressão, em meio ao seu delírio, que a própria mata se abria diante de seus olhos. A luz pareceu se multiplicar e os sons tornaram-se mais audíveis. Era como se seu corpo fosse arrastado, involuntariamente, em direção aos barulhos e imagens que se formavam diante de si.

Por um momento, conseguiu distinguir vozes e gritos que se misturavam ao som contínuo da chuva:

- Professor Rodrigo?!

- Bertran! Gael!

As luzes se aproximaram cada vez mais. Dentro da mata, percebeu que os pontos luminosos pareciam lanternas carregadas por homens vestidos com roupas de campo e chapéu vermelho. Eram bombeiros de uma equipe de resgate.

Lucas queria gritar, mas não conseguiu. A voz não saía mais de sua boca e os músculos já não mais obedeciam. Teve um medo desesperado de passar despercebido, aos olhos da patrulha de bombeiros, e não ser encontrado. Depois de tudo o que superou para chegar até ali, perder esta última oportunidade de ser salvo parecia algo totalmente sem sentido.

Em desespero, juntou toda a força que lhe restava e usou o último resquício de energia para erguer sua mão suja de lama e sangue. Era a última chance que lhe restava. Havia apostado a sua vida neste último ato.

Quando tudo parecia perdido, inesperadamente, as luzes apontaram na sua direção.

- Ei, vejam! Tem alguma coisa se mexendo lá dentro da mata!

As lanternas se aproximaram e apontaram para o seu rosto, que estava irreconhecível. Seus olhos e boca se abriram, mas não emitiram um som sequer. Era um moribundo a apenas um passo da morte.

- Sargento! Tem um homem aqui! Ele está vivo!

Lucas ainda conseguiu sorrir, antes de perder a consciência e apagar, subitamente.


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Olá, caros leitores de Floresta Negra!

Depois de tanto sofrimento, privações e desafios mortais, o jovem protagonista Lucas escolheu seguir a floresta e encontrar o caminho de volta. Será que ele realmente vai conseguir sobreviver e retornar à sua vida como um pacato estagiário na Universidade?

Acompanhe o desfecho a ser publicado na semana que vem e descubra como esta história termina no Epílogo de Floresta Negra!

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