Ele riu baixinho, abaixando a cabeça e olhando para os seus dedos, olhei para eles também, sem saber o que dizer ou o que fazer. O nervosismo corroendo o meu corpo e a vontade de tocá-lo quase fazia o meu corpo tremer.

- Deveria - Ele disse simplesmente, pausando para respirar profundamente. - Mas como ontem era domingo... eu não pude te dar um presente.

Eu ri baixinho.

- Eu te disse que não queria um presente - Falei tímido. Ele levantou a cabeça e me olhou, logo em seguida abrindo sua mochila e tirando um embrulho de lá. Eu sorri. Era um livro. Ele me conhecia tão bem. Eu sorri mais ainda ao ver qual livro era. O último livro da saga dos corvos. O único que faltava para eu ler. Ele sabia de todos os livros que eu lia e era fácil pra ele saber qual eu iria querer. - Eu adorei, obrigado Magnus.

Ele sorriu, ele sabia que eu realmente tinha adorado. Com cuidado, coloquei o livro dentro da minha mochila e arrumei os meus óculos, sentindo os olhos dele presos em mim.

Ficamos em silêncio. Não tínhamos o que falar. Ele apenas batucava os dedos na mesa de uma forma nervosa e eu os encarava. Ele não tinha nada a dizer, ou talvez tivesse muitas coisas a dizer, e não sabia como agir. Eu o conhecia muito bem, sabia como ele era.

- Por que não está com seus irmãos? - Ele disse baixinho, parando de batucar a mesa e levantando os olhos para me ver. Eu sorri.

- Eu estava de vela - Digo dando de ombros, mais uma vez arrumando meus óculos. Ele sorriu triste. A resposta pareceu cala-lo. - E eu esperava que eu pudesse ver você antes da aula também.

Ele sorriu com a confissão. Fechando os olhos por alguns segundos apenas para respirar profundamente. Estávamos nos perdendo, eu sabia disso. Estávamos jogando isso por dois anos. Não era fácil, era muito difícil, e estávamos nos afastando cada vez mais todos os dias. Eu sofria tanto com isso. Tínhamos prometido não nos afastar. Nós não tínhamos nada. Não podia cobrar nada dele. Apenas tínhamos os nossos sentimentos jogados na mesa. Não nos beijávamos, não nos tocávamos, apenas conversamos. E isso está acabando. Antigamente, era fácil falar com ele sobre qualquer coisa. Agora, é difícil. É estranho. Mas ainda estamos aqui, lutando contra esse espaço entre nós. Magnus é meu professor, tem sido meu professor a dois anos. Ele também é maior de idade, tinha 25 anos. Quando nos conhecemos éramos apenas aluno e professor. 15 anos e 23 anos. Não tínhamos sentimentos, ou achávamos que não. Até que alguns meses atrás nós confessamos o que sentíamos e tudo parecia estar mudando aos poucos. Eu não poderia ficar com ele, não agora. Eu ainda sou menor de idade e com essa distância ficando cada vez maior eu duvido que possamos tentar algo quando eu for de maior.

- Eu estava te procurando, na verdade - Ele disse baixinho. Ele brincava com os seus próprios dedos e eu o encarava. Os olhos verdes tinham um brilho confuso, a pele dourada estava brilhando com a luz da janela. Os cabelos negros estavam lindos, arrumados do jeito que eu gostava. - Também queria te ver antes da aula.

Ficamos em silêncio, aquele silêncio novo que nenhum de nós sabia o que dizer para quebra-lo. Ele voltou a batucar os dedos na mesa e eu fiquei levemente irritado com o barulho.

Segurei a sua mão, o impedindo de continuar.

- Pare com isso - Eu digo, me referindo ao barulho. Ele apenas olhou para nossas mãos. Um calor percorria todo o meu corpo e tocar a sua mão estava queimando a minha pele. Ele também não parecia estar diferente, olhava para as nossas mãos com um brilho no olhar.

Magnus não disse nada, ele apenas arrumou a sua mão na minha, entrelaçando os nossos dedos. Isso fez eu sorrir pequeno, quase chorando. Talvez nós conseguíssemos, no final de tudo. Talvez nós somos fortes o bastante para passar por isso. Eu queria acreditar que nós somos. Em silêncio, eu acariciei sua mão, sentindo aquela corrente elétrica percorrer o meu corpo, eu sentia aquilo apenas com ele e não precisava olha-lo muito para saber que ele sentia aquilo apenas comigo também. Eu via na sua feição. Ele sorria olhando para as nossas mãos, seu peito subia e descia mostrando sua respiração descompassada. Meu coração estava saindo pela boca. Como poderia me sentir assim apenas por tocar a mão dele? Imaginei como seria se eu pudesse abraça-lo. Não tenho certeza se eu poderia sobreviver a um abraço de Magnus. Eu estava a ponto de desmaiar agora, apenas segurando a sua mão. Se eu abraçasse ele, poderia morrer. E eu não acho que estou sendo dramático.

O sinal tocou, fazendo eu dar um pequeno pulo na cadeira, ele me olhou com os olhos brilhando e riu. Lentamente, ele afastou a sua mão da minha e eu me senti vazio. Ele suspirou, sabia que ele também queria o toque de volta.

- Tenho que ir dar aula - Ele disse baixinho, ainda sentado na minha frente. Eu sorri e balancei a cabeça concordando.

- E eu tenho que ir assistir a sua aula - Digo, ele deu de ombros. - Obrigado pelo livro.

Ele levantou.

- Eu gostaria de poder te dar mais do que isso - Ele falou. E eu sabia que não estava se referindo ao livro.

Eu queria chorar. Queria correr até ele. Mas ao invés disso, apenas suspirei e sustentei o pensamento de que iríamos passar por isso e então fui para a sua aula. Assisti Magnus graciosamente dar sua aula de inglês e anotei tudo que precisava. Odiando a mim mesmo por não querer ser apenas mais um aluno dele. Por não poder dizer ao mundo que era mais que isso.

This Love (Malec)Where stories live. Discover now