Prólogo

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São Paulo, 19 de maio de 2018

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São Paulo, 19 de maio de 2018

Era cerca de quatro horas e meia da manhã quando Bernardo e seus amigos saíram da balada; o rapaz de vinte e dois anos recepcionou com satisfação o vento gelado da madrugada que acariciou seu rosto. O interior do estabelecimento estava tão quente, em razão da lotação, que poderia ter sido facilmente confundido com uma sauna.

— Essa balada é uma bosta mesmo – resmungou Lucas, lançando um olhar contrariado por cima dos ombros – A gente nunca mais vai voltar aqui.

A verdade era que eles tinham acabado de ser expulsos do estabelecimento pelo próprio dono, depois que Lucas entrou em uma discussão desnecessária com o segurança. O rapaz, que tinha um temperamento explosivo, irritou-se quando o funcionário do estabelecimento não quis permitir que ele usasse uma lata de lixo para bater em um homem que havia esbarrado nele enquanto dançava na pista.

Situações como aquela eram comuns quando os quatro saíam. Bernardo, cuja personalidade conciliadora não combinava com situações de conflito, assistia constrangido enquanto os outros três amigos, bêbados e alterados, metiam-se em brigas sem qualquer motivo aparente. O rapaz já tinha perdido a conta de quantos estabelecimentos haviam sido expulsos nos últimos anos.

Não que seus amigos parecessem se importar. Sempre haveria algum outro estabelecimento na cidade de São Paulo que estaria disposto a aceitar os três como clientes, contanto que o dinheiro da família deles os acompanhassem.

— Bem... e agora, então? – Perguntou Alexandre, que demonstrava um pouco de dificuldade para se equilibrar sobre as pernas bambas. – Eu não quero voltar para casa. Fui aprovado para o curso de verão em Harvard, caralho! Quero comemorar!

— Você quer ir para outra balada? – Bernardo perguntou, pescando o celular no bolso da calça para procurar por alguma outra opção na região.

Sem qualquer dúvida, Alexandre era o líder do grupo, e Bernardo o considerava o seu melhor amigo, mesmo que não tivesse certeza se o rapaz se sentia da mesma forma. Afinal de contas, a amizade entre eles não fazia o menor sentido; enquanto Bernardo era tímido, reservado e ficava desconfortável perto de pessoas desconhecidas ou mulheres por quem se sentisse atraído, Alexandre era um homem confiante, extrovertido, adorado por todos e divertido.

Suas famílias eram provavelmente o único motivo pelo qual os dois eram amigos; eram filhos dos sócios da Construtora Pereira & Pedroso e, por isso, cresceram brincando juntos e permaneceram unidos desde então, pelo que Bernardo era extremamente grato. A vida parecia sempre mais fácil quando estava com Alexandre.

Quando tinha quinze anos, o rosto de Bernardo ficou coberto de acne e todos os outros estudantes pegavam no seu pé e ele, que já era tímido, viu-se sem amigos, a não ser por Alexandre, que continuava a andar com ele e, quando estavam juntos, ninguém mexia com Bernardo.

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