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Mal deitei na cama, me escondi por debaixo do lençol e comecei a digitar.

Rafaela: Oi, Vinícius?

Ele respondeu quase que imediatamente.

Vinícius: Olá.

Vinícius: Eu nem estava ficando paranoico a respeito de, talvez, ter estragado tudo por ter te beijado quando a gente ainda mal se conhece, mas beleza.

Vinícius: Feliz que você entrou em contato.

Não resisti rir, mesmo tendo sido lembrada de que ele beijara minha irmã.

Rafaela: Estou escrevendo pra dizer que você estragou tudo por ter me beijado quando a gente mal se conhece.

Vinícius: :|

Rafaela: Zoeira.

Inspirei fundo e me preparei para falar o que eu queria falar.

Rafaela: Você por um acaso está preparado para textão? Porque lá vem textão.

Vinícius: E agora nem estou ficando preocupado.

Rafaela: Relaxa. Não tem nada a ver com você. É só uma coisa que eu queria compartilhar.

Vinícius: Ah!

Vinícius: Manda.

Abri e fechei os dedos de uma mão, como se estivesse me aquecendo, e aí disparei.

Rafaela: É só meio que uma história estúpida de quando eu era criança.

Rafaela: Acho que eu estava, o quê, na quarta-série?

Rafaela: Só sei que eu tinha combinado de ir para a casa de uma amiga fazer um trabalho da escola com uns outros colegas. A gente precisava fazer uma maquete pra Feira de Ciências, alguma coisa sobre plantas medicinais. E eu tinha que decorar uma quantidade RIDÍCULA de informações a respeito das propriedades medicinais do Alecrim e da Erva-Doce e, por fim, ninguém se importava se um era bom para artrite, pé-de-atleta e pano branco e outro para sinusite, rinite e outros 'ites'. Só ficavam impressionados que uma garotinha de nove anos tinha decorado tudo aquilo. Mas, não é sobre isso o que eu queria falar.

Rafaela: Enfim... Naquela noite, meu pai voltou extremamente agitado para casa. Ele tinha visto alguma coisa acontecer na praia e não quis contar pra gente. Só sei que ele me proibiu de sair de casa. Eu chorei tanto. Como se minha vida tivesse acabado. Eu não conseguia parar de pensar na vergonha que eu ia sentir no dia seguinte na escola, de admitir que meu pai era um lunático impulsivo que me proibia coisas, assim, sem motivo.

Rafaela: Eu posso ou não estar chorando. Mas eu sou dramática desse jeito mesmo.

Rafaela: No dia seguinte, na escola, ninguém nem prestou atenção em mim. Não quando a diretora surgiu na nossa porta pálida como um fantasma e os olhos inchados. Ela disse: Aconteceu um acidente. Parece que um dos garotos estava brincando com a arma do pai da Bianca. A arma disparou. A Bianca foi atingida...

Vinícius: Meu Deus.

Rafaela: E eu acho que ela não falou o resultado disso tudo, mas de alguma forma todos nós sabíamos. Foi o dia mais chocante da minha vida.

Vinícius: :|

Rafaela: Depois disso comecei a ter a palavra do meu pai quase como uma sentença divina. Ele era minha luz, meu guia, a bússola para os meus dias. Era como se ele tivesse salvado minha vida.

Prove que não é um robô (conto)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora