O salto

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Sam olhou para baixo tentando não pensar em quantos metros a separavam do chão. O vestido vermelho dobrado com esmero esvoaçava levemente com o movimento do vento, a bolsa dourada repousava sobre o papel. Ela não ousou abrir a carta e isso a tinha levado até ali.

Olhou para si, calçava apenas os sapatos vermelhos com saltos tão altos que quase interromperam seu percurso escada acima.

Alguns passos mais, vislumbrou a água límpida que mal se movia, era chegado o momento. Inspirou o ar gelado da madrugada e não ousou fechar os olhos. Com um grito embolado na garganta, pulou. O vazio morno, a liberdade salgada e o arrependimento amargo a abraçaram de supetão.

A dor veio profunda, congelante e lhe roubou a consciência por segundos.

O instinto a fez agir sozinha, mãos e braços desorientados a levaram até a superfície e quando percebeu o ambiente ao redor, ouviu palmas ao longe.

- Me chama de covarde novamente. - falou batendo os dentes.

Um corpo tomou forma na escuridão junto a uma risadinha debochada.

- Então abre.

Sentindo a adrenalina correndo pelo corpo saiu da piscina, ignorou o desafio para abrir a carta e foi em direção ao homem que a lambia com os olhos e sem receio de ter o corpo exposto daquela forma, o surpreendeu com um beijo. Sua pele gelada aqueceu e ele estremeceu mal sabendo que teria que entrar na água para recuperar os sapatos vermelhos. Ele lhe devia uma dança. Aposta é aposta.

Berenice e outros contosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora