Rito 1 - Capítulo 2

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Saindo do hotel lembrei de que não estava de carro, a essa hora provavelmente ele já estava na porta da minha casa. Fui para o ponto de ônibus, peguei o primeiro que passou, este ônibus percorria por quase todo o centro da cidade antes de entrar na área residencial. Vi pela janela, a boate que estive na noite passada, foi como um baque na minha nuca que me derrubasse, a lembrança da noite passada me trazia memorias do acontecido com Sara e aquilo era doloroso. Sara não fora a primeira pessoa que morreu em "meus cuidados", na verdade, a primeira vez foi há 10 anos atrás, quando eu tinha apenas 17 anos, quando eu me deparei com meu primeiro caso de possessão, eu era inexperiente e não conhecia muito as técnicas da expulsão. O primo da minha melhor amiga de infância, Layla, estava possuído, o garoto tinha apenas 8 anos de idade e não suportava um demônio tão poderoso quanto o que havia dentro de si. O resultado foi uma disfunção múltipla de órgãos. Descobri depois que estava relacionado ao tempo em que o garoto carregava tamanho poder em um corpo muito jovem. Os demônios sabem disso e dificilmente encontram crianças fortes o suficiente para habitarem, então percebi que faziam isso por maldade. Me indignei e assim comecei minha caçada por esses seres malditos. Tive que estudar bastante para me tornar melhor na área.

Meus pensamentos viajaram tanto que quando voltei minha atenção para os prédios ao meu redor vi uma enorme faixa preta balançando na Build Corporation. Só poderia ser por causa da morte de Sara. Havia em frente ao prédio várias flores e fotos, desci do ônibus rapidamente, aproveitando que ele tinha parado para algumas pessoas, fiquei a observar as fotos de Sara, cercada por colegas de trabalho. Também várias notas de pêsames e amor, dizendo quão maravilhosa era. Aquilo me pesou ainda mais, peguei meu celular para saber as horas, vi que haviam 5 chamadas da moça que havia ligado no dia anterior, ao apertar para ouvir a mensagem da caixa postal, pude ouvir apenas 2 segundos de pura gritaria e seu celular apagou, estava sem carga alguma. Eu sabia que se fosse andando levaria ao menos uma hora para chegar na casa onde Pedro estava, porém não me importava mais, caminhei até lá, pensando ainda na vida de Sara, e como a vida de Pedro agora poderia estar em minhas mãos também.

***

Estava demorando um pouco para achar a casa de Pedro e sua família, com o celular desligado eu havia esquecido o número da casa, porém percebi, que naquela vizinhança, de casas arrumadas, gramado baixo, tudo limpinho, a casa de Pedro seria justamente a de grama por cortar, jornais e cartas espalhados perto da entrada e um carro enorme e pra lá de sujo, comparado aos outros estacionados na rua. Bati a porta e uma senhora baixinha, com traços orientais se apresentou com lágrimas em seu rosto.

—Senhor Travis, perdão, tive que chamar outra ajuda, o senhor não me atendia e Pedro ficou bastante agitado. – Disse a senhora afastando um jarro de rosas de cima da mesinha ao lado da porta.

Pedi licença e entrei em sua casa mesmo assim. Avistei um velho senhor que tinha aparentes problemas de saúde, ele possuía cabelos grisalhos e traços orientais, estava sentado, imóvel, em uma cadeira. Ela havia me avisado que Pedro possuía 26 anos de idade então associei aquele senhor como sendo pai, ou talvez avô de Pedro. A senhora me ofereceu um chá e começou a falar sobre o ocorrido com seu filho, de como ele sustentava a família desde o derrame de seu pai, e que no último mês ele tinha ficado até mais tarde no trabalho para uma reunião, então começaram os comportamentos estranhos, eu a interrompi falando:

—E então a senhora chamou padres, pastores, médicos, psiquiatras, especialistas e nenhum deu jeito?

—Exatamente, chamar alguém como o senhor era minha...

—Última esperança? – Completei, sentindo um peso maior em minhas costas.

—Sim, mas como o senhor não me atendeu tive que apelar para outra pessoa, perdoe-me fazê-lo perder seu tempo.

PossessedWhere stories live. Discover now