Rito 1 - Capítulo 1

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—Parece que dessa vez você não vai conseguir, meu caro!

Ao ouvir aquilo eu estremeci, estava quase concordando com aquele ser. Eu estava muito assustado, não pelo fato de um demônio estar falando comigo, ou por esse demônio estar no corpo de uma jovem advogada e sua família ter confiado a tarefa de expulsá-lo, a mim, muito menos por tudo naquela noite gritar obscuridades. Mas sim pelo fato de que minhas forças se esgotaram e eu estou à beira de um desmaio.

A cruz de madeira havia se quebrado. A bebida santa não causou efeito nenhum sobre o espírito. E nem mesmo o sinal de sangue cravado em minhas mãos conseguiram absolver a ira desse demônio. Eu não podia imaginar o que Sara, a jovem advogada, possa ter feito para atrair tanta maldade e poder para tão perto de sua alma. Eu lembrei que no catolicismo os exorcistas perguntam o nome do demônio para possuir poder sobre ele. E mesmo não acreditando muito, era meu último recurso.

—Quem és tu? Diga-me teu nome! Lhe ordeno.

Não adiantava, tudo que a criatura fez foi rir, a voz estremecia o quarto, e a casa parecia sentir os tremores de forma mais moderada. A Sra. Mans, mãe de Sara, adentrou o cômodo e sua cara de desespero era maior. Pedi, quase que sem conseguir respirar, para que ela se retirasse, mas a mesma parecia não me ouvir.

Sara estava levitando, todos os machucados em seu corpo eram visíveis. A força inumana que o espírito possuía fez com que, apenas com suas mãos, partisse a cabeceira da cama em pedaços, jogando um contra mim e outro contra a mãe de Sara. A Sra. Mans desviou, pude perceber isso já caído no chão sujo do quarto de Sara. Minha visão estava turva, porém pude ver o momento em que Sara pegou um terceiro pedaço da cabeceira de madeira e cravou em si, na barriga, fazendo com que atravessasse seu corpo e saísse em suas costas. Nesse momento a Sra. Mans caiu, derrubando um jarro de rosas. Eu vomitei. Logo em seguida apaguei.

***

Era saída do funeral de Sara, assisti tudo do último banco da capela do cemitério. A culpa emanava meu ser, eu sabia que talvez pudesse ter feito mais, e ao mesmo tempo, não poderia ter feito nada. Me achava o ser mais inútil de todos. Conversei com os agentes funerários, e os entreguei quase todo o dinheiro que tinha para auxiliar no enterro de Sara, já que o dinheiro vinha da família Mans, que havia pago para que eu os ajudassem com a filha. Sara era uma advogada bem-sucedida, de apenas 26 anos. Fazia parte da Build Corporation, lidava com os problemas jurídicos dessa grande construtora. Há aproximadamente um mês, em uma reunião, passou mal, saiu de lá em um estado em que ninguém sabia o que poderia ser, e desde então foi apenas piorando, passando por diversos profissionais até o dia de seu óbito.

Caminhei rapidamente para meu carro e pude ver a família Mans chorando, lembrei de como eles me agradeceram por ter tentado salvar Sara, e aquilo não era suficiente para mim, eu gostaria de ajudá-los melhor, e não sabia como. Precisava esquecer o ocorrido, então escolho o auxiliar mais clichê de todos: o Álcool!

Existia um bar duas quadras depois do cemitério, ao tentar iniciar o meu carro, ele não ligava, era como se tudo funcionasse para que eu tivesse um dia ainda pior. Era gasolina! Eu havia esquecido de colocar, e não seria agora que iria fazer isso. Liguei para o guincho, pedi para que levassem meu carro para a frente de minha casa e que colocassem gasolina, passei o número do cartão, o serviço sairia mais caro, porém eu não queria que os pais de Sara vissem meu carro parado ali, como um lembrete da falha que tive sobre sua filha.

Caminhei até o bar, o dia estava muito frio e tudo que eu precisava agora era de sentir qualquer coisa esquentando meu estômago, porém ao chegar no local, estava fechado. Não sei se estava cedo para que o estabelecimento estivesse aberto, era fim de tarde e o sol estava prestes a se por. Sentei na calçada e decidi esperar, percebi que não tinha comido nada, apenas tomado um copo de café no momento em que acordei. Decidi ir até uma padaria uma quadra a frente, comi a primeira coisa que vi exposta no aquecedor. Era algo de frango, mas eu não conseguia sentir o gosto, era como se minha mente não se concentrasse nem mesmo no sabor do alimento.

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