Conto 29 - "A Noiva d'Água e o Capoeira da gruta"

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Baseado em fatos reais_A Noiva d'Água e o Capoeira da gruta.
Por Stephen Poe

...

Cangerê desde pequeno dominava a arte do espancamento. Um capoeira que matou à navalha, co'a meia lua rodada, no pescoço dum valentão, por violar uma irmã da causa, portanto sendo de cor. Na época capturado, lixado e levado à prisão; certo dia escapou feito quiabo e pelas sombras de modo que tão cedo deram falta. Pulou sabe-se como do muro pro barranco, começando a virar lenda.

Todavia, ficara à meses morando atrás duma queda dágua, numa cachoeira afastada do distrito. A seis meses foragido, pela estrada de terra, sobrevivia...Dos leites à frente das fazendas, da pesca e pomares de frutas... muita jaca, manga , goiaba e fruta pão.

Na gruta todos os dias, por todo aquele tempo treinava e recebia a visitas de hora marcada... até a coisa desandar.

Morena de cor morena...puxada pra jambo, quase vermelha... a pele muito lisa e cheirando à cachoeira... o cabelo era escorrido, rescendia a mato cheiro de flor. O corpo era um desenho feito à mão de homem feito. Seus peixes soltos na blusa branca, sempre branca de linho decotada.

E assim enfeitiçava o capoeira... pegaram-se amantes, mas nunca evoluindo a partir do beijo... após deitados Gerê sempre adormecia. _ Nunca perguntando-a, porque isso acontecia. Tinha devaneios... a ponto de banhos intensos de madrugada...de maneira que via teus seios... cabelo e anca empinada, nas sombras na parede... na chama crespada da fogueira.

E num dia a lhe ocorrer, que nunca perguntara o nome dela; dos fundos da gruta, a mesma saindo retirou-se... sorriu-lhe e mergulhou pelo véu da queda d'água. E intrêmulo ficara o capoeira, que nem a perguntou como havia entrado. Se quer perguntaria pelo nome.

O tempo passava e ele nunca a perguntava e também nunca rompiam limites antigos... os famigerados: finalmentes. Ele sempre dormia e sem ela acordava. Até que um dia apareceu-lhe a morena, numa pedra à direita bem acima e sentada, acima de sua cabeça... O sol na água, visitava-lhe às coxas... ao meio a parte funda, tampava-lhe o vestido... Cangerê fixado, em nada dava tino ao que por ela era falado... tendo os olhos como apáras às coxas almofadas... apenas concordando - até que desperto fora, por sua inédita risada. E sumiu.
E o capoeira amedrontado, ardia em dobro em seu desejo.

A queimar energia, só mesmo não deixar morrer os movimentos. Por sobre o pedrão da gruta, treinava capoeira fazia seus gingados...De lá mesmo mergulhando, sempre ao fim da prática. Porém naquele dia a morena apareceu-lhe e disse-lhe seu nome: "Badu". Estando num extenso vestido de noiva. Disse que iriam se casar. Talvez foi o que disse-lhe ou tentou dizer-lhe dias atrás com as coxas entreabertas...

E Gerê que a queria como nunca a teve antes, disse sim rapidamente e sem pensar. E com uma alga de água doce ela mesmo selou suas mãos, por fim a união, casados. Gerê então a pega no colo e pula do pedrão, a mulher soltara um grito que assustara toda mata

Imersos, Gerê finalmente a enxerga: toda em ossos, esquelética. E se aparta a nadar e a correr em grito.
Por cima, à folha da água... a "noiva" chorava um pranto cálido... gemia doído, estendia-o os braços... dava pena.
e Gerê era só um pensamento: Queria fugir, sair do distrito... sabia que como fugitivo haveria resistência. E lá estava ele, foragido que espancara em fuga, cerca trinta e quatro homens, sendo quinze só do quartel local... Todos a sua frente tomaram corpo, chicote de pé e até cabeçada... surrou a todos entre ele e a ponte, que dava acesso para fora do distrito.

E então frente à ponte ( na época de tábua ) , toda aquela geração... os surrados daquela cidade; juraram tê-la visto numa assombrosa aparição... na outra ponta da ponte, a Noiva da gruta o esperava. Naquele instante, entre a noiva da gruta e entre os homens que espancou... aterrorizado quis safar-se num mergulho da ponte...Mas uma ponta de corda o embaraçou na queda, improvisando um laço. No ar, um estalo... um corpo pendurado.

Autoridades na época nada souberam informar sobre o tal capoeira; ou do que restou dele. Seus bolsos sem documentos. Sua alma e água do corpo, pareciam sugadas. E em nenhuma das mãos, não haviam digitais.

Nos arredores e em dias de casamento... ambos ainda aparecem de mãos dadas, caminhando nas estradas de chão.

PS: Baseado em fatos reais.

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