Conto 28 - "PARAÍSO DOS MORTOS"

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PARAÍSO DOS MORTOS - - “S01E01 - SÚBITO”

No dia 24 de setembro de 2012, desde o final da tarde passando por toda a madrugada, o índice de denúncias feitas às forças emergenciais cresceu desesperadamente. As linhas telefônicas ficaram congestionadas por horas. No começo, mais pareciam trotes, daqueles feitos por um bando de desocupados, mas seria necessário um grupo muito grande para causar tanta bagunça. Muitas ligações foram recebidas neste dia, mas devido a má descrição dos eventos, algumas eram reportadas e outros não.

Diversos casos eram relatados. Atos de vandalismo, roubos, até estupros e sequestros, coisa que não acontecia com tanta frequência. Não se sabia ao certo o que realmente estava ocorrendo. A maioria dos casos registrados envolviam agressão e canibalismo, parecia que todos haviam enlouquecido ao mesmo tempo. O estranho é que todas as primeiras denúncias vinham das regiões litorâneas da cidade maravilhosa, Rio de Janeiro, mas já estavam se expandindo para outras regiões.

Os casos relatados eram tão grosseiros que não deveriam ser problema para as competentes e bem treinadas forças policiais, porém a quantidade de ocorrências assustou a todos. As autoridades começaram a trabalhar com a hipótese de que facções criminosas estavam novamente se unindo para realizar ataques, na intenção de assustar e intimidar a população. Até mesmo as forças armadas foram acionadas, soldados e tanques de guerra foram mobilizados na luta contra o suposto crime organizado. Mas não era isso. Ninguém nunca poderia imaginar o que estava chegando.

Faz uma semana que tudo aconteceu. Os sete dias mais tenebrosos que alguém pode ter.

Se você já imaginou o inferno na terra, pode pegar o pouco de lucidez e coragem que lhe resta, destrancar a porta da sala, caminhar sobre cadáveres e comparar está intensa paisagem com seus pensamentos. Hoje os sobreviventes tentam viver nesse inferno, foi tudo tão rápido e devastador…

Não há energia elétrica, sinais de rádio ou esperança, nada funciona. Não há pessoas nas ruas, pelo menos não as normais. Até o terceiro dia era possível ouvir aviões e helicópteros rasgando o céu, hoje só se ouve gritos de desespero, dor, ódio, o pesadelo de viver dentro de uma fobia, o medo daquilo que vive fora de nossa mera realidade humana.

Não há muito que fazer… Apenas sentar, esperar e sobreviver.

Uma das muitas estranhas ligações feitas naquela noite – no primeiro dia de terror – levou uma patrulha policial para um conjunto habitacional na Rua Wilson Candy, dentro do bairro Parque das Cruzes.

O condomínio Meu Sol, também chamado de “Condomínio” pelos moradores, era um conjunto de casas antigas, 23 no total, cercado por um grande muro e tinha apenas uma entrada. Nela havia uma pequena guarita que costumava ficar vazia a maioria das vezes.

No “Condomínio” existia uma antiga padaria, que dizem estar lá mesmo antes da construção das casas, um mercado, uma banca de jornal, que só abre pela manhã, uma farmácia que vendia remédios pelo “olho da cara”, inclusive, todos brincavam dizendo que um funeral seria mais barato do que comprar os remédios, uma lan house, que era febre para os poucos jovens, e uma pequena praça (com quadra de futsal e aparelhos de atividade física). Nessa mesma praça, durante os fins de semana, comerciantes das ruas vizinhas montavam barracas de lanches e doces, fora os residentes que faziam serviços em casa como corte de cabelo, costura e conserto de eletrodoméstico, isso fazia com que seus moradores permanecessem dentro do conforto de seus lares e caso precisassem de algo que não tinha por lá, bastava caminhar por 15 minutos até o bairro vizinho, onde havia um centro comercial abundante. A maioria das casas do “Condomínio” necessitavam de reforma, mas todas eram grandes e confortáveis.

Em sua maioria os moradores eram idosos, aposentados que queriam apenas aproveitar o resto de suas fatídicas vidas em paz.

A 22º Delegacia de Polícia, mais próxima do local, enviou a patrulha após receber a seguinte ligação:

—Departamento de polícia. Boa tarde.

—Eu não tenho tempo pra essa merda, preciso de ajuda agora.

—Senhor, por favor, mantenha o decoro e me informe sua atual situação.

—Eu não aguento isso cara, eu não sei se vou me segurar, ele matou minha mãe cara, ele mordeu o pescoço dela e começou a… Ah, caralho, porra, que merda! Eu matei ele, eu matei ele porra, eu matei esse filha duma p…

—Senhor!! Por favor, acalme-se e me informe a sua localiz…

—Eu não tô me entregando cara, eu quero ajuda, ela tá tentando me matar. Eu não sei como ele… Ela tava morta há cinco minutos e depois levantou vindo na minha direção. Eu a abracei e ela me mordeu, aquela vadia me mordeu, isso dói mui…

—Senhor me diga o q…

—Ahhhhhh, ahhhhhh nãoooooooooooooo!!!

A ligação foi feita às 19 horas e 38 minutos. A patrulha não foi enviada para investigar um possível assassinato, já que poderia ser trote. Mas após rastrear a chamada, descobriram que o número pertencia a um ex-policial do próprio Departamento que havia acabado de se aposentar. Diante dessa informação, acharam necessário averiguar a situação e enviaram uma patrulha para sua última ronda.

Continua…

-paraiso dos mortos

Relatos do MedoWhere stories live. Discover now