02. Inferno particular

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Eu não consigo escapar desse inferno
Tantas vezes eu tentei
Mas eu continuo preso por dentro
Alguém poderia me tirar desse pesadelo?
Eu não consigo me controlar.

Animal I Have Become | Three Days Grace

MAXINE WOODS

— Você vai mesmo denunciá-los? Não tem medo do que eles possam fazer? — Beatrice perguntou ajeitando-se entre as almofadas do meu quarto. Pude sentir seus olhos fixos em mim enquanto eu retirava de debaixo da cama a mochila de Carter.

— Não — assegurei, retirando os pinos de cocaína e os tabletes de maconha da mochila. Beatrice arregalou levemente os olhos e se afastou para o lado. Eu precisava esconder todas aquelas coisas ou Carter e eu acabaríamos mal naquela história. — Mas ainda não irei até a polícia.

— Por que não?

Pelo canto dos olhos, vi o que parecia ser um lampejo de frustração no rosto dela. Eu tinha certeza de que seu desejo era que eu os entregasse para as autoridades, uma vez que isso prejudicaria seu primo, Tobias, um dos membros dos Nebulosos. Existia uma história bem ruim entre eles que ela nunca contava.

— Porque preciso pensar em todos os pontos dessa situação — respondi. — Quem me garante que não vão dizer que essas drogas são do Carter? — E eu tinha quase certeza de que isso, de fato, aconteceria. — Além disso, você sabe que terei que incluir seu primo quando falar sobre eles, certo? Tobias está sempre com o Kelland.

Beatrice riu com desgosto.

— Não se preocupe, Max. Na verdade, eu a odiaria se não fizesse isso.

Parei o que estava fazendo para encará-la.

— Quando vai me contar por que o odeia tanto? O que ele fez com você?

Como de costume, a garota desviou o olhar, sem responder.

Suspirei, cansada, juntando todas as drogas e as guardando em outra mochila, escondendo tudo no fundo do guarda-roupa. Eu a conhecia bem demais e ela não funcionava na base da pressão, então há algum tempo decidi que a esperaria sentir-se pronta e confiar em mim o suficiente para contar seja lá o que tudo aquilo fosse.

Beatrice me deu uma carona até o hospital e foi para casa. Peguei o elevador até o quinto andar e vi Jonathan sentado em uma das poltronas do corredor, com a cabeça encostada à parede e as mãos cruzadas sobre o joelho dobrado. Ele parecia cochilar e se assustou quando lhe toquei o ombro.

— Como ele está?

O homem soltou o ar e arrumou a postura, dando espaço para que eu me sentasse, mas permaneci de pé. Coloquei minha bolsa no espaço vazio e o avaliei. Jonathan tinha profundas olheiras abaixo dos olhos ainda avermelhados e seus lábios estavam rachados pelo frio.

— Os médicos disseram que está estável — respondeu. E isso queria dizer que, embora sua cabeça tivesse sido praticamente esmagada, Carter iria sobreviver. — Eles conversaram comigo sobre os tratamentos que seu irmão vai precisar.

— E?

Ele balançou a cabeça negativamente.

— Medicamentos caros, tratamento mais caro ainda. Sem falar na conta do hospital, a cirurgia que ele fez, os gastos médicos... Eu não vou conseguir. Não tenho condições. Liguei para a sua tia Go e ela me disse que alguns dos tratamentos lá em Phaune são bem mais baratos... então... talvez essa seja a solução, por enquanto.

— Phaune? Está pensando em se mudar? — perguntei, sentindo um peso cair sobre os meus ombros.

— Me parece ser a única saída, Max. Eu simplesmente não vou conseguir pagar tudo aqui com o salário que ganho. Ficaria impossível.

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