01. O que aconteceu com Carter Woods?

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Oh, Pai, me diga
Nós recebemos o que merecemos?
Nós recebemos o que merecemos?
Ladeira abaixo nós vamos
Ladeira abaixo nós vamos...
Way Down We Go | Kaleo

MAXINE WOODS

Meu irmão foi brutalmente espancado.

Eu soube disso no meio da noite, quando meu pai, Jonathan, me acordou e disse que o Hospital Geral de NiKho ligou, comunicando que Carter estava em cirurgia.

Enquanto Jonathan e eu entrávamos no táxi, ele me questionava sobre onde Carter estava e o que tinha acontecido (como se, de alguma forma, eu fosse sua parceira de crime). Tentei me manter calma. Eu não sabia onde meu irmão estava naquela noite da mesma forma como já não sabia nada sobre ele. Tudo o que eu podia me lembrar de horas atrás era que estava bonito antes de sair, com uma bermuda escura da qual eu me recordava bem, foi presente de Pam, minha ex-melhor amiga, e uma camisa polo branca que me parecia ser cara demais. Disse a ele para que tomasse cuidado quando simplesmente avisou que iria à uma festa na universidade vizinha com alguns amigos, e ele riu com uma prepotência irritante quando tentei alertá-lo sobre o quão diferente estava se tornando por conta daquele novo ciclo.

Eu sabia bem o tipo de amigos que ele havia arrumado.

Honestamente, eu não gostava desse novo Carter, o cara que carregava um sorriso bêbado e parecia esconder mil segredos por trás de seus olhos escuros. Eu gostava do outro Carter, o que era meu confidente, meu braço direito; um cara legal e gentil, que não costumava agir como um completo irresponsável.

Eram quase três da madrugada quando entramos na recepção vazia do Hospital Geral de NiKho, salvo por duas ou três pessoas que aguardavam atendimento na sala de espera ao lado. Seguimos direto para o balcão, onde a recepcionista coletou nossos dados e informou que Carter havia sido deixado na calçada do hospital por um carro que ninguém conseguiu identificar. Ele simplesmente foi largado ali, de qualquer jeito, como um saco de lixo. Aquilo embrulhou meu estômago.

Só percebi que meus dedos tremiam quando toquei a alça da mochila que a mulher me entregou, alegando ser de Carter. Nervosa, a coloquei sobre os ombros e caminhei até ala de espera. Observei Jonathan com sua expressão preocupada e me sentei ao seu lado, murmurando que tudo ficaria bem.

Já fazia um tempo que estávamos aguardando, então resolvi abrir a mochila de Carter e verificar o que havia ali. Jonathan estava com a cabeça encostada à parede, de olhos fechados, imerso demais em sua angústia para notar o que eu fazia. Respirei fundo antes de puxar o zíper e começar a vasculhar: um dicionário grosso, um livro antigo de filosofia, papéis de provas, preservativos e um pacote de biscoito aberto. Fechei a mochila. Para o meu alívio, não havia nada além da bagunça típica que ele fazia.

Poucos minutos depois, quando a porta da sala irrompeu como um livro pesado arrastado da estante e a médica caminhou em nossa direção, meu coração acelerou violentamente. E assim que a mulher sorriu para nós com pesar, eu soube que não voltaríamos para a casa com boas notícias.

Engoli a saliva, sentindo meus dedos suarem.

— Sr. Woods — ela cumprimentou Jonathan e em seguida a mim. Ajeitou seus óculos quadrados sob o nariz fino e verificou algo em sua prancheta antes de prosseguir. — A cirurgia foi finalizada há alguns minutos e ele precisará continuar no CTI. Carter teve traumatismo craniano e no momento está estável, mas por consequência das pancadas muito intensas que recebeu na região da cabeça, infelizmente perdeu a capacidade de locomoção. Nós o conduzimos ao coma, por enquanto, a fim de minimizar a dor física e realizarmos os próximos procedimentos necessários.

NEBULOSOS [completo na AMAZON]Where stories live. Discover now