Capítulo 22 - Lithium

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Tum. Tum. Tum.

Tic Tac. Tic Tac. Tic Tac.

Sons ricocheteavam nas paredes, suor escorrendo dos poros, escorregando lentamente pelo lado de rostos fechados em alerta. A tensão era palpável, corações batendo num mesmo ritmo, frenético, enlouquecido. O nervosismo corrompia a alma, segundo a segundo, transformando toda a dor que antes somente pairava no imaginário em cãibras desconfortáveis, arrepios diretamente na espinha, lufadas de ar escapando dos pulmões, uma a uma. Já não era somente medo. Havia resignação, havia raiva e determinação. Mas também havia aqueles que desistiram, aceitando com pesar o seu dito destino cruel. Ainda existiam aqueles dispostos a lutar,a arrastar-se centímetro por centímetro até uma solução que fosse ao menos temporária. Mas o relógio corria, em seu barulhinho infinito, como se contasse quanto tempo de vida ainda restava naquele ambiente. Se é que restava algum tipo de vida. A escuridão os engolia, cegando os bons, os maus e as vítimas. Num canto, uma voz entoava algum tipo de oração aos sussurros, torcendo para que alguém olhasse por eles. Assim como em mitos gregos, a esperança parecia ser a última a lhes abandonar.

Então todos os olhares estavam voltados para aquelas duas figuras que se encaravam, tão opostas uma da outra. Greenfield com sua expressão louca, suas mãos que tremiam junto com o lábio superior, os cabelos castanhos limpos e penteados. Patrick e a frieza nos olhos verdes, a precisão e a coragem nas mãos, seus cachos loiros bagunçados. Dois revolveres apontados um contra o outro, prestes a disparar. Se fosse possível parar de respirar, então todas as inalações e expirações seriam cortadas naquele cômodo. Era como ouvir o cortante barulho do silêncio: doloroso e sem fim aparente. Até que a voz de Lorenzo quebrou o padrão, um tom debochado que era tão típico dele.

- Mentir é feio, criança – estreitou os olhos, como se procurasse enxergá-lo com mais nitidez – Mas confesso que estou surpreso. É um blefe muito bem pensado. Meus parabéns... Me desculpe, acho que estamos em desvantagem. Você sabe o meu nome, mas eu não sei o seu.

- Seria muito melhor mesmo se fosse um blefe, Greenfield – Patrick resmungou, convicção estampada em seu rosto. – Principalmente para você. Infelizmente, não passa da mais pura verdade.

- Nome – o homem apontou a arma com mais força, a voz elevada, quase enlouquecida – Eu perguntei pelo nome.

- Manson. Oficial Manson.

- Então, oficial Manson – Lorenzo caminhava tranquilamente na direção de Katherine, acariciando seus cabelos,o que despertou um gemido de agonia do fundo da garganta de Esma. Ele parecia não se importar com o revólver de Patrick apontado em sua direção. – Pode me dizer como chegou a esta adorável reunião?

-Eu estava lá. Na boate. Você não foi exatamente discreto.

- Acredito que você esteja de olho nos meus passos há algum tempo, estou errado?

- Não só nos seus, mas nos daquele ali também – apontou Klaus, que parecia um tanto chocado, com a cabeça– Vocês realmente acharam que poderiam fazer todas as merdas que fizeram sem despertar a atenção da polícia? Quanta ingenuidade para um homem como você.

- Muita, realmente – Greenfield parecia considerar, o revólver apontando para o próprio queixo – Mas quem aqui é mais ingênuo, oficial? Eu, ou um policialzinho solitário como você? Patrick deu de ombros, um pequeno sorriso se formando em seus lábios, como se tramasse alguma coisa por debaixo dos panos. Seus olhos verdes agora se fixavam em Katherine, perdida em tamanha confusão. Preocupava-se tanto com ela... Vê-la sofrendo o fazia sofrer também. Assim era o amor. Um canal, uma via de mão dupla. A dor de Katherine era sua dor. Infelizmente, o mesmo não acontecia com o seu amor.

Holy FoolWhere stories live. Discover now