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A loira visivelmente cansada não conseguia parar de olhar o velho prata relógio arranhado em seu pulso esquerdo. Ela esperava ansiosamente o momento que onze horas chegasse, para que eu pudesse ir para casa, mas aqueles os quinze minutos que faltava parecia uma eternidade. Ela balançava os pés aprisionados na velha sapatilha azul, por baixo da velha e arranhada mesa de plástico, que outrora fora alva, imaginado o exato momento de frescor e alívio que sentiria seus dedos calejados quando fossem libertos. A sua ansiedade não era somente para ir para casa, mas também para receber, afinal era o dia de seu pagamento, ao menos era o que ela esperava que fosse, embora tivesse quase sem esperança, pois nos últimos dois meses não havia tocado em sequer um centavo.

— Você está surda? - Um grito alto e grave a assustou, fazendo com que a jovem avoada batesse bruscamente uma mão no frasco retangular que continha ketchup e estava sem tampa, derramando a meleca sobre a mesa, que ela havia limpado minutos antes. Ela sacudiu a mão suja e elevou os olhos, enxergando um homem carrancudo em sua frente, em seguida desviou o olhar em direção à cozinha, esperando que sua colega de trabalho lhe ajudasse, mas tudo que ela fez foi lançar um olhar mortal para a loira e abrir a boca sem emitir som algum, mas ela sabia bem o que aquilo significava.
Desde que a patroa delas havia se ausentando que a garota não saía do caixa, mesmo quando não havia nada para fazer, ou quando o lugar estava lotado, o que era quase raro, mas as vezes acontecia. Naquele momento ela estava em pé atrás do caixa, provavelmente contando a miséria em forma de dinheiro e considerando talvez a possibilidade de pagar a loira.
A garçonete empurrou a cadeira, voltando a fitar o homem gordo e suado, que a encarava raivoso. Ela pegou o guardanapo fedorento, que estava sobre seu ombro esquerdo e esfregou com força sobre a mesa, enquanto praguejava mentalmente o recém chegado e a nova patroa. Invés de limpar, com certeza aqueles movimentos circulares sobre a mesa estava a sujando mais.

— Eu vou querer duas porções de batata, uma porção de queijo, um x tudo e dois ovos! - A loira elevou os olhos ao ouvir aquela voz grave e o arrastar de cadeira, vendo o homem estufar sua barriga volumosa, que surgiu empurrando a camisa para cima. Ele posicionou o corpo sobre as mãos, as colocando nas margem da mesa, antes de se sentar, fazendo a cadeira ranger, o assustando e fazendo a loira sorrir minimamente com q ideia de imaginar a mesma ceder com o peso. O homem levantou-se apenas para acoplar a cadeira à mesa grudenta de ketchup. A loira bufou e se virou rumo à cozinha, se assustando ao sentir a vibração do celular em sua virilha, entre o tecido fino da calcinha e o jeans grosso. Ela passou pela abertura do balcão do caixa que ligava a cozinha ao pequeno salão, ignorando as vibrações incessantes e a colega de trabalho que estava concentrada em visualizar algum vídeo de sobrevivência na selva no YouTube. Se virou, pausando seus passos ao ouvir o cliente, que com a voz abafada gritou:

— Ah! E quero um suco de abacaxi com pouco açúcar! - Ela franziu o cenho incrédula, encarando o homem, que deu de ombros, entendendo a expressão surpresa dela, com um leve riso, passou as mãos em sua barriga saliente e peluda, voltando a falar:

— Saúde em primeiro lugar, loira! Açúcar demais não faz muito bem, não é mesmo? - A garota revirou os olhos e encarou a morena no caixa ao ouvir um risinho abafado vindo dela, que estava cabisbaixa, mantendo as mãos em frente a sua boca. Ela bufou e caminhou para dentro da cozinha, ouvindo passos arrastados e barulhentos no piso, atrás de si.

— Clarke... - A loira freou os pés novamente ao ouvir seu nome sair da boca da morena, e a julgar pela lentidão e desânimo em sua voz, com certeza a loira não veria um centavo novamente. Pensar nessa hipótese a relaxar os ombros, totalmente frustrada e suspirar alto, antes de virar para a garota, que usando o mesmo tom soltou:

Estamos sem dinheiro para pagar você, já que temos que pagar dois fornecedores para pagar hoje. - Sorriu sem humor e logo fechou os lábios ao ver a carranca nada boa estampar o rosto da outra. — Você sabe... - A morena passou a mão esquerda por sua nuca e deu um passo em direção a Clarke; tocando seu ombro, e massageando-o, provavelmente tentando inutilmente a confortar. Eles são a nossa prioridade! - Ela tirou a mão do ombro da loira, que encarava sua mão, e a elevou até sua nuca para coçar novamente a seus fios escuros e úmidos devido ao imenso calor e gordura dos pastéis fritos pela mesma durante a manhã.

A Novata de PolisWhere stories live. Discover now