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S/n Mccartney Point of View

O homem a minha frente me olha confuso e então prossegue com o assunto.

— Sou o Subtenente Carl Park - Estende a mão e prontamente a apertei em comprimento. — Estou aqui porquê lhe enviei vários e-mails e a senhorita não respondeu nenhum deles então... Tomei a decisão e liberdade de vir até aqui pessoalmente. Creio que não saiba do assunto que quero tratar, certo? - Seus olhos são semicerrados em minha direção.

— Sinceramente, não faço a mínima ideia senhor .- Respondo sincera com as sobrancelhas franzidas em confusão.

Ele continua me encarando com aquele treco que chama de bigode. O homem é alto e seus cabelos são grisalhos cortado em estilo militar. Ele possui um físico bom para idade que aparentava ter, nem tão forte mas não era aqueles velhos da barriga estufada.

O homem parece querer ouvir mais alguma coisa de mim, pois me olha com as sobrancelhas arqueadas me incentivando a falar mais alguma coisa.

— Então... Nós precisamos conversar senhorita. - Ele diz. Permaneço lhe encarando sem entender,  num olhar silencioso e explícito dizendo "Mas nós estamos conversando". — Creio que aqui não seja um lugar adequado.

— Ah sim, claro. - Coço a nuca. — Me acompanhe, podemos conversar em minha casa. - Ele assente. Caminho em direção a porta e antes de destranca-lá me lembro da bagunça que a casa está e mudo de ideia. — Senhor, nós podemos conversar em outro lugar? Conheço uma lanchonete muito calma e aconchegante. Tudo bem por você? - O homem me encarou sério e apenas assentiu.

— Vamos no meu carro. - Se vira indo até o seu veículo. Olho para os lados estranhando toda a situação mas simplesmente vou atrás e entro no carro em silêncio.

Passo para ele as coordenadas para chegar até o estabelecimento que descobri há poucas horas atrás e depois de alguns minutos chegamos. Ele estaciona o carro e em seguida adentramos o local.

Nos sentamos em uma mesa discreta e ele se senta em frente a mim.

A garçonete se aproxima e sorri, provavelmente se lembrando que já estive ali hoje mais cedo. A mulher anota nossos pedidos e sai dizendo que não levará muito tempo até estar prontos.

O homem a minha frente respira fundo e me olha sério colocando as mãos em cima da mesa e chamando minha atenção.

— Bom Mccartney, vou direto ao ponto. Sou subtenente na Escola de Elite no Canadá e dediquei anos da minha vida a minha profissão, mas, estou providenciando minha aposentadoria. Fiquei um tempo analisando os pretendentes para ocupar meu cargo, e eles são muito bons mas, conheço sua história e sua competência, você é uma lenda, muito falada por todos e confesso que não pensei duas vezes antes de lhe oferecer a minha proposta. O que acha de treinar jovens mergulhadores no Canadá me substituindo? - Ele realmente vai direto ao ponto sem inventar histórias e nem contar casos tristes.

Isso costumava a acontecer muito, depois do acidente muitas escolas navais me procuravam para liderar suas equipes mas eu neguei a todas, pois, não tinha mais sentido, não havia razão para fazê-lo.

Olho para o homem pensativa, tentando digerir tudo que ele havia falado. Eu não esperava por isso, achei que eu havia sido esquecida depois de tanto tempo fora.

Mas como sempre, eu só tenho uma reposta, e a minha resposta para isso é sempre a mesma.

— Senhor, eu agradeço a confiança mas me afastei já tem um tempo e não pretendo voltar. - Olho para ele com firmeza.

Ele me encara sério e eu tentava passar essa seriedade também mas estava difícil encarar aquele bigode.

A garçonete se aproxima trazendo consigo um café expresso e um chocolate quente. Deixa em cima da mesa e se retira novamente.

Pego meu chocolate quente e levo até os lábios, encosto a boca lentamente entornando um pouco do líquido quente com cuidado para não me queimar.

— Acidentes acontecem S/n, mas você não deve parar por isso, não ache que se privando de fazer o que ama vai diminuir a dor ou resolver o problema. Você é uma grande mulher, não se deixe abater por isso, coisas ruins acontecem, isso é inevitável, mas não podemos deixar de viver por isso. Pense na minha prosposta. Te dou até amanhã .- Diz me dando um cartão e se levantando em seguida sem ao menos tocar em seu café. Me levanto automaticamente.

Ele paga a conta e saímos do local em silêncio.

Fomos em direção ao estacionamento e entramos no carro.

Ao decorrer do caminho fui pensando em sua proposta.

Eu não queria voltar a mergulhar e muito menos treinar quem quer que fosse. Ele não sabe o que passei, ninguém sabe. Eu estou bem agora, certo?

Certo.

O carro para e prontamente direciono a mão até a tranca para destravar mas parei ao ouvir a voz grossa.

— Desistir não irá te levar a nada, você já salvou muitas vidas, isso deveria ser um incentivo para continuar a salvar, não acha? - Sua voz soa calmamente me fazendo encará-lo. — Isso sim vale a pena de verdade, alivia a nossa alma por saber da coragem que temos ao nos colocar em perigo para salvar alguém. Isso sim vale a pena, não encher a cara todos os dias e deixar de mão o que te faz bem e faz muito mais bem as pessoas, e ainda achar que está tudo sob controle. - Fecho os olhos cerrando o punho sentindo algo ferver dentro de mim. — Acho que você se afundando mais e mais - Desvia o olhar para frente com as mãos no volante. — Eu não te conheço profundamente como pessoa mas, tive conhecimento da sua história o do quanto você mudou vidas e salvou pessoas. Eu estou aqui hoje porquê ouvi falar de uma mulher extraordinária que enfrentava os mais bravos mares para salvar pessoas desesperadas e você conseguiu! Conseguiu salvá-las! Com estratégias precisas, inteligência, estabilidade e muita experiência. Eu ouvi tanto de você que me interessei em te conhecer, me interessei em trazer essa pessoa tão extraordinária assim para a minha equipe, pois eu sabia que era o certo ter você no meu lugar mas, vendo você hoje, eu te pergunto, o que você se tornou? Quando foi que o medo te dominou? - Respiro fundo ao encarar seus olhos. — E a reflexão que eu quero deixar pra você é: Vale a pena viver assim? Fugindo do seu dom por medo de perder? Você não teve culpa e eu sei que é doloroso mas, acha mesmo que algo será feito ao ter jogado o seu dom no lixo? - Engulo em seco ao ouvir suas palavras tentando controlar as lágrimas de rolarem.

— Isso é mesmo legal, você vir até aqui me dizer várias palavras bonitas e emocionantes sem ao menos me conhecer profundamente para sabe do que sinto em relação a isso. Mas quer saber, me fale mais sobre sua opinião que eu obviamente não te pedi. - Ele suspira triste.— Você não sabe o que eu passei e continuo passando. Não tem direito de opinar. Então por favor, ache outra pessoa para passar o seu legado e esqueça a minha existência. - Saio do carro e bato a porta com força. Coloco a cabeça na janela. — Como somos muito íntimos e você tomou a liberdade de falar sobre como eu devo levar a minha vida e sobre o que eu devo fazer com a minha vida, tomo a liberdade de fazer o mesmo com você e te dar um conselho valioso. Vê se raspa esse bigode. - Digo grossa com um sorriso sarcástico e me viro indo em direção a porta de casa.

— Nos falamos amanhã Senhorita Mccartney- Ouço sua voz grossa irritar os meus ouvidos. Ele sai com o carro assim depressa me deixando parada no gramado olhando para o rastro de fumaça.

Se ele acha mesmo que irei ligar amanhã, está muito enganado.

Bufo e entro para dentro casa, ainda tenho uma bagunça pra arrumar, quer dizer, casa.

Swim (Camila/You G!p)Where stories live. Discover now