0.8

221 22 0
                                    

Ashton

De uma das entradas para o palco, vi que estava lá uma figura ruiva que tinha a familiar buzina. Vestia uns calções gigantes amarelos, uma camisa aos folhos roxos, verdes e azuis e uns sapatos gigantes vermelhos.

A buzina tocou novamente e eu soube de tipo que era: era uma buzina utilizada pelos palhaços. Mas a Julie não tem medo de buzinas. Ela tem medo de palhaços.

 

Já conseguia ver a figura com clareza e soube que estava correto. Julie continuava ali, sem reagir, com a cara pálida e a tremer como um Chihuahua, sim rica comparação Ashton. Na cara do palhaço estava estampado o gozo, o raio do homem estava a obter prazer por ver uma rapariga com medo. Senti a minha cara a ficar vermelha de raiva por causa daquele sádico.

- Mas que raio é isto?- Disse enquanto abraçava a “minha”, embora não fosse minha, menina assustada. Ela demorou algum tempo a corresponder o abraço, devido ao medo a ter paralisado todos os músculos do seu lindo corpo, mas, quando correspondeu, eu abracei-a ainda mais fortemente. Pousei o meu queixo na sua cabeça e senti o quanto a sua respiração estava irregular.

Olhei para Cara, e pela sua cara percebi que ela não fazia ideia que isto ia acontecer. Percebi, também, que ela não estava a gostar deste “desafio”. Pelos seus olhos percebi que isto era obra apenas dos produtores deste programa.

- Ok, Julie, para superares o desafio, tens de deixar que o palhaço abraçar-te.- Cara disse, tentando esconder a irritação por causa desta brincadeira de mau gosto dos produtores.

Senti ela a ficar mais tensa nos meus braços. Isto não era racional. Vi que a Cara fez uma troca de olhares com um rapaz, que saiu a correr, e ela olhou para mim, na expectativa que eu parasse com esta brincadeira de mau gosto.

- Ela não tem de fazer isto!- as palavras saíram da minha boca sem que eu tivesse apercebido. Todo o foco de atenções se virou para mim e Julie saiu do meu abraço, olhando atentamente para mim. Continuei.- Uma pessoa só deve enfrentar o medo quando se sentir preparada, não deve ser obrigada para o entretenimento dos sádicos. @sunnybird, certo? Já alguma vez foste obrigada a enfrentar um dos teus medos? Sabes o quanto o teu desafio é de uma extrema irracionalidade?! Sabes qual é a pressão que uma pessoa, neste caso a Julie, sente ao ter de fazer isso com câmaras e público a pressioná-la ainda mais?

Depois do que eu disse, ouve alguns segundos em que estavam todos calados, a assimilar o que eu disse. Até eu. Só se ouvia o respirar. Ninguém notou na rapariga que se dirigia rapidamente para um dos seus maiores medos. Só se reparou nisso quando ela começou a falar. A voz dela mostrava confiança, não tremia e eu fiquei encantado com a sua coragem. Ela estava a um metro do palhaço e, embora tivesse a cara cheia de maquilhagem, notava-se a surpresa na cara dele.

- Dizem que para eu superar o desafio tenho que o abraçar certo? Pois já têm muita sorte de eu estar a menos de um metro perto de si e não ter corrido para fora desta sala aos berros. Eu até o abraçava, se viesse para aqui com algodão doce e o seu sorriso fosse verdadeiro. Até o abraçava, se não soubesse que gostou de me ver a sofrer. É complicado, depois de passados 20 anos da minha vida, deixar de detestar palhaços. Por mim, eu já passei o desafio. Eu enfrentei-o, mas se acham que para ganhar o desafio tenho de o abraçar…

Heartache on the big screen // a.iOnde as histórias ganham vida. Descobre agora