Queda

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Um baque estrondoso veio de uma extremidade do salão e assustou a todos. Em seguida um silêncio se instaurou em todas as mesas e todos os olhares dos presentes foram direcionados para o biombo que tapava uma porta da cozinha. Um grito estridente cortou o silêncio. Vários garçons saíram correndo do cômodo e quase se atropelaram durante a fuga. Alguns choravam, outros gritavam e muitos ficaram sem ação, mas suas expressões aterrorizadas falavam por si.

Uma garçonete desmaiada foi carregada nos braços por um homem grande. O espaço entre o biombo e a porta não era suficiente para passar com ela e o homenzarrão então, com um chute bem dado, derrubou o biombo enfeitado com as melhores matérias.

Levantei-me e corri em direção à porta da cozinha. Cheguei a tempo de ver o chef sair gaguejando, aos prantos, enquanto apontava com o indicador na direção da porta.

Não consegui entender o que ele dizia, então minha única alternativa foi entrar na cozinha e averiguar o que acontecia.

No chão, um pé de cabra e um cadeado foram abandonados de qualquer jeito. Nos fogões com chamas ainda acesas, as panelas continuavam em pleno funcionamento. Observei o freezer encostado em um canto, era onde geralmente guardavam as carnes que seriam preparadas para os eventos. A tampa do freezer estava escancarada e havia claros sinais de arrombamento. Tanto os armários quanto os freezers daquele cômodo ficavam trancados com cadeados grossos, isso evitava infestação de insetos e sumiço de ingredientes.

Aproximei-me do freezer a passos lentos, o coração batia acelerado.

De alguma maneira eu sabia que veria o que vi quando me aproximei, ou no mínimo algo parecido com aquilo.

Soltei um curto grito de horror e coloquei a mão sobre o peito. Dentro do freezer havia um homem morto, seu rosto ficara irreconhecível, mas a constituição física e o uniforme não passariam despercebidos nem que eu quisesse. Era o senhor que trabalhava na banca de flores, eu tinha certeza.

Senti minhas pernas tremerem e agradeci mentalmente por estar de sapatilhas. Quando pensei que cairia no chão, um homem forte e um pouco mais alto que eu, me agarrou os braços e me arrastou dali. Isac, Miguel e Lia, estavam posicionados bem na frente da porta, no lugar onde antes estivera o biombo.

- Sou detetive Nico, da polícia e ninguém pode entrar nesta cozinha. Por favor, permaneçam no salão enquanto chamo reforços e a equipe de perícia. - Nico, o homem que me segurara, disse enquanto mostrava o distintivo.

Miguel me arrastou para o outro extremo do salão e me fez sentar na beira do palco, onde ele também sentou.

Eu me descontrolara e chorava como jamais tinha chorado nos últimos tempos. Claro, eu não conhecia as vítimas anteriores do assassino, mas aquele senhor era próximo, e como sempre, a morte dói mais quando se trata de alguém com quem temos proximidade.

Minha mente foi inundada por lembranças e pensamentos desconexos. Fiquei imaginando quais seriam os motivos que alguém teria para matar um pacato senhor que não ouvia. Que tipo de ser cruel era esse assassino? O que ele desejava afinal?

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Miguel era mesmo um herói.
Primeiro, ele salvou a noite de Nia com seu discurso motivador, depois, a consolava e afagava seus cabelos como se ela fosse uma criança. Eu podia apostar minhas bolas que era exatamente assim que ela se sentia. A maquiagem negra, outrora tão bela, se transformara em um feio borrão.

Por um segundo lancei um olhar para Lia que observava tudo visivelmente desconfortável.
Rememorei o acontecido anteriormente. Fora tudo muito rápido. Um estrondo, pessoas correndo para fora da cozinha, o biombo caiu, Nia correu para dentro do cômodo, mas antes de entrar parou no chef por alguns segundos. Um homem negro com uma fantasia luxuosa de Fantasma da Ópera seguiu os passos de minha amiga.

A Rosa do Assassino [Concluído]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora