Demônios

96 19 8
                                    

O mundo continua girando, veja só, Nicholas constatou para si mesmo, encarando os portões da escola. Duas semanas com Inger e seus olhos inteligentes haviam sido suficiente para tirá-lo de casa, embora fosse com o mínimo de vontade possível — ele precisava passar de ano, porém.

Jonna correu para abraça-lo assim que o viu, com seus maravilhosos cabelos azuis e bom-humor matutino. Ela parecia mais baixa que da última vez.

— Você está melhor? Jake me disse que estava com problemas no fígado. — Ah, claro. Ele não vai contar que o irmão virou um peso morto.

— É. Eu estou sim.

O professor de Filosofia pareceu feliz em vê-lo na sala e fez uma pergunta a cada dois minutos, apenas para que a turma inteira virasse para o ruivo apático no canto e sorrisse. Responderia com prazer se Sr. Erikson fosse Latoya.

— Vai ficar para o basquete? — perguntou Jacob durante o almoço. Era assustador como ele conseguia comer salada com uma variedade infinita de salgados e sanduíches na cantina.

— Não tenho a sua disciplina.

— Sabia que isso não é argumento para faltar? — resmungou Jonna. — Björn disse que os meninos sentem a sua falta no time e que você não precisa se esforçar muito. Só compareça.

— Acho que não estou lá muito pronto...

— Nick. — Jake segurou-o pela mão. Tinha o toque quente. — Você pode tentar.

Ele realmente tentou, mas percebeu a merda que tinha feito assim que pisou no ginásio. Os jogadores quebraram a roda para encará-lo.

Que merda, Jacob e Jonna.

— Eu senti sua falta — disparou Danilo assim que se aproximou. O menino sorria. — Digo... Nós sentimos a sua falta.

— Bom saber. — Tire esses olhos de mim.

Nicholas teve de correr ao redor da quadra como todos os outros e pagar as flexões que o treinador exigiu, infeliz. Seus músculos queimavam como o inferno, a cabeça rodava. Não estava comendo direito ainda e não era mais o moleque ativo que fora no outro time. Só seguia o bonde agora.

— Você está magro — comentou Björn no vestiário, enquanto todos se livraram das roupas. Estava de verdade, para quem algum dia fora puro músculo definido.

— Veja o quão importante é o fígado agora.

— Só o fígado? — provocou Danilo, baixinho. — O coração não importa?

— Coração bombeia sangue e o meu faz isso muito bem, obrigado.

— Você me entendeu. — Ele rolou os olhos e cruzou os braços. — Fiz algo de errado?

Nasceu parecido com ele.

— Nada.

A água quente queimou sua pele, vapor encheu o banheiro compartilhado. Nicholas permaneceu de costas para os outros o banho inteiro, ignorando a conversa que batia nas paredes, encarando os azulejos brancos.

Nós já ficamos juntos numa joça dessa e eu nem sei se vou te tocar de novo.

— Você quer fazer algo hoje, Nick? — O moleque baixinho inclinou-se sobre a pequena parede que os separava. Valentine encolheu sob o chuveiro. — Abriram uma sorveteria aqui perto.

— Eu tenho de ir para casa.

— Sério isso? Você passou três semanas em casa e agora que sai, precisa voltar? — Danilo inclinou-se mais. — É só um sorvete.

Saturno e o Astronauta Azul [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora