Um pouco de um grande passado • Johnny

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— E ela te deu o número errado? — ouço a voz de Ryan do outro lado do telefone, seguida de uma risada do mesmo.

— Sim cara, já disse isso — digo já cansado.

— E o que a mulher te disse quando você ligou errado para ela? — continuou questionando.

— "Olá, como você conseguiu meu número?" — repeti as palavras de uma alemã muito confusa com meu ligamento para seu celular.

— E você respondeu com uma cantada porque achava que era a garota?

— Sim Ryan, eu fiz isso.

Eu o ouvi gargalhar enquanto afastava o celular do rosto totalmente entretido com a minha vergonha.

— Cara, não contei isso para você rir da minha cara — digo alto o suficiente para que ele ouvisse mesmo sem estar com o celular próximo do rosto.

— Então por que você me contou essa magnífica história senhor Carter? — disse ainda com o humor em sua voz. — Porque eu não sei como podeira te ajudar com isso.

— Que tal me dizer se eu fiz algo de errado? - sugeri.

— Bom, você seguiu uma garota que você nem conhecia, apenas tinha respondido uma pergunta dela. Depois simplesmente perguntou se ela queria ajuda para arranjar trabalho. Não sei você, mas eu achei isso um tanto estranho.

— Eu sou um idiota! — murmurei para mim mesmo.

— Ou simplesmente um estuprador, mas aí depende do que você realmente queria.

— Você não está ajudando!

— Não tem como ajudar sua situação Johnny, você foi muito suspeito com a sua pergunta.

— Verdade...

— Fazer oq né Johnnyzinho? Seja melhor na próxima. Ah, e menos estranho, por favor — pediu Ryan.

Após essa fantástica conversa do quão inteligente fui em meus atos no último dia, acho que preciso explicar quem é esse com conselhos tão incríveis:

Ryan Moore é meu melhor amigo desde que éramos pequenos. Mais especificamente: desde a segunda série — as pessoas costumam achar que estou dizendo desde que éramos bebês, pra mim segunda série também é bem pequeno, tá bom?

Sabe aquele amigo que enquanto você entende de uma matéria, ele entende da outra, aí vocês se ajudam (colam)? Então, Ryan me ajudava principalmente em questões de números, afinal nunca fui muito bom com eles. Mas também me ajudou em muitas coisas fora da escola. Como que óculos usar para que meus olhos não ficassem estranhamente pequenos ou grandes. E a me vestir como um adolescente normal — me vestir completamente de moletom era muito mais fácil (calças e blusas longas). E confortável. Mas de acordo com algumas pessoas não muito bonito.

Enquanto isso, eu o ensinei a falar com as pessoas. Coisa que pelo caso, vou ter que ensinar de novo.

Ryan era uma das coisas que eu mais sentia falta de casa. Junto com a minha mãe e pessoas que falam minha língua. Saber uma outra língua é legal, mas sempre dá saudade daquela que você sempre falou.

— Como estão as coisas aí em casa? — perguntei antes de desligar o celular.

— Chatas, monótonas, sem vida. Parece até que estou vivendo numa bolha — disse desanimado.

— Parece que faço toda a diferença aí né?

— Claro que faz — respondeu. — Afinal com você aqui poderia ver a sua cara depois de ter feito isso, e não só ouvir.

— Obrigado pela consideração — digo ironicamente. — Tenho que sair para o trabalho, tchau Ryan.

— Mas é tão cedo.

— Não aqui.

— As vezes esqueço o quão longe você está — Ryan diz distraído.

— Eu também...

•••

As vezes acho que meu chefe sente meu cheiro de longe, porque eu mal passei pela porta e ele já me recebeu com vários papéis.

Comecei cedo a arrumar toda aquela papelada, e assim também a terminei antes que esperava, e advinha o que aconteceu. Sr Forbes apareceu com mais. Arrumando esses, me deparei com um que o Sr Forbes havia dito que era importante pois vinha da faculdade que eu dei palestra outro dia.

[...] "Por que querer algo menos do que seus sonhos? Eles não servem para ser almejados até serem realizados? E logo depois disso substituído por um novo, que complemente o anterior, e você acabe somando todas suas vitórias em vida..."

Esse fragmento da redação me fez lembrar da minha palestra. Que eu havia dito que não queria ter feito faculdade e tudo mais.

A razão para isso?

"Johnny, você não vai ser ninguém se não tentar subir na vida garoto!"

"Há mais jeitos de conseguir isso, e nem todos eles envolvem faculdade."

"Tá pensando que sempre vai ter alguém para te sustentar? Você precisa aprender a andar com as próprias pernas, e finalmente ser alguém nessa vida."

"Alguém? Alguém?! Quer dizer alguém como você?!"...

Essa não foi a primeira conversa do tipo que eu tive, nem a última, mas com certeza, foi uma das piores. Não pretendo entrar em detalhes... Não hoje.

No fim da redação estava o nome da autora: Kayla Wright.

Eu não a ajudei com o trabalho, e acho que a assustei com aquela conversa. Então acho que ela merece pelo menos ter sua redação numa parte importante do jornal não é? Não é bem uma forma de me corrigir, porque ela realmente merece com uma redação dessas. Mas me sinto bem em ajudá-la de alguma forma — uma menos assustadora.

Breathe Your Dreams °• Hiatus •°Kde žijí příběhy. Začni objevovat