Capítulo 9 - Cheiro de óxido nitroso

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Por que ela estava falhando? Ela disse que era imune a armas humanas, não disse? Disse que não a abandonaria!

Algo queimando nas costas da garota se misturou ao ardor em seu braço esquerdo quebrado e a fez acordar para a vida. Abaixou os olhos e viu o chão vermelho de sangue com o cinza da sujeira.

Kalaziel estava morrendo, independente do motivo.

Mais lágrimas caíram de seu rosto enquanto ela cedia e caía em cima da Anjo, com certo cuidado, mas de propósito.

Queria ser manchada pelo sangue dela.

E antes de notar, estava sendo apertada pela Anjo em um abraço.

— Er...dia — Kalaziel apertou as costas da garota, a puxando para baixo — Eu te sin-

— Kalaziel! — Erdia se desesperou ao ouvir aquela voz. — Como eu posso te ajudar?!

Quando Kalaziel abriu os olhos que pareciam lotados de milho, só viu uma imagem que pareciam dos quadros que ela havia visto na estrada a caminho do mercado, mesmo que agora estivesse doente em casa, além disso, por que eles estavam banhados em sangue?

As galinhas logo bicariam seus olhos por estarem com milho, mas... valeria a pena... Aquela Anjo tão linda na sua frente... O que ela havia falado mesmo? Era difícil pensar quando estava no trabalho da fazenda, ainda mais deitada na terra...

Ela não estava em casa?

— Me diz como ajudar! — Por que a Anjo na sua frente chorava? Ela era tão linda... Ela chorando fazia Kalaziel se sentir tão solitária e triste.

— Tem algo... dentro — Tinha? — as galinhas não... — O ar não entrava, talvez o céu fosse assim? Ela estava no céu? — conseguem tirar... você consegue?

Era um Anjo, talvez fosse pedir demais para ela tirar o presente de seus pais de dentro do buraco que as galinhas tinham colocado, mas... para quem mais ela iria pedir?

Kalaziel mexeu levemente a cabeça para o lado. Havia terra por toda parte, mesmo que ela estivesse molhada com algo muito vermelho, os insetos ainda estavam lá. Voltou sua atenção a tempo de ver aquela Anjo de cabelos dourados, olhos azuis tão lindos e asas tão brancas tirar sua capa azul das costas e colocar em cima de seu corpo, talvez para impedir que os animais comecem o resto, já que ela estava deitada.

Asas tão lindas que a Anjo usou para alçar voo quando Kalaziel levantou a cabeça, a deixando sozinha com o manto.

— Não... — Tentou se levantar, mas seu corpo pesou em baixo daquele sol. — Não vá! — Estendeu a mão para a Anjo, que apesar de olhar para trás, continuou seu caminho para longe, sem ter pego o brinquedo que seus pais haviam lhe dado. — Por favor... Eu não... Por favor...

O peso do sol e da terra a afundaram tanto, que seus olhos não viram seus pais antes de se fecharem novamente, sentindo só o frio do manto da Anjo e os animais entrando em sua boca, comendo seus restos.

Erdia respirou fundo enquanto corria o máximo que conseguia. Lágrimas caíam de seus olhos e seu coração disparava como nunca.
Sangue, muito sangue, sangue demais... Ela disse que Anjos não morriam por culpa de armas humanas!

Erdia não sabia definir aquele sentimento, era tristeza, ódio e medo, muito medo de perder alguém que não tinha passado tanto tempo assim.

Um medo que ela não sabia que tinha.

A cabeça da garota se misturava com o cenário. Não sabia onde era o que e nem como fazer algo, somente corria em um corredor infinito com dezenas de salas, onde olhava pela janela e via se possuía algo que podia usar.

A verdade sobre ElesWhere stories live. Discover now