Capítulo 9 - Cheiro de óxido nitroso

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Vazio e escuro. A mente de Kalaziel se acostumou com aquilo a muito tempo.

A escuridão era o sono, e o vazio era o sentimento de todos os Anjos. Sozinhos nesse Mundo, nesse Céu, por não possuírem uma linha divina.

Ainda assim não explicava porque havia sonhado com sua única amiga, Barakiel.

Kalaziel!

Mesmo agora, os gritos não paravam. Era como se ela gritasse em sua cabeça, clamando por ajuda, sempre gritou quando estava com problemas, isso gerou tanta confusão.

Vamos, levanta.

Mas aquela voz? De quem era a voz? Barakiel não possuía uma voz com tantos sentimentos.

E por que o mundo tremia tanto? Era como um furacão de pensamentos e dor.

Por que sua cabeça doía? Martelando pregos no seu confim. Aquilo machucava, ela não estava acostumada a sentir dor.

Além de tudo isso, seu corpo não mais respondia, encolhido no vazio e...

Quando algo como uma pedra bateu forte em seu peito, o ar saiu e entrou com força, a tirando de seu estado de recuperação e a fazendo voltar à realidade, mesmo que todo seu corpo estivesse vagando entre o que era realidade e o que era fim.

Seus olhos pesavam da mesma forma de quando ela dormiu, a impedindo de os abrir.

— Kalaziel, por favor! — O grito misturado com choro ecoou pelo local.

Erdia.

Algo gelado e úmido pousou perto dos olhos da Anjo e escorreu, em paz.

Kalaziel reconheceu aquilo de quando ainda eram seus pais a abraçando. Ali estava o motivo para ao menos tentar viver.

A Anjo levantou sua mão até parar na cabeça abaixada da garota. Pesava demais, era como se tivessem as argolas em suas mãos, ou eram algemas? Erdia pulou assustada quando sentiu a mão e reconheceu de quem era, mas não saindo do toque da Anjo.

A cabeça de Kalaziel doeu, o lado direito parecia inchado e pulsante. Puxou o ar com mais força do que conseguia, fazendo os ossos arderem e pedirem arrego, não tinha mais motivo para...

— Er...dia — Os olhos de Kalaziel pesavam tanto, tudo ardia tanto, pareciam pimentas caindo no chão e banhando seu cadáver.

Ah... era sangue com pedras e madeiras, restos de cadáveres...

— Kalaziel! — A menina se agarrou na Anjo, um abraço forte com um choro descontrolado. — Você está viva, você está viva, você está viva.

Kalaziel focou naquela à sua frente, quem...?

Um Anjo. Ela é um Anjo? Eu falhei?

Era tão azul com branco, ao olhar pra ela era uma cor tão clara e linda, com a Erdia no centro, os olhos chorosos, mas tão azuis, era um lugar... maravilhoso.

Mas ela não pertencia ali. Kalaziel não pertencia a um lugar tão puro.

E antes de notar, estava caindo de volta para o sangue.

Erdia olhou em desespero Kalaziel novamente cair no sono e a mão cair de cima dela, batendo nos restos de pregos, vidros e madeiras no chão, junto do fechar dos olhos e seu coração parando. Com medo, bateu com força no peito de Kalaziel com o braço que ainda estava bom, fazendo o ar na outra entrar de uma forma estranha.

Kalaziel não parava de sangrar, ela logo pegaria uma infecção se não fosse levada para um lugar limpo. Além disso, o coração dela parava e voltava, diversas e diversas vezes.

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