— Lokesh esfaqueou seu coração antes e drenou todo o seu sangue, e ainda assim ele voltou — falou Kelsey.

— Eu nunca tinha visto um ferimento tão ruim quanto este antes — Kishan disse francamente. — Não sei quanto tempo vai demorar para cicatrizar. Dê a ele algumas gotas do elixir logo depois que eu retirar a maça.

Kishan levou a faca para ao meu peito, mergulhou a lâmina rapidamente e começou a serrar. Meu corpo se mexia involuntariamente, diante da dor terrível. Era como se Kishan estivesse arrancando meu coração e meus pulmões. Eu não conseguia respirar e senti meu corpo se enfraquecer. Então eu perdi a consciência. Eu não ouvia nada. Eu não sentia nada. Só escuridão e frio. Então calor.


Aos poucos, eu comecei a sentir meu corpo se aquecer. Percebi uma luz dourada através de meus olhos fechados. Comecei a sentir o sangue correr novamente pelo meu corpo, minhas forças se restabelecerem. Então eu senti meu coração bater. Junto a ele, o coração de Kelsey. Senti sua cabeça em meu ombro e abri os olhos.

A luz dourada brilhava ao nosso redor. Era o poder de Kelsey, aquele raio de luz dourado que ela emitia quando eu a tocava. Era a energia de Kelsey que penetrava em meu corpo e me curava. Minha Deusa estava comigo.

Eu já estava completamente curado, mas Kelsey continuava emitindo sua energia em mim. Ela não havia percebido que eu acordara. Eu toquei em seu pulso e disse com delicadeza:

Priya, você deve parar.

— Não posso parar — ela murmurou sem abrir os olhos. — Ren precisa de mim.

— Eu sempre preciso de você.

Ela estava exausta e nós precisávamos sair daquela montanha. Eu a ergui em meus braços e beijei sua bochecha, com todo o meu carinho, minha devoção e minha gratidão. Kishan veio rapidamente até mim.

— Ela se desgastou tentando te salvar.

— Ela precisa de tempo para se recuperar, para descansar.

— Eu posso levá-la. Você ainda está fraco.

— Eu estou forte o suficiente.

Kishan protestou, querendo tomá-la de mim. Eu não queria me separar dela. Ela era parte de mim e eu precisava me sentir inteiro. Eu falei baixinho, implorando para o meu irmão:

— Ela vai ser sua para o resto de sua vida, irmão. Deixe-me abraçá-la por agora.

Não houve resposta de Kishan.

Eu mantinha Kelsey em meus braços, enquanto Kishan tentava encontrar uma forma de sairmos daquela montanha. Eu olhava para o rosto de Kelsey e ela dormia tranquilamente. Isso me acalmava. Ela era minha vida. Era impossível viver sem ela.

Kishan voltou dizendo que não havia como descermos, precisaríamos dos gêmeos. Ele gritou por eles, até que os dois vieram e concordaram em nos levar para baixo. Eles moveram as mãos e nós estávamos entre as árvores de fogo. Kishan pediu uma barraca ao lenço e eu entrei com Kelsey, a coloquei no chão e deitei a seu lado. Kishan também estava exausto e deitou-se do outro lado.

Eu acordei mais tarde e vi que Kelsey estava sentada. Eu me remexi e toquei seu braço.

— Kelsey? Como você está?

— Com fome — sussurrou. — E sede também. Onde estamos?

— Nós chamamos os Lordes da Chama, e eles nos colocaram aqui em baixo, junto com as nossas armas. Seu arco e flechas foram devolvidos, e nós temos o Lenço Divino e o Fruto também.

— Você está... curado?

— Eu estou bem. E você?

— Eu estou realmente com fome.

— Será que vocês dois podem ficar quietos? —Kishan resmungou sonolento.

Kelsey lhe afagou as costas e beijou o rosto.

— Sinto muito. Volte a dormir.

Kishan dormiu imediatamente, e Kelsey me olhou. Nossos olhos se encontraram. Eu suspirei, feliz por estar com ela. Mesmo sem tocá-la, eu podia senti-la. Ela me amava. E eu a amava de uma forma tão plena. Eu só era eu mesmo quando ela estava comigo. Eu só era completo, quando Kelsey estava por perto.

Estava decidido, mesmo que eu não pudesse tê-la, ainda que ela pertencesse a meu irmão, eu pertencia a ela. E não iria ficar longe dela. Eu sempre estaria por perto. Eu precisava dela.

Kishan não demorou a acordar e disse que precisávamos levantar acampamento.

— Ugh. Eu não estou no meu melhor jeito esta manhã — reclamou Kelsey, esticando o corpo.

Instintivamente, caminhei em sua direção, mas Kishan a abraçou e eu parei.

— Você está forte o suficiente para continuar hoje? Ainda há um guardião com quem lutar.

— Não há pressa. Ela gastou muita energia ontem. Pode precisar de mais tempo.

Kelsey fez uma careta.

— Há uma espécie de razão para a pressa. Os Lordes da Chama deixaram bem claro que devemos desocupar o local, antes de voltarem com força total.

Kishan garantiu:

— Vamos devagar. Manteremos Kelsey ao nosso lado enquanto combatemos a criatura.

Kishan e eu começamos a juntar nossos pertences, enquanto Kelsey caminhou em direção às árvores. Quando voltou, ela colocou um braço ao redor da minha cintura, o outro na de Kishan.

— Eu estou pronta.

Meia hora depois, nós três estávamos agachados atrás de alguns arbustos.

— Então a Quimera é um gato? — Kishan perguntou.

Seu nariz se contraiu, e ele passou os dedos levemente ao longo de algumas marcas de garras em uma árvore de fogo.

— Mais ou menos — Kelsey respondeu. — Ela é um pouco mais como uma leoa, mas também tem a cabeça de uma cabra e uma cauda de cobra.

— Nós estamos em seu território — acrescentei.

— Sim — Kishan esfregou o queixo. — Você pôde farejá-la?

Assenti.

Só então uma série de estrondosos rugidos ecoaram por entre as árvores.

— Isso é uma proposta — disse Kishan.

A criatura tinha nos farejado e queria acasalar-se.

— O quê? — perguntou Kelsey. — Como assim?

Kishan lhe explicou:

—Ela está à procura de um companheiro.

—Oh. O que... hum... O que isso significa para nós? É uma coisa boa ou uma coisa ruim?

— Pode ser uma coisa boa. Podemos trabalhar em nossa vantagem — disse Kishan.

Kelsey nos olhou confusa e eu expliquei:

— O que ele quer dizer é que ela vai ser facilmente distraída.

Kishan limpou a garganta com uma risada profunda.

— E eu voto que você deve ser o único a distraí-la enquanto eu pego a Corda.

— Que tal você distraí-la, e eu vou pegar a corda?

— Por que vocês dois não a distraem, e eu vou pegar a corda?

— Não — ambos dissemos ao mesmo tempo.

— Eu vou — Me ofereci. — Apenas faça isso rápido. — e corri para o meio das árvores, transformando-me em tigre.

O destino do tigre - POV tigresWhere stories live. Discover now