"Ei!" gritou Vilde, fazendo todos se calarem. "Existe a hora de falar e a hora de escutar. A hora de vocês falarem não é agora", ela mexeu o dedo indicador de um lado para o outro. "Aguardem que vocês terão essa oportunidade. Agora, deixem-me explicar".

A professora caminhou até o cartaz e apontou para seus diferentes elementos enquanto explicava a turma como seria feita a escolha de personagens para a peça:

"Notem que há um espaço em branco aqui em baixo e um espaço coberto aqui em cima. É lógico que o nome das personagens já está aqui. O que vamos fazer é: cada um de vocês vai aleatoriamente escrever seu nome nesse espaço e, depois, vamos checar qual é a personagem que corresponde ao seu nome. Simples assim".

"É isso, professora?" perguntou um aluno com o cenho bem apertado.

"É isso", Vilde deu de ombros e torceu os lábios.

"Como vamos saber se a pessoa serve para o papel?" perguntou uma menina próxima a Isak.

"Essa é a sacada: tudo em prol da personagem. Notem que aqui pode acontecer qualquer coisa: o papel não vai distinguir vocês por raça, nem por aparência, nem por voz, nem por gênero. Costumávamos colocar a personagem a mercê do ator ou atriz. Agora, vocês estão a mercê da personagem!" Vilde sorriu empolgada com isso. Um sorriso meio perverso, Even notou. Não sabia decidir se ela era fresca ou descolada. Talvez fosse apenas louca.

"Não gostei. E se eu ficar com um personagem que é mulher?" perguntou um garoto.

"Tem peruca aí atrás", a professora apontou para os bastidores, "não te preocupa". Algumas pessoas riram. Vilde sentiu vontade de rir também, mas disfarçou com um sorriso desdenhoso.

"Professora", levantou a mão uma menina ao lado de Even, quase espantando-o, "qual é mesmo a peça?"

"Ah, sim!" Vilde foi até a cadeira e pegou um livro encadernado. Segurou-o como em uma exposição e apresentou: "A Bela Adormecida. Mas essa é a minha versão, o que quer dizer que vai ser mais madura e um pouco mais..." torceu a cabeça de um lado para o outro e pensou em uma palavra que lhe apetecesse: "sombrio... digamos assim".

"Só quero ver", murmurou um menino diante de Isak.

"Ei, Jonas. Já pensou você fica com uma fada?" brincou um dos meninos sobre o garoto que disse que não queria papel de mulher. Os demais riram e a professora teve que intervir:

"Sim, qual o problema dele representar uma fada? É melhor do que representar um babaca!" ela disse solenemente, fazendo as pessoas ecoarem "oh" e se calarem em pouco tempo. O aluno que levou a resposta ficou pianinho. "Enfim, vamos lá ver quem é quem. De um por um, venham escrever o nome de vocês!"

Vários se levantaram ao mesmo tempo e fizeram uma fila diante da escada para o palco. Não foi o caso de Even e Isak, que se mantiveram sentados como se nada estivesse acontecendo. Even pensou se essa não seria a melhor oportunidade para finalmente escapar. Isak não fazia questão de se meter no meio do pessoal, então decidiu que ficaria com o último espaço livre.

"Sim, vocês dois", Vilde apontou para Isak e Even. "Estão esperando o quê? Um convite? Venham escrever o nome de vocês. Ou querem que eu chame um táxi?"

"Uma limusine, melhor, professora", disse Even se levantando dois segundos depois. Isak decidiu manter seu plano.

"Vou ficar com o que sobrar", disse ele a Vilde.

"Tem certeza?" perguntou-lhe com o canto da boca puxado, ar de desdenhosa. Em resposta, Isak apenas assentiu. "Você que sabe!" ela deu de ombros.

Even nem fez questão de escolher. O papo de "um por um" já tinha ido por água abaixo, então apenas escreveu seu nome no primeiro espaço em branco que encontrou e retornou ao seu lugar. Pouco a pouco as pessoas foram se sentando e começaram a conversar sobre os papéis para tentar conter a ansiedade.

An Act of Kindness (EVAK Short Fic)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora