ACT.I: Conflict

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ISAK JÁ ESTAVA NO TEATRO QUANDO EVEN CHEGOU, mas não notou quando ele passou próximo de si e sentou atrás dele. Estava conversando com alguns colegas, pessoas que ele não tinha afinidade nenhuma, mas que conversava para passar o tempo. Pessoas que nem sequer lhe dariam tchau ao sair ou lhe cumprimentariam quando o vissem na cantina. Isak muito mais preferiria estar ouvindo música ou lendo alguma matéria, mas não queria se passar pelo chato, pelo deslocado, o emo da escola.

Even estava sozinho, sentia-se perdido no meio daquela gente e até pensou em ir embora antes de começar. Não entendia porque somente ele segurava o pão que a professora ofereceu quando ele entrou e até ficou receoso quanto ao sabor. Talvez uma peça estivesse sendo pregada nele, então, para não parecer rude, guardou o pão no bolso e disse a sim mesmo que os outros fizeram isso também. Ou já haviam comido. Tanto faz!

O teatro era organizado de forma circular, de modo que o som possa ecoar para todos os cantos e de modo que as fileiras de poltronas se assomando uma atrás da outra possam estar dispostas tendo o centro como foco. Todos os olhos voltados para o palco vermelho amarronzado em que a professora Vilde se punha de pé com um cartaz enrolado em suas mãos.

"Boa tarde, corpo!" ela saldou a todos, fazendo os grupos se calarem pouco a pouco e os alunos se ajeitarem em suas poltronas. Isak agradeceu mentalmente por isso. Finalmente iria começar. Even havia perdido sua chance de ir embora. "Já espalharam amor hoje?" perguntou em entonação. Vilde dá aula como se já estivesse atuando. Apesar da energia cativante, ninguém responde. "Tudo bem, não sejam tímidos. Apesar de alguns rostos novos estarem entre nós, glória a isso!"

Even sentiu seu rosto queimar e não pôde evitar abaixar a cabeça disfarçadamente e coçar sua nuca. Temia que a professora lhe pediria para se pôr de pé e se apresentar e se amaldiçoou por não ter ido embora quando pôde. No entanto, a professora, como se ouvisse seus pensamentos, advertiu:

"Não se preocupem, não vou fazer ninguém se apresentar. Por enquanto... Eu tenho uma introdução".

Descansou o cartaz sobre uma cadeira e caminhou pelo teatro enquanto explicava a turma sobre a proposta desse novo semestre. Técnicas de expressão. Estratégias para obter o tom desejado. Simulação de emoções. Treino vocal e facial. Gêneros dramáticos. Voz de narrador, voz de personagem. Enfim, tudo que uma pessoa deveria saber e executar quando deixasse de ser pessoa e se tornasse personagem.

"Mas dessa vez, eu quero ir além!" dizia Vilde. "Eu quero incentivar vocês a quebrar qualquer resquício vaidoso para que possam se tornar essencialmente aquilo que devem criar. Portanto, eu tenho aqui em mãos", ela puxa o cartaz novamente, "uma proposta de teatro revolucionária".

Os alunos que olhavam com interesse ficaram maravilhados e ansiosos. Os alunos que olhavam com desdém passaram a ficar curiosos. Isak prestava atenção em tudo de forma quieta enquanto Even ainda se perguntava o que estava fazendo ali.

"Essas são ideias que eu tirei de um teatro japonês e decidi aplicar nesse semestre. Agora mesmo, eu quero que vocês entendam que a coisa mais importante de um teatro para vocês, atores, são suas personagens. Vocês tem que dar alma a elas, senão... o teatro não é nada!"

Vilde se virou de costas e desenrolou o cartaz, pendurando-o aberto em um cavalete. Todos ficaram presos ao seu conteúdo, apesar de não entenderem nada. Haviam várias linhas verticais ou diagonais no centro e retângulos no fundo. Ao topo, um filme extenso de cor alaranjada cobria alguma informação.

"Se o que mais importa são as personagens, logo, não importa quem vocês são; o que importa é o que farão com o papel de vocês. É por isso que, para esse semestre, nós não teremos audições".

"O quê?" gritou alguém indignado.

"Graças a Deus", outra pessoa demonstrava alívio.

"Como assim não vai ter audição?" as pessoas começavam a fazer barulho no teatro.

An Act of Kindness (EVAK Short Fic)Where stories live. Discover now