"E a vida continua, com ou sem qualquer um."
— Caio Fernando Abreu.
***
Vazio.
É isso que eu me tornei depois do que você fez comigo, nada parecia me completar, nada parecia ao menos fazer algum sentido. E toda noite eu relembrava nossos momentos ao som de alguma música lenta da minha playlist do Spotify. Chorando, por que chorar era a única coisa que não cobrava força física de mim, e chorar me fazia crer que aquilo que vivemos foi real. Ao menos para mim.
No exato dia que eu lhe bati na escola, meus pais descobriram do vídeo e vieram me consolar em meu quarto. Eu estava afundado em lençóis e lágrimas quando minha mãe entrou devagar, sem meu pai. Ela também tinha lágrimas.
Minha mãe sentou na beirada da cama e acariciou meus cabelos solenemente e colocou minha cabeça em suas pernas por cima da saia longa que usava naquela tarde. Eu abracei seus joelhos e chorei mais forte, todo meu corpo queimava por dentro e meu estômago embrulhava.
Aquilo era sensação de ter um coração partido? Por Deus, era pior que todos os infernos existentes.
- Ah Henrique, isso vai passar. - sussurrava.
Sim mãe, eu sabia que ia passar, mas só queria saber quando.
Quando? Quando? Quando?
Eu permaneci em silêncio, não tinha forças para falar, e nem queria para dizer a verdade. Então, ouvimos um barulho vindo da casa ao lado e ela se levantou pondo minha cabeça sobre o colchão e andou até a janela.
Naquele instante eu não sabia o que ela tinha visto, mas quando ela falou
- Aquele desgraçado vai pagar por ter feito meu filho chorar.
Eu sabia o que era.
Ela correu pela escada e eu me levantei rápido com medo do que iria fazer. Minha mãe estava possessa de ódio. Consegui acompanhá-la quando a mesma estava em frente à porta da sua casa.
- Para mãe. - tentei falar, mas saiu como um breve sopro, baixo e silencioso.
Sua mãe abriu a porta assustada.
- Nicole, o que faz aqui?
- Cadê seu filho?
- Está lá em cima. O que aconteceu? Henry?
Sua mãe olhou por cima do ombro da minha mãe e me encarou com carinho. Ela não sabia do vídeo, e quando retribui o olhar dela, eu chorei, e virei o rosto para o lado com os braços cruzados. Envergonhado. Ela não mereceria o filho que tinha.
Então você apareceu no topo da escada, com o gelo sobre o olho que soquei.
Minha mãe não teve nem tempo para pensar, ela empurrou sua mãe da frente e foi até você.
- Nicole, eu sinto muito. - você parecia pedir com sinceridade.
E como resposta, minha mãe deu um tapa em seu rosto que verbalizou por toda a casa, pus a mão na boca chocado com o que acabei de ver.
- Nunca mais chegue perto da minha família está me entendo?
- Sim senhora.
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Eu estou perdido
Romance"Eu estou perdido, Bruno. Perdido em você, perdido em mim, perdido no mundo." *** Aqui estará posta nossa breve e longa história. Tudo que vivemos, tudo de ruim e bom. Tudo que precisa ser dito. Se eu sinto sa...