Epílogo:

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EPÍLOGO

 — Já disse para você em algum momento que não gosto muito de surpresas? — reprimi pela milésima vez a vontade de começar a rir e apenas segui guiando Julieta pelo caminho, desviando de algumas pessoas que transitavam pela calçada. — Na verdade, Gabriel, preciso ser muito sincera e dizer que não gosto nada  de surpresas e... Ai! 

Ou de quase todas.

— Você é muito chata. — sussurrei contra seu ouvido logo após pedir desculpas ao cara da bicicleta por ter derrubado seu meio de transporte. — Todo mundo, lá no fundo, gosta de uma surpresa, Julieta.

Ela resmungou alguma coisa que não consegui entender, mas pelo menos parou de tentar retirar minhas mãos que tapavam seus olhos, aceitando que eu não me renderia tão facilmente ao que ela queria. Pelo menos não daquela vez.

— Nem todo mundo, não. Minha mãe, por exemplo, ela realmente não gosta de surpresas. — ela voltou a falar, parecendo menos ansiosa, mas não menos curiosa. —  Eu até acho que gosto, mas não curto essa ansiedade e... Estamos na praia?   

Depositei um beijo leve no seu ombro, não negando e muito menos afirmando que nós estávamos sim na praia. Julieta, quando queria, conseguia ser mais curiosa do que o gato dela. E, quase sempre, conseguia descobrir tudo. Certo, tudo bem, a culpa em partes é minha que nunca consigo esconder nada dela, mas dessa vez seria diferente. 

Aquele seria um dia importante e eu seguiria com o plano até o final.

— Falando em mães...— resolvi provocar um pouco

Gabriel...

— A minha quer conhecer você. — brinquei.

— Mas a sua mãe já me conhece desde que eu, sei lá, usava fraldas. — Julieta resmungou.

E a verdade é que minha mãe havia a conhecido nesse tempo mesmo. Julieta era tão parte da minha família quanto Laura e eu éramos, ela sempre esteve presente como a melhor amiga da minha irmã mais velha. Só que agora... Agora as coisas mudaram um pouco. Ela poderia continuar sendo melhor amiga da Laura e poderia continuar chamando meus pais de "tia" e "tio", mas poderia começar a se acostumar com a ideia de os chamar de sogros também.

— É, mas ela não conhece você sendo a minha namorada. — e apenas com a menção da palavra, o corpo dela ficou tenso contra o meu. Ela poderia afirmar quantas vezes quisesse que não ligava nada para o fato de um pedido de namoro ainda não ter ser feito, mas eu sabia que ela ligava sim. E não era pouco. — O que foi?

— Nada. — ela resmungou e aproveitando que ela ainda não poderia me ver, sorri.

Julieta poderia afirmar quantas vezes quisesse que a falta de um pedido de namoro não a afetava em nada, todavia era bem claro que fazia diferença sim. Não apenas para ela como para mim também. Só que... Não é fácil pedir alguém como Julieta em namoro. 

Não mesmo.

Mesmo que de uns tempos para cá ela tenha ficado mais "tranquila" em relação aos clichês isso não significava que ela os acolhia de braços abertos. Não. Julieta continuava a fugir e a repelir boa parte de tudo que ela achava clichê. Como pedir alguém que diz odiar todo tipo de clichê em namoro sem parecer... Clichê?

— Nada mesmo?

— Nadinha de nada. — ela afirmou. — Você pode parar de tapar meus olhos agora?

Ao invés de responder, deslizei minhas mãos para longe do seu rosto, deixando que Julieta pudesse ver o mar a nossa frente e a areia que nos cercava. Ela havia acertado: nós estávamos na praia. Só não estávamos na praia para passar um dia nela como todas as outras pessoas estavam.

Clichê | ✓Where stories live. Discover now