Introdução

Os juizes

           Se você já leu este livro, concordará comigo ao afirmar que, de juízo, esse livro só tem o título, mas, isso por que nossa ideia de "Juiz" é bem mais recente e definida que a palavra hebraica shophet, que significa "juiz", e vem do verbo shaphat, que significa "executar o processo de governo"; de modo que quando olhamos para os "juízes" descritos nesse livro, tendemos a imaginá-los muito mais como indivíduos sem juízo, que legisladores ou governantes.

        Na verdade, os juízes destes livro não exercem autoridade segundo os conceitos propostos por Montesquieu com a tripartição dos poderes de governo de uma nação (Poder Legislativo, Executivo e Judiciário), mas, segundo os planos de Deus, foram pessoas responsáveis por libertar o povo da opressão causada pelo pecado, obstinação e desobediência à Deus.

         O livro é escrito da perspectiva profética de que o povo pecou, colocando sobre si mesmos as maldições descritas anteriormente no livro de Deuteronômio, sendo merecedor de todo castigo; por outro lado, o livro também exalta Deus, como Pai da nação, que repreende e corrige a fim de que retornem para seu bom caminho, Deus é ainda, justo e misericordioso, assim, por mais que o povo peque, Ele está sempre disponível para fornecer uma forma de salvação.

         O livro de Juízes abrange um período descrito não só neste livro mas também em Rute e no começo do livro de Samuel, e expõe um triste ciclo que se estabeleceu em Israel quando a 2ª geração de israelitas morreu:

Pecado > Opressão > Clamor > Juiz > Luta > Liberdade > Pecado

Quando o povo entra em Canaã, Deus diz claramente:

"Tomem posse do que prometi aos seus pais por herança, não deixem nenhum dos atuais ocupantes vivos"

         Mas, provavelmente, o povo -obstinado que era começou a olhar para os "carros de ferro", a "altura" de seus oponentes e seus "números", que desanimou, esqueceram-se quem Deus É de todos os seus grandiosos feitos no meio deles; talvez o povo tenha se cansado de matar e conquistar, e decidiu fazer diplomacia com os habitantes da terra... infelizmente, o povo com isso profanou o nome de Yawhe, que os havia libertado com poderosa mão do Imponente Egito, os conduzido pelo escaldante deserto e livrado das mãos de diversos e traiçoeiros inimigos, mas isso não foi "suficiente", assim que possível, valorizaram deuses de barro, pedra, bronze e ferro -contra quem eles haviam lutado e vencido; eles assim colocaram a justiça de Deus a prova, e ela não falhou, assim como seus planos, Deus usou esse momento para enraizar nos corações hebreus algumas lições profundas tais como:

"Amarás  o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de todo teu entendimento e com toda tua força"

"O Senhor, teu Deus, é o único e verdadeiro Deus"

"Deus é justiça consumidora e incorruptível, mas também é amor e longanimidade, perdoador dos que o buscam e obedecem"

          Ao longo do livro são descritos 12 juízes, que, de acordo com seus feitos, foram divididos em Maiores ou Menores.

         Juízes Maiores, são os que lutaram pela libertação de Israel da opressão inimiga, que assumiram o protagonismo de convocar e encorajar o povo a se voltar para Deus, e, confiando somente nEle, enfrentar e expulsar os inimigos invasores, são eles: Otoniel, Eúde, Débora e Baraque, Gideão, Jefté e Sansão, que nos ensinam duas grandes lições, (1) Deus usa qualquer um, a despeito de cultura e sociedade, e (2), em vida, devemos fazer a diferença, sermos diferentes do mundo de trevas e perversidade que nos cerca, devemos seguir os caminhos de Deus, buscando conhecê-Lo e obedecer sua vontade.

        Os Juizes Menores, foram pessoas usadas por Deus para manter a ordem em certas regiões -provavelmente em tempos de paz, e em geral, é citada a família (clã e tribo), as riquezas e posses do mesmo, pois em um mundo de "influências" e "honra", estes aspectos eram muito válidos para manutenção de paz e promoção de segurança.

         Assim, por mais triste, e por vezes repetitivo, que possa parecer, a leitura deste livro é de grande importância para nós -cristãos- pois apresenta exemplo do que fazer em tempos de dificuldades, nos ensina sobre a importância de não desistir da caminhada, da cruz e da missão proposta por Cristo. Vivemos na verdade, em um mundo de trevas, de egocentrismo e de coisas passageiras, de modo que, a leitura deste livro nos convida, hoje, para uma restauração espiritual, que voltemos aos primórdios dos ensinos de Cristo e seus apóstolos, vivendo segundo estas regras simples, diretas e por vezes difíceis, de modo que não caiamos no grande erro de abandonar Deus, a luz de seus ensinos e fartura de suas promessas.

  "Pelos teus mandamentos alcancei entendimento; por isso odeio todo falso caminho.  Lâmpada para os meus pés é tua palavra, e luz para o meu caminho. Jurei, e o cumprirei, que guardarei os teus justos juízos." Salmo 119 verso 104-6

Curiosidade:

          Alguém pode dizer que Deus é machista, e na verdade, todos podem dizer o que quiserem, mas, na leitura simples da Bíblia vemos que quando o indivíduo, seja homem ou mulher, entende e obedece a vontade dEle, Ele não faz diferença entre sexos, mas usou e usa muitas mulheres para contornar a história segundo seus bom propósito. Assim, não é uma questão de feminismo ou machismo, mas de aceitação que Deus deu aos homens e as mulheres funções diferentes, gosto de pensar que quando Deus olha lá de cima, para Ele um homem não é mais importante que uma mulher, nem que um rico valha mais que um pobre, mas Ele vê pessoas, que nasceram com uma sede insaciável de amor e paz, que só Ele pode preencher, aceitar Seu amor, implica em amar, e onde existe amor não existe nenhum tipo algum de secção, fragmentação ou hierarquização, pois todos se reúnem a borda do trono de Deus afim de O louvarem e serem guardados até o último dia. 

          É valido refletir que Deus, foi o primeiro autor a usar uma mulher como protagonista, em todas as cenas do grande espetáculo que foi expor ao mundo seu bom propósito de nos ter com Ele, se liga no próximo capítulo: "Rute, a Companheira".