Capítulo 6: O secular ritual élfico

60 8 7
                                    

Felágia espreitava sozinha pelas sombras, sabia que estava cercada por terríveis criaturas que vinham proclamar vingança pelos seus que foram tombados cruelmente pelo martelo da nórdica. Martelo este  que ainda gotejava com seu grosso sangue. 

Sem sua antiga companheira elfa, separadas desde sua trágica briga, a única companhia da garota do norte era seu poder de detectar vida que havia aprendido quando era noviça na ordem de paladinos. Habilidade essa muito útil para lidar com as criaturas sorrateiras que estava enfrentando.

Havia percebido entre as caixas o movimento dos três monstros, andando rapidamente em sua volta na escuridão. Ela calculava friamente qual seria seu próximo movimento. Sabia onde eles estavam posicionados, mas tal informação não era correspondida por seus inimigos, o que lhe dava uma possível vantagem.

Conduziu seus dedos com firmeza através da haste do martelo e com uma agilidade adquirida com o treinamento recebido pela elfa, golpeou decisivamente os três últimos grandes ratos do porão da taverna. Um trabalho não muito nobre, mas o único que pagado pelos seus serviços até então.

— Criaturas medonhas essas — disse o taberneiro ao ver que Felágia trazia os grandes ratos pelas caudas, mostrando que o serviço fora cumprido. — Dificilmente encontro alguém de sua habilidade para poder caçá-los por mim, eles se escondem muito bem.

— Estou a disposição quando precisar. Está difícil conseguir trabalho nessa cidade, seria legal se você pudesse recomendar meus serviços. — disse Felágia enquanto guardava os corpos numa caixa de madeira, onde o dono do taverna supostamente irá enterrar futuramente.

— Pode deixar, aqui está o seu pagamento. Três moedas de cobre por um trabalho bem feito.

— Três moedas? Tínhamos negociado cinco moedas. Acredito que o valor esteja errado?

— É mesmo? Acredito que houve um desentendimento, pois só tenho as três moedas comigo. Você não quer criar um caso sobre isso, não é mesmo? Não posso recomendar o serviços de alguém que só causa confusão e discórdia.

Felágia sabia que tinha negociado cinco moedas, uma para cada corpo. Não era boa de conversa nem de negociação, isso sempre ficava ao cargo da amiga elfa. E não querendo perder a chance de arrumar um novo emprego, acabou aceitando desvantajosa oferta.

As parcas moedas mal puderam pagar um lanche que a nórdica agora consumia sentada próxima a fonte da praça central da cidade. Tivera que vender sua formosa capa para continuar mantendo algum luxo em sua vida. Ainda que teve de dormir na mata em acampamentos improvisados na maioria dos dias que se passaram.

A jovem loira e de largos ombros toma seu tempo para admirar o clima na cidade. Os primeiros ventos mais úmidos e frios sopravam, tomando espaço ao clima seco que estivera antes e assim anunciando uma nova estação. Lembrava que quando havia terminado o tempo de calor a uma estação atrás, não poderia voltar sentar-se nessa praça tranquilamente pois estava jurada de morte pelo império. Parte de uma trapaça feita pela ardilosa elfa.

Também se lembrou do tempo antes de conhecê-la, quando sentada nessa praça ponderava sobre a possibilidade de mendicância para não sucumbir à fome. Uma ideia que hoje parece voltar a ecoar em sua mente. Felágia sabia que não conhecia muitas pessoas e por isso penava para conseguir algum trabalho.

Ainda observando o redor, a nórdica percebeu como que tudo na praça comercial continua o mesmo. Os pássaros ainda insistem em cantar, o comércio continua a prosperar e todas as pessoas prosseguem com suas pequenas rotinas. Em comparação, Felágia ponderava como que sua vida havia mudado nesses dias, que tipo de aventuras e experiências tinha presenciado.

Lendas de Midgard: A Elfa e a NórdicaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora