Capítulo 3: Dançando com o destino

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Felágia tinha uma flecha atravessada em seu braço esquerdo e resmungava de dor com algumas lágrimas escorrendo eu sua face. Devotchka estava ao seu lado esquerdo e gritava energicamente para ela, aumentando ainda mais a pressão sobre a jovem paladina.
— Você não está dizendo certo, é "saeniethatium". Você deve se concentrar melhor e focar na sua dor, e não deixar que ela te domine.

— Samnietathium... eu não consigo, a dor é muito grande.

— Concentre-se Felágia, temos que avançar logo seu treinamento. Você já tinha que ter aprendido a se curar sozinha.

— Senietharium... Eu não posso, por favor, tire essa flecha de mim.

— Tudo bem — disse a elfa enquanto arrancava a flecha do braço de sua amiga, que reagiu com um estridente grito de dor. — Tome essa poção que logo seu braço cicatriza e a dor passa. Preciso ensinar você a ler e a escrever, sua pronúncia ainda está horrível. Você não consegue visualizar as palavras na sua mente.

— Eu nunca consegui me habituar com a língua latina... desculpe.

— Eu também tive dificuldades. Prefiro com todo carinho falar minha língua élfica, ou mesmo os dialetos nórdicos. Mas para se virar dentro do império e aprender magias de suas divindades, é necessário aprender o alfabeto latino.

— Você poderia pelo menos explicar por que essa pressa toda no treinamento, por favor...

— Está bem! Levará um tempo até você se recuperar mesmo. Diga, o que quer saber.

— Quem era o goblin que nos seguia na praça comercial?

— Não faço ideia. Mas pela roupa, imagino que seja um novo capanga da minha antiga irmandade de assassinos.

— Por que eles agora desejam sua morte?

— É tudo um pouco complicado. Quando entrei na irmandade eu não questionava minhas ações, apenas procurava cumprir meus contratos e seguir com minha vida.

— Muito nobre da sua parte. — disse Felágia ironicamente.

— Pois foi justamente quando eu comecei a ter crises de consciência que tudo ficou mais difícil. Percebi que não era certo o que estávamos fazendo e fui a primeira a perguntar as motivações e com isso, selecionar melhor os contratos.

— O que não deve ter sido muito bem aceito.

— Nem um pouco. Ilgarnia, uma elfa da noite traiçoeira e metida, disse que foi assim que a irmandade foi criada. Que era o desejo de Mirkur, sem perguntas, apenas ação. E que questionar sua sabedoria traria má sorte a todos os irmãos. Então eu comecei a ter ideias... transgressoras. Convenci os poucos amigos que tinha feito lá dentro a sair e fundamos nossa própria ordem de assassinos.

— Você nunca foi boa em receber ordens.

— Não mesmo. O que importa é que conseguimos fazer essa guilda nova, essa que atualmente faço parte, e pretendo te iniciar. — Enquanto falava, Devotchka mostrava seu anel de iniciada com pomposa elegância. — Aos poucos fomos deserdando um a um da irmandade e fortalecendo a guilda. Porém Ilgarnia começou a suspeitar de nossas ações e prometeu vingança a todos nós. Desde então a antiga sede do clã foi consumida num grande incêndio e nunca mais ouvimos falar dela ou da irmandade. Até pouco tempo atrás, quando um dos nossos associados apareceu morto, com a túnica da irmandade sob seu corpo.

— Que terrível.

— Decidimos ficar separados e escondidos por um tempo, mas as mortes não pararam. Sobraram apenas Kallis e eu.

— Pois por que estamos paradas aqui? Nós devíamos estar treinando para ir enfrentar essa nefasta elfa da noite.

— Que bom que pensa assim. — Devotchka sacou o seu arco e acertou uma flecha em cada braço de Felágia, fazendo com que a nórdica gritasse de dor. — Agora concentre-se na dor, levante o punho e repita comigo, "saeniethatium".

Lendas de Midgard: A Elfa e a NórdicaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora