— Viu só o que eu perdi por ter essa timidez doentia? — ele resmungou chateado.

— Como você toca nas festas se tem tanta vergonha? — perguntei curiosa, notando que seu rosto estava corado.

— Eu bebo — ele confessou. — É o único jeito de conseguir tocar. E ser DJ não é um passatempo, é o que quero fazer para sempre, então preciso me esforçar muito.

Seu corpo estava ainda mais quente por baixo da camiseta. Me aninhei novamente em seu peito. Passou pela minha cabeça que eu ouviria seu coração batendo pelo resto da minha vida.

— Mesmo tímido, você conseguiu melhorar meu humor — sussurrei.

Ele riu e eu mordi o lábio sentindo sua temperatura me esquentar. Minhas bochechas também estavam coradas.

— Posso fazer uma pergunta? — ele quis saber depois de pigarrear para limpar a garganta.

— Claro.

— Sobre o que aquelas garotas estavam falando? Sei que elas são idiotas, mas isso afetou você. Só queria entender.

Senti a dura realidade me atingir de novo. Cenas de treze anos atrás inundaram minha cabeça. Coisas que nenhuma criança deveria presenciar. Então as memórias horríveis desfilaram na minha mente, fazendo minhas entranhas doerem.

Me encolhi no peito de Axel e senti as lágrimas voltando.

Um medo horrível me dominou, fez meu corpo sacudir com os arrepios. Algo que eu estava tentando ignorar havia dias. Eu faria dezoito anos dali a poucas semanas, então conheceria o inferno de verdade.

Eu poderia fugir? Sim, poderia. Só que, em uma cidade onde todos olhavam para mim com desprezo, ninguém me daria emprego. Eu já tinha procurado muito. Como disse, vivia em uma região onde sofria preconceito pelo que minha mãe fez, e eu não teria chance de conseguir algum serviço decente. Poderia ir para outra cidade, sim. Mas eu não era corajosa, determinada e nem destemida. Não era valente como essas garotas que lemos nos livros. Eu tinha crescido como um cachorro que apanha do dono e ainda volta para seu lado, era submissa, acostumada a obedecer, a não ter ambições, a abaixar a cabeça e aceitar tudo que acontecia comigo. Não tinha estrutura psicológica para fugir de casa para um mundo que eu sabia muito bem que poderia ser pior que meu tio.

Chegar à conclusão de que, por mais que eu quisesse sumir, não teria coragem, fazia o medo se intensificar, ser tão apavorante que me deixava sem fala.

— Tem algo a ver com o motivo de você morar com seus tios? — Axel insistiu, mas com gentileza.

Era uma surpresa ele não conhecer a história dos meus pais. Praticamente todo mundo da cidade sabia — e me julgava como se fosse minha culpa ser filha deles.

Fiz que sim com a cabeça, sentindo minha garganta travada.

— Tudo bem se não quiser me contar agora — ele murmurou.

— Obrigada — falei aos sussurros.

— Me conte quando se sentir à vontade. Talvez eu possa fazer alguma coisa para te ajudar.

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Por minha causa, um dos melhores alunos da escola estava chegando atrasado na primeira aula de Biologia.

Mesmo com o olhar espantado e um tanto furioso do professor, Axel permaneceu com sua mão esquerda na base da minha coluna e me guiou até nossos lugares.

Dava para sentir todo mundo da turma nos olhando, mas tentei fingir indiferença. Nos últimos meses, Axel Hansson tinha alcançado um elevado nível de popularidade, graças a seu sucesso como DJ (mesmo que ele não ficasse à vontade com isso). Toda a sala sabia quem ele era, porque a maioria já tinha ido a uma festa onde Axel se apresentava. E Lucy Peter era a garota esquisita que todo mundo tentava evitar.

Nem Todos Os Príncipes Usam Coroa (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now