12. Amor

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​Uma semana depois.

A galáxia representa teus braços:

Diz respeito ao limite de minha fúria;

Rege os caminhos da ansiedade,

Protege os planetas como me proteges.

Galáxia é aconchego.

Dr. ª Patricia segura o pequeno bloco de anotações em ambas as mãos e sorri. Ela está contente com o que acabou de ler. De fato, devo admitir que é bonito, mas, sinceramente, não tenho a menor ideia do porquê de ler isso. Ela nunca lê nada do que escreve para mim. Eu nem sequer sabia que escrevia sobre os céus, achei que fossem sobre mim.

— Gostou, Henry? — balanço a cabeça em concordância. — Fiz para você, porque sei que adora o espaço. Confesso que não é uma de minhas melhores, porém me esforcei.

— É bonito.

Sua assentida sutil me expressa um agradecimento, então, devolvo-lhe um sorriso.

— Agora é a sua vez. — a psicóloga estende a mão em direção, guiando meu olhar.

Espanto.

Vejo a pilha de livros colocada sobre a mesa sem aviso. Eles, que possuem um volume curiosamente menor que os expostos na estante, são sustentados por um pequeno carrinho de mão. Alguns carregam a aparência de novos, entretanto, outros me parecem mais envelhecidos. Não sou capaz de contá-los, contudo, são muitos.

Livros nunca foram um assunto interessante aos meus olhos. O modo que as letras se encaixavam numa frase me entediam, embora eu saiba que, muitas vezes, eles possam guardar uma bela história entre as páginas. Falta-me vontade para acompanhar até o final.

Percebendo isso, dr. ª Patricia decidiu que, na consulta de hoje, faremos algo diferente: iremos além dos diálogos compridos, a aproveitar minha linha do silêncio.

— Nã-não gosto muito de livros. — confidencio precipitado.

— Desses você gostará! — ela afirma com certeza. — Em um atendimento, você me disse que vez ou outra você lê artigos ou notícias sobre o espaço. Isso me fez pensar que sua leitura só se estende até os assuntos que conhece. — dou com os ombros. — Sendo assim, acho que seria legal tentarmos partir para os que não.

Franzo o cenho em confusão.

— Esses livros são um pouco diferentes dos que está acostumado. Não possuem história própria, ou várias, também não são relacionados a artigos ou notícias; são poesias, cada página contém uma. — esclarece, mas mantenho o semblante confuso. — Sabe o que é uma poesia, Henry?

— São t-extos, um pouco menores que os normais. São divididos em partes pequenas e as vezes acabam rimando. — ao terminar a fala, concluo o provável motivo dos livros serem menores e mais finos: não há muito o que colocar nas folhas afinal.

— É mais ou menos isso. — seu tom é de puro divertimento. — Cada livro retrata um tema. Alguns são mais antigos, por isso têm uma linguagem mais complicada, mas creio que entenderá tudo.

Ainda sem entender como isto tenha alguma utilidade, enfio a mão no carrinho de madeira atrás de uma boa opção. Meus olhos avistam um livro de capa dura e marrom. Não tardo a pega-lo na mão.

Não ouso a ler o nome antes de folheá-lo, apenas abro em uma página qualquer e encaro o texto. Pelo tom amarelado na beirada, é evidente o estado envelhecido. A loira me acompanha com os olhos até o costumeiro divã, onde me vejo confortável o bastante para, enfim, dar uma olhada no conteúdo.

Ruídos de SaturnoWhere stories live. Discover now