Finn: "Let me talk."

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       Tinha passado o dia de ontem pensando em como tinha tratado Millie, eu me culpava por ter sido tão severo, eu mesmo queria me socar por aquilo. Não contei nada a Candace sobre nosso encontro, ela estava estressada quando chegara em casa, aquilo só pioraria.
       Apesar de ainda estar agarrado nos versos finais da minha música, eu já estava tendo algumas ideias. Sentado ali no estúdio, esperando pela chegada dos outros e do próprio Gale, eu já tinha riscado algumas tentativas.
       Gale entrou e imediatamente me olhou ali com a guitarra apoiada em minhas pernas. Algo no olhar dele refletia orgulho, não sabia bem explicar, mas ele era uma figura paterna pra mim, enquanto meu pai biológico estava longe.
       - Isso é bem bonito, filho.
       - Obrigado. - agradeci, devolvendo as chaves a ele - Estive trabalhando nessa música nos últimos dias, mas não consigo achar um bom final.
       - Posso? - ele apontou para o caderno.
Estendi para ele, que aceitou e se sentou ao meu lado. Não demorou pra terminar de examiná-la.
       - É romântica. - ele riu - Talvez uma das poucas que tenha escrito.
       Assenti, constrangido.
       - Sim. - ele me devolveu - Pretendo terminar até o fim da semana.
       - Vai achar inspiração.
       Suspirei e fechei o caderno.
       - Temos um show para domingo. - anunciou ele - Então, vamos pegar firme o resto da semana.
       - Claro, claro!
       - Vamos passar só sua voz em City boy.
       - Ok. - me levantei e fui para o outro lado da vidraça.

"When I walk around my room
There is nothing else to say
When I walk around my room
Everything will be okay, ow!

I am a city boy
You are a city girl
You date the city tool
I am a city fool
I am a city boy
City boy

1, 2, 3, 4!

When you have an artistic view
It'll rub off on your take
When you answer to a bunch of dudes
You should run away

I am a city boy
You are a city girl
You date the city tool
I am a city fool
I am a city fool
I am a city fool
I am a, I am a
City fool
I am a, I am a
City, city fool"

       - Muito bom, filho!
       Assim que tirei os fones e os coloquei no suporte do microfone, Ayla chegou acompanhada de Jack e Malcolm.
       - Vamos tocar! - exclamou Gale - Vamos, vamos, vamos!

**

       Eram cerca de cinco e meia quando fomos liberados. Havia muita coisa em minha cabeça e eu só queria descansar, porém dirigi até o Veggie Grill, tomaria algo e levaria para Candace também.
       Parei o carro no estacionamento e saí. Caminhei até as escadas e subi depressa, quase caí ao ver, não muito distante de mim, Millie, acompanhada de muitos papéis e café.
       Fui até ela calmamente e parei em sua frente. Ela levantou o olhar e me encarou assustada.
       - Se importa? - apontei para cadeira em minha frente.
       - Na verdade, não. - ela recolheu os papéis e seu café - Já estou indo mesmo.
       - Espera! - pedi - Por favor, não vá.
       - Agora quer que eu fique? - ela me indagou confusa - Me desculpe, mas você não controla a minha vida, está bem?
       - Millie! - a alcancei e segurei seu braço - Eu fui um idiota, é isso que queria ouvir?
       - É pouco.
       - Olha, pode me xingar do que quiser. - disse a ela - Só me ouça por alguns minutos.
Millie ainda estava tensa, mas aceitou voltar para sua mesa e me ter como acompanhante.
       - Você tem oito minutos.
       - Não estou pedindo para me perdoar. - disse com precisão - Pode me odiar pelo resto da vida se quiser, mas quero te contar porquê eu fui embora sem me despedir.
       - Veio me encher com seu drama pra eu ficar com pena de você, Finn? - sua expressão era aterrorizante - Isso é sério?
       - Não, não é isso.
       - Então, fale.
       - Eu não queria deixar você. - disse a encarando - Tive medo de não conseguir ir embora sem você.
       - Mas você foi.
       - Não conseguiria me despedir olhando em seus olhos. - respondi - Eu te amei demais pra isso.
       - Poderia ter me ligado se amava tanto.
       - E ouvir sua voz? - eu podia sentir a tristeza de lembrar daquele momento em que fechei minha última mala e saí pela porta da frente direto para o aeroporto sem vê-la uma última vez - Eu não conseguiria pronunciar uma só palavra.
       - Mas nunca me atendeu.
       - Troquei de telefone. - expliquei - Eu queria esquecer a ligação com a minha vida anterior, mas eu me arrependi depois. Eu descobri que não era o que eu queria, sim, a fama subiu à cabeça, mas eu superei isso.
       - Superou mesmo?
       - Sim!
       - Por que não me procurou, então? - ela perguntou irritada - Teve que esperar que eu o encontrasse primeiro?
       - Eu não sabia onde te achar. - balancei a cabeça - Fiquei louco tentando te achar, mas não consegui, eu comecei uma procura maluca faz umas três semanas e eu não sabia ao certo porquê, mas eu queria te encontrar.
       - Isso explica muito o surto de ontem. - ela rebateu - Você me expulsou!
       - É complicado.
       - Sempre é. - ela revirou os olhos - Pouco me importa!
       - Não esperava que se importasse.
       - Já acabou a historinha?
       - Millie, eu estou falando sério. - a fitei, queria que ela acreditasse em mim - Você é importante pra mim!
       - Ah, sou mesmo? - ela estava ficando estressada - Você tem um jeito estranho de demonstrar isso, sabia?
       - Como queria que eu ficasse?! - joguei as mãos para o alto - Aquele... Cara.
       - Duvido que não tenha alguém também.
       Me calei.
       - Então tem?! - ela não estava surpresa - Maldito Noah!
       - Ainda se falam?
       - Não é da sua conta.
       - Poderia parar de fazer isso! - pedi.
       - Engraçado você estar aqui depois de ter me dito que não queria me ver tão cedo.
       - Eu não estava te seguindo. - disse ele - Se é o que está sugerindo.
       - Seus oito minutos acabaram. - ela ameaçou levantar, mas toquei levemente seu pulso e a interrompi.
       - Por favor.
       - Por que está perdendo seu tempo comigo? - indagou ela - Aposto que sua namorada não gosta de mim.
       - Candace não tem que gostar de você. - falei - Você é minha amiga, não dela.
       - Não somos mais amigos.
       - Millie...
       - O que de fato você quer? - quis saber ela - Quer chegar a algum lugar.
       - Quero mesmo. - confirmei - Vou reconquistar nossa amizade.
       - E quem disse que eu te quero como amigo?
       - Olha, é o seguinte. - sorri pra ela - Vamos descobrir se você quer ou não. Domingo tenho um show no Garden Angeles, às sete, e eu estou te convidando. Você pode ir ou não. Se for, saberei que você quer tentar, se não, eu te deixo em paz.
       - Nem morta!
       - Ora, vamos! - pedi tentando animá-la - Me dê seu telefone.
       - Por quê?!
       - Vou anotar meu número.
       - Pra quê?
       - Porque eu quero que tenha uma prova de que eu quero reconquistar sua amizade. - falei quase implorando - Me dê o telefone.
       Ela o estendeu desbloqueado e anotei meu número. Não demorei, logo devolvi.
       - Me ligue se precisar de algo. - pedi, enquanto aproveitava a oportunidade para segurar sua mão - Qualquer coisa.
       Algo na expressão dela relaxou.
       - Ou pode me odiar pelo resto da vida, Mills. - disse tentando confortá-la - Eu menti, quero seu perdão sim, mas quero merecê-lo.
       - Não me chame de Mills!
       Ri de sua expressão brava.
       - Do que você está rindo? - indagou ela com o cenho franzido.
       - Tinha me esquecido do quão eu te deixava brava. - quis toca-la novamente, mas me impedi.
Ela não disse nada, ficou apenas me observando até de fato eu perceber que meus dedos tinham entrelaçado os seus. Mesmo sem minha percepção.
       - Há uma ironia muito grande de eu sempre voltar pra você. - disse ela, aquilo sim me surpreendeu - Isso é extremamente irritante!
       - Você acredita em destino?
Enfim, soltamos nossas mãos.
       - Seu tempo acabou. - disse ela se levantando - E agora é sério.
       Dessa vez a deixei ir e fiquei parado por um instante, minha cabeça estava a mil. Após passar, o que durou cerca de 15 minutos, fiz o meu pedido e fui embora.

**

       Candace e eu passamos o resto do dia juntos, ela já estava em casa quando cheguei. Tínhamos jantado pouco e ido para o quarto. Ela estava deitada agora e eu com o caderno apoiado em minha perna. Eu precisava terminar aquela música.
       - Amor! - chamou Candace, levantando a cabeça para me olhar - Já está há dias preso nessa música, durma um pouco.
       - Uma estrofe. - disse a ela - Só falta uma estrofe.
       - Você pode terminar amanhã.
       - Já me deito. - disse com um sorriso fraco.
      Ela suspirou e fechou os olhos.
      Me concentrei. Pensei em uma rima boa e deu certo. Me animei com o progresso e continuei tentando, uma hora tinha que dar certo.
       Dois versos, os versos finais. Só dois.
       - Vamos. - sussurrei.
       Enfim, consegui.
       Sorri animado diante do meu trabalho concluído e fechei o caderno. Me deitei, e senti Candace passar os braços pela minha cintura.
       Parecia loucura e até um pouco de vacilo da minha parte, mas eu esperava que a Millie me ligasse. Não sei porquê, só queria que ela ligasse.

True DisasterWhere stories live. Discover now