VI - O Cão Feliz

25 8 16
                                    

"Eu sinto como se o mundo tivesse sugado tudo de mim pelo que eu fiz..."

Segunda-feira, 7 dias antes da morte de Lisa Patterson

Lucie caminhava até o parque lentamente, segurando a coleira de Happy. Tinha marcado com Lisa às duas horas da tarde, mas ela estava um pouco adiantada.

Ela se sentou num banco em baixo de uma sombra de árvore e ficou ali alguns minutos, quando uma voz familiar disse algo:

– É muito bom aqui né? Eu sempre venho aqui quando quero limpar a mente...

Lisa estava usando um vestido bem discreto. Happy pulava nela, que se abaixou e fez carinho nele.

– Posso me sentar aqui?

Lucie acenou positivamente com sua cabeça e Lisa se sentou do seu lado. Elas ficaram em silêncio alguns minutos, ouvindo apenas a brisa do vento passando.

– Como você está? – Lucie perguntou.

Lisa não respondeu e o silêncio voltou. Após um tempo ela disse algo bem baixo:

– Eu quero fazer isso...

– O que disse? – Lucie se virou e perguntou.

Uma lágrima caiu dos olhos de Lisa. Ela levantou sua cabeça e sorriu para Lucie.

– Tem uma festa sábado. Eu nunca fui numa festa antes. Você quer vir comigo?

Lucie a fitou por um momento, não sabia o que tinha acontecido, então ela apenas respondeu que sim.

Lisa a abraçou e elas ficaram ali mais alguns minutos, antes de saírem para tomar um sorvete.

*****

Quinta-feira, 4 dias antes da morte de Lisa Patterson

Lucie e Abel tomavam chá na casa dele. Lucie estava sentada na mesa enquanto Abel estava em pé, de frente para a pia.

– Você e Lisa saíram todos os dias dessa semana... Não acha que vocês estão muito próximas? – Abel perguntou, olhando sua xícara de chá.

– Você quer dizer tão próximas quanto você e Rebecca estão? Vocês também saíram juntos todos os dias dessa semana, não é mesmo? – Lucie respondeu, sorrindo.

Abel fingiu um sorriso e ficou em silêncio.

– Bem... Não sei se você está acompanhando as notícias, mas tem um assassino em série aqui em Vila Obélia.

– Você quer dizer além de mim? – Lucie soltou um suspiro e fechou os olhos.

– Lucie... Tem alguém matando as pessoas aqui. De verdade. Já se foram seis pessoas do clube de literatura.

– Como assim?

– Eu não sei bem... Ninguém sabe ao certo, parece que a polícia está tentando deixar as pessoas o mais calmas possível...

Os dois voltaram a ficar em silêncio. Abel continuou olhando sua xícara por uns longos minutos.

– Lucie?

O celular de Lucie começou a tocar de repente, impedindo Abel de terminar o que ele ia falar.

– É Lisa. A gente vai comprar algumas roupas juntas hoje, eu tenho que ir. – Ela levantou-se correndo, deu um beijo na bochecha de Abel e saiu. Ele respirou fundo.

– Eu acho que estou gostando de você... – Abel disse como se ela ainda estivesse sentada ali no sofá. Ele apenas agachou, e debruçado na pia começou a chorar.

O IntrusoWhere stories live. Discover now