II - O Escultor de Pesadelos

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"Eu tentei explicar o porque de eu ser tão triste... Mas nenhuma palavra saiu da minha boca. Foi então que eu percebi que também não sabia."


Lucie corria muito, estava desesperada. O que estava perseguindo-a era rápido, e familiar. A garota correu o quanto pôde em meio às ruas vazias, gritava por ajuda, mas só podia ver a criatura correndo em sua direção.

O corpo magro e alto, as mãos extremamente longas e pontudas, um cabelo grisalho em cima da face, totalmente lisa. Era como se o monstro não tivesse um traço de humanidade em seu rosto. Não possuía nariz, ou boca, ou sequer olhos. Mas ainda assim, usava um terno com uma gravata vermelha.

A criatura corria atrás de Lucie, e mesmo com a ausência de uma boca, era possível ouvir uma risada macabra, bem de leve. Era como se ele sentisse prazer em ver o sofrimento da garota, que tentava de todas as formas escapar. Mas não era possível. Quanto mais Lucie corria, mas parecia que estava parada. O monstro continuava a vir em sua direção, e ela corria, fisicamente, mas não saía do lugar, como se a rua fosse uma esteira.

Aquela rua que ela tanto conhecia. E odiava. A criatura ia chegando cada vez mais perto, abrindo seus longos braços como se desejasse abraçar a garota, que estava extremamente ofegante. De repente o ser raquítico encostou suas frias mãos no ombro de Lucie, que ficou em estado de choque. Queria sumir dali, sair correndo das mãos daquele monstro vil e nojento, mas já era tarde. Aquela aberração a segurou forte. Abriu uma de suas mãos enormes e tapou todo o rosto de Lucie, de forma que ela não conseguia enxergar nada.

Então a garota começou a sentir sua vida acabar.

Lucie então abriu os olhos. Viu o teto de madeira e sentiu o chão duro embaixo do cobertor. Ao perceber todo o suor em seu rosto, viu que tudo não passara de um pesadelo.

*****

– Lucie? Você está me ouvindo?

– Hm? Sim... Eu estava só... Lembrando um pesadelo que tive essa noite...

Abel levantou da pequena cadeira onde estava e sentou-se mais próximo da garota.

– Por que eu sinto que você está tensa?

– Talvez eu esteja... – Respondeu a garota, olhando a sua xícara de chá.

– E por que necessariamente?

Happy corria e pulava nos pés de Lucie e Abel embaixo da mesa.

– Não sei... Acho que eu somente... Queria esquecer certas coisas.

– Todos nós temos algo que queríamos esquecer, Lucie. Seja algo errado que fizemos, ou que sofremos... Mas não podemos deixar isso nos por pra baixo, afinal, sem esses erros, não seríamos o que somos hoje... – Abel disse aquilo num tom tão frio que incomodou um pouco a garota, mas logo ele deu um sorriso e se levantou.

– Já vai? – Perguntou Lucie. Não que ela queria que ele ficasse, mas foi bom tomar um chá e conversar um pouco.

– Sim... Tenho trabalho a fazer. Obrigado pelo chá, eu adoro camomila! E obrigado pelo autografo também! Foi um prazer enorme te conhecer.

– Eu que agradeço... Sem você eu acho que nunca ia terminar de arrumar os móveis...

O garoto sorriu, acenou a cabeça e saiu, deixando Lucie sozinha. Ela voltou a fitar sua xícara, que ainda estava cheia de chá.

*****

Após tomar um banho frio, a jovem resolveu passear um pouco para conhecer melhor a vila.

O IntrusoWhere stories live. Discover now