Olhar além

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Que tal deixar sua estrelinha?🤩

" Leve-me junto com você! Vamos fugir! Quero ir com o meu rei, o meu amado! Celebraremos e cantaremos as mais belas canções. Sim! Porque seu amoré melhor que o mais nobre vinho. Como você é amado! Quem não o amaria? " - Cantares 1

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QUARTA-FEIRA, QUARTO DE EMA JONES; 13h15min.

Saber que o Leão esta na porta do meu sonho, me esperando é o que faz o meu medo ser silenciado. O meu medo tem uma face, e é formado por areia, que sumiria ao ir contra um fraco vento. Mas eu não tenho essa ousadia toda, então a conclusão é que eu posso me acostumar com ele.

Não foi tão fácil assim pregar meus olhos. As lembranças de Diogo sendo agredido por aqueles dois garotos insuportáveis e saber que depois de hoje, não será fácil para eles se esquecerem da minha existência me dava uma certa insegurança.

As fotos não foram apagadas. Eu não as vi depois daquele dia. Para ser sincera, não sei o que fazer com elas. Queria poder ter coragem o suficiente e denunciá-los para a diretoria, mas não foi isso que aconteceu. Eu sou medrosa. Elas continuam guardadas no cartão de memoria, esperando que eu resolva o que fazer com elas.

O grito de mamãe ecoando pelo meu quarto, gritando pela milésima vez meu nome chegou estridente aos meus ouvidos.

Deslizo meu dedão na fita, reforçando-a sobre o grande espelho retangular. Sabendo que mamãe logo; logo, inclinaria seu corpo para dentro do quarto, dizendo que se eu não sair agora, me deixaria para trás. Nós duas sabemos que é mentira.

Seu cabelo loiro encaracolado esta solto, como normalmente. Seus olhos negros encarando meu reflexo refletido no espaço vazio, onde os post'it e fotos reveladas não chegam. Ela estreita os olhos.

- Será mesmo que eu terei que te arrastar para fora do seu quarto?

Suas sobrancelhas levantadas sugestivamente, como se estivesse realmente considerando a ideia.

Deslizo novamente meu dedo na fita, descendo pelo rosto da criança da noite passada na foto já revelada. Empurro meu corpo para trás, pegando a bolsa amarela que estava sobre a cama, indicando para mamãe que a seguiria para fora do meu quarto. Mas ela permanece, escorando seu corpo no batente, em um gesto severo.

- Já estou indo mãe.

- Eu sei...

Ela continua no mesmo lugar. Seus olhos sugestivos me diziam que não iria sair do meu quarto sem mim.

Suspiro, entediada. Olho novamente a foto da garotinha com suas duas Marias Chiquinha prendendo seu cabelo ruivo. Seus olhos concentrados, imaginando como seria o gosto adocicado do pirulito em sua língua.

Ouço um longo e entediado suspiro vindo da porta. Mamãe transporta seu peso para outra perna, em sinal de intolerância com a minha demora.

Passo meus dedos em meu cabelo antes de sair do quarto seguido por mamãe logo atrás.

Papai levanta as mãos para o céu, como se estivesse agradecendo, aos seus olhos encontrarem com os nossos corpos. Sinto a mão de mamãe tocar meu braço.

- Vai ser legal!

E me permito acreditar nisso, pois sei que é verdade. Fazia um bom tempo em que meu coração ansiava em visitar vovô. Queria ouvir sua voz mansa contar suas piadas nada engraçadas, e seu esforço em fazer um colar de flores. Levando-me para os nossos encontros quando eu era criança e toda vez que íamos o visitar me recebia com um colar de girassol.

Entardecer- Para Salvar Uma VidaWhere stories live. Discover now