vicodin + xanax

funeral

| kim namjoon + kim seokjin | bangtan |

a chuva caía de forma bruta, deixando poças e bolsas d'água por entre a grana verde escurecida, e pequenos buracos no terreno. tudo compactuava ao momento, a chuva forte, poucas pessoas, o padre e um ajudante ao seu lado com um guarda-chuva, lágrimas caindo dos outros tristes e falsos de alguns, resmungos, e, não menos importante, o funeral que acontecia.

namjoon era um deles, mas não esboçava nada, apenas observava a chuva cair em seus sapatos surrados, despensando os sociais, dos quais fora quase obrigado á usar, mas não o fez. sabia que aquele ritual pós-morte iria acontecer, demorar horas para começar, e mais algumas para se concretizar.

ao seu lado, seu pai continuava com seu semblante sério, era seu pai, afinal, poderia mostrar sua melhor armadura, dizer á todos que estava bem, mas não estava. o homem dizia que seu pai era um herói, cozinheiro de mão cheia, exibindo um sorriso mínimo a todos com sua grande idade vivida, mas que deixava sequelas, e o kim mais novo as entendia. sentiu-as por parte de sua vida, e era quase um alívio vê-la sumir de sua vista. ela não seria mais reproduzida, afinal, não com a mesma perfeição que o homem fazia.

os pensamentos do mais novo da família kim fora despistado por uma risada baixinha, céus, sentia falta de rir, de gargalhar com vontade, não a risada forçada ou a carranca estranha que lhe era umas de suas principais expressões. não deveria se sentir aliviado com a morte de alguém, mas, sentia-se tão leve, mesmo que os cacos ainda estivessem ao seu redor.

namjoon fechou os olhos, respirando fundo e relaxando sua mente, não percebia o olhar atento do garoto á poucos passos de si, ao menos conhecia o outro, nunca vira o rosto bonito em sua vida. mas, havia algo nele que o chamou atenção, não apenas por sua risada inapropriada para o momento, mas a áurea que se formou ao redor de seu corpo.

passaram-se alguns dias desde o acontecimento fatídico que envolvia o mais velho dos kim, e o mais novo não parecia se preocupar, igualmente como recebeu a notícia, tendo uma expressão neutra, que, de certa forma, parecia mais viva. seria irônico dizer que kim namjoon se sentia vivo, mesmo após a morte de seu avô? pois era assim que se sentia.

seus passos calmos em direção á sala de aula eram feitos, esbarrando em certos corpos ao passar, recebendo olhares de cumplicidade, que o faziam apenas acenar, e voltar a observar sua frente. e fora assim, observando sua frente, ora abaixando a cabeça para copiar a matéria que lhe era dada, não muito interessado em como as células funcionavam, que tal coisa o fazia pensar demais, e sua cabeça não estava em um bom estado.

fazia algumas horas que o sinal tocara, mas o kim ainda se mantinha dentro do ambiente escolar, lendo uma pequena versão de bolso da biografia de van gogh, sentindo o sofrer e até o seu sucesso por pouco tempo, até mesmo sua loucura momentânea. não percebia nada á sua volta, apenas lendo as palavras difíceis e sentimentos expressados em uma tela, nem mesmo a porta da biblioteca grande se abrir, deixando que o corpo de um outro aluno se encontrasse com o ambiente.

namjoon não viu, não ouviu, não até aquele momento em que a pergunta foi lhe perguntada, olhando diretamente em seus olhos, demonstrando certa curiosidade, mas, também, desdém – tal parte que nunca chegou a entender tão bem: — por qual motivo riu diante de um caixão? ele estava morto, não é motivo de piada.

— não sou de desejar morte alheia, nunca fui, inclusive, mas não irei chorar diante de alguém que nunca me fez sorrir. — respondeu, não retirando seus olhos do livro branco por entre seus dedos.

seokjin ainda tinha a imagem de namjoon rindo baixinho, passando seus dedos longos por seus lábios rapidamente, parecendo retirar resquícios de seu humor momentâneo. havia algo alí, não para rir, e ele pensava que não era sobre, propriamente, o velório.

nunca soube a real explicação da pequena risada imperceptível, mas, uma ação que parecia desrespeitosa, tornou-se libertadora ao que o kim caçula da família a fizera.

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