remember

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[não-ficção; relato pessoal]

  você provavelmente nunca vai saber, nem pensar nisso. mas eu lembro de tudo. de cada momento dentro da sala branca com azul, ou fora dela, em outros momentos.

  eu lembro de como eu te olhava com admiração enquanto você apresentava algum trabalho. você parecia inteligente demais, e não se mostrou diferente disso nos dias em que ficamos juntos.

  eu lembro de quando você e nosso outro amigo conversavam e acabaram soltando uma palavra feia e eu ri, boba com o xingamento inoportuno, mas você pediu pra ele me respeitar e eu disse que não tinha problema.

  eu lembro de quando você me chamava pelo segundo nome completo, sem apelido, quando ficava irritado com alguma bobagem que eu dizia ou fazia. eu lembro dos dias que ficávamos juntinhos, abraçados no intervalo, seus braços em volta da minha cintura e seus beijinhos discretos na minha testa e cabelos.

  eu lembro de quando eu comecei a te abraçar colocando sua perna no meio das minhas, curtas, fartas e atraentes à sua vista. eu lembro dos dias que você me abraçava tão forte e provava pra todo mundo o quanto eu era pequena em meio à imensidão do seu corpo.

  eu lembro do dia que eu retribuí todo o seu carinho e te dei comida na boca, antes de ficarmos sem nos ver por um mês, mas mesmo assim, nos falando nos dias e noites que precisávamos conversar. eu sempre soube que não era única, mas minha mente acalmava ao pensar que você era, sim, único.

  eu lembro do dia em que ganhei um abraço menos forte do que eu achei que seria e fiquei emburrada o resto do dia. mas voltei a sorrir e brincar com os outros quando você abraçou minha cintura e disse uma frase que me confortou. então eu sorri e brinquei com seu cabelo enquanto você descansava a cabeça no meu tronco.

  eu lembro do dia após esse, quando ficamos abraçados, juntos, trocando carinhos, como há um mês daquilo. me senti feliz em achar que tudo voltaria a ser como antes. mas como uma boa bomba-relógio, você se fechou sem explicar nada a ninguém e se excluiu das nossas vidas.

  por, pelo menos, duas semanas.

  até saber que eu chorei na frente de professores, coordenadores e amigos, sentindo sua falta e explicando toda a solidão que sentia. no outro dia, você voltou a me beijar e abraçar.

  eu lembro do dia em que eu sentei no seu colo, implulsivamente, pela primeira vez. em público. ao contrário da reação esperada por mim, você não ordenou que eu saísse ou algo do tipo, apenas abraçou minha cintura e deixou a mão brincar na minha coxa.

  eu lembro dos dias antes desse, que você beijava meu pescoço delicada e discretamente, do mesmo modo que eu brincava com sua orelha entre meus lábios, sem chamar muita atenção. até que a cobrança de um relacionamento sério veio por alguém de fora, e ficamos tímidos, negando algumas coisas que diziam sobre aquilo.

  eu lembro da tarde em que você me conduziu a sentar entre suas pernas. e lembro de como ali virou meu lugar favorito. eu lembro da brincadeira de acertar o instrumental dos hinos oficiais de cada país, e lembro dos seus toques nada puros em minha cintura, coxas, pescoço, seios e no meu íntimo infelizmente coberto pelos jeans que marcavam minha bunda.

  lembro de como, naquele dia, tudo foi tão calmo e sincero. lembro da dor gostosa que sua mordida em minhas costas me causou e do que eu causei tentando me ajeitar em seu colo. você também me ajudava, suspendendo minha cintura quando necessário.

  lembro do dia em que você me fez ficar sozinha com você dentro de uma sala e pelos corredores e prendeu meu corpo contra a parede, provocando caos em meus sentimentos e desejos.

  lembro das passeadas de mãos na minha bunda, dos puxões de cabelo, das cócegas que você fazia só para ouvir minha risada sincera e muitas vezes manhosa, comparável aos meus gemidos. eu lembro de como você batia no meu rosto fraquinho todas as vezes que tinha oportunidade e prendia meu rosto entre seus dedos até que eu abrisse minha boca num gesto totalemente impuro.

  eu lembro bem do dia que você dormiu na sala e eu tive que te acordar. fiz isso o mais delicadamente, acariciando seus cabelos loiros; ganhei um sorriso, abraço e colo. o meu lugar favorito no mundo todo, senhor, é o seu colo.

  conversamos sobre coisas e pessoas aleatórias até que você não aguentou e começou com os apertos na cintura e beijos molhadinhos no pescoço que tanto me agradavam e satisfaziam.

  lembro do dia em que você mostrou sua posição dominadora diante de mim na frente dos outros quando, por impulso, saí do seu aperto para conversar com uma amiga e recebi um olhar um pouco bravo e gestos com os dedos que indicavam que eu deveria me aproximar.

  minha cintura foi apertada com mais força e eu proferi um baixo pedido de desculpas quando recebi uma repreensão por ter me afastado sem permisão alguma. sua voz dizendo aquilo daquele jeito ao lado do meu ouvido me fez derreter e virar uma gatinha. sua gatinha manhosa que deita e rola por carinhos.

  lembro do dia que tivemos aquela breve conversa sobre sua postura sempre dominadora e você ficou atordoado por nunca ter percebido como agia imponente mesmo quando não queria. lembro, querendo ou não de cada conversa. principalmente aquela que me fez chorar por tanta coisa tocante dita; aquela de quando você estava bêbado. e, meu deus, ainda bem que lembro até do apelido que você escolheu pra mim.

  porque você não lembra.

  por mais que quisesse esquecer tudo de uma vez, eu lembro. mas ao pensar, sorrio. sorrio por saber que foram boas vivências que deixarão boas memórias que se tornarão boas histórias.

  hoje eu só tenho a te agradecer por ter me deixado essa herança de lembranças e bons sentimentos, por mais que eu também quisesse reviver cada dia mais uma vez.

© taegia.

vicodin + xanaxWhere stories live. Discover now