Capítulo 10

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Perdi a noção do tempo, chorei por horas, com ele em meu colo.

Fechei seus olhos, peguei seu corpo e lentamente fui caminhando para o carro, eu não ia deixar o corpo do meu melhor amigo aqui.

Quando entrei no carro, lembrei-me do que ele tinha dito de que não queria ficar sem pernas, voltei calmamente para o local, com o detector de minas e achei suas pernas inteiras.

Peguei-a, envolvi em um pano e fui trazendo comigo, coloquei do seu lado no banco de trás. Mas antes, peguei meu rifle, entrei no meio dos escombros, carreguei a arma, e descarreguei no corpo daquele que foi responsável por montar a armadilha em que meu amigo morreu, mais de 60 tiros no corpo do desgraçado.

Cheguei até o que sobrou do nosso acampamento, nosso capitão estava morto. Outros colegas também, de treze restaram seis. Consegui fazer conexão por rádio informei do acontecido, reforços nos trariam de volta à base.

Em poucas horas estava parando. Recolheram nós seis, os sobreviventes... E mais o corpo dos mortos.

Chegando na base, fomos recebidos como heróis, me colocaram em um lugar para descansar, e para tratar meus ferimentos, que não são poucos, mas que nem senti, o que são tiros e perfurações quando seu melhor amigo morre nos teus braços mutilado? Quando seu capitão que estava feliz até ontem pois ia sair desse ambiente de dor, e ter uma família com o amor da sua vida... O que são porcarias de perfurações em vista disso?

POV SARGENTO MICHAEL

Ao contrário da maioria dos sargentos que comandam isso aqui, eu sempre achei que Lauren daria conta do recado, no primeiro ano, ela já conseguiu calar a boca de todos. E o cavalo azarão se tornou a arma mais eficiente de referência.

Se tem alguma missão que precisa de um agente preciso, com força e estratégia tem que ser ela! Poucas vezes ela esteve de volta a base, só no natal e ano novo, onde todos são recolhidos a um território seguro e passam do dia 23 ao dia 02 aqui na base. Ela foi uma das pessoas que recrutamos obrigados, ela não era uma soldada antes de tudo isso, e a diferença comportamental dela é gritante.

Sempre se mostrou muito séria, reservada e totalmente focada.

Mas quando ela desceu do helicóptero liderando a equipe de sobreviventes, com os corpos dos que se foram. Percebi que talvez ali, tínhamos perdido um ser humano. Quando essas coisas acontecem a instrução que passamos é para os sobreviventes se manterem escondidos e unidos até o reforço chegar.

No caso dela, ela deixou todos seguros e saiu em uma caça por corpos, e achou todos, que era da sua equipe. Os embrulhou em lençóis e os trouxe para junto dos sobreviventes. Quando questionada o porque de ter descumprido as ordens sua resposta deixou todos chocados e mudos.

"O sistema pede para que fiquemos todos juntos, um esquadrão não vai se um estiver faltando, nós seis não poderíamos deixar sete para trás, mesmo estando mortos... É o correto a se fazer."

Os exames dela deram ok, os ferimentos foram costurados e aos poucos vão cicatrizar, mas, e os ferimentos na cabeça, nos pensamentos e no coração? Como faz para sana-los?

Ela tem menos de vinte e cinco anos e olha só as coisas que ela já passou? Será que realmente compensa isso? Será que o exército esteve certo em fazer o que fez com a maioria que está em batalha? Sinceramente, chego a questionar o sistema.

Lauren tem saído apenas para comer, verificar ferimentos e quando é solicitada. Hoje é a cerimonia das botas, soldados que morreram essa semana terão seus pares de botas expostas como uma foto e receberam salva de tiros e outras homenagens.

a thousand butterflies (CONCLUÍDA)Where stories live. Discover now