|Capítulo 22|

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     Então, na madrugada daquele dia, Isa e Biel se encontraram na floresta, onde sentaram em um troco quebrado de uma árvore, de frente para um lago. Ficaram observando a paisagem por um momento, até Isa quebrar o silêncio. 

  — Aqui é tão bonito!

  — É sim. Lindo como você. - Biel logo percebeu o que tinha falado e corou, assim como Isa, que ficou mais vermelha que um tomate. Então ele logo começou a falar de outra coisa, para mudar o assunto. — Então... fala mais sobre você e sua família. - e ela falou. Disse tudo que tinha acontecido desde seus 3 anos até o momento presente, de como tinha conhecido Suga e seus irmãos, das rivalidades iniciais com Tae e de como ela desprezou sua mãe biológica para o bem das duas e juntou seus pais adotivos (Suga e Bella).

  — E você? - ela perguntou ao fim. — Quero saber mais sobre você. - ela realmente estava bem interessada.

  — Bom... minha vida não é muito interessante.

  — Ah, mas fala, vai! - ela dizia enquanto cruzava as pernas e apoiava o queixo nas mãos, como quem tinha tempo de sobra para ouvir suas histórias.

  — Ok... Para começar, eu nem sempre fui bruxo. Meus pais também não eram. Somente minha avó era. Eu comecei a desenvolver poderes ano passado. Meus pais não sabiam como lidar com isso, até porque eu quase destruí a casa. - ele dizia envergonhado. — Então meus pais simplesmente me expulsaram de casa. 

  — Que horrível! - ela estava horrorizada.

  — Com isso, eu consegui achar minha avó depois de muito procurar e fui morar com ela. - ele continuou. — Ela me ensinou os feitiços que eu sei hoje.

  — Que legal!!

  — É... mas eu tenho medo de quando ela falecer... Ela já está bem velhinha... Não sei o que vou fazer quando ela... - Isa segurou as mãos dele antes dele continuar.

  — Não vamos pensar nisso, está bem? E, quando isso acontecer, você ainda vai ter eu aqui para tudo o que você precisar. - os dois sorriram.

  — Obrigado, Isa.

  — É isso o que amigos fazem. - e eles ficaram observando a paisagem até Isa deitar a cabeça no ombro dele e adormecer. Então, ele a pegou no colo e a levou para casa. 

     Dias e dias se passaram e assim foi feito. Todos os dias, Isa passava um ótimo dia com sua família e, de madrugada, quando seu pai já tinha ido dormir, ia se encontrar com Biel no mesmo local. Eles passavam horas conversando sobre assuntos variados. Era impressionante saber que, para eles, nunca faltava assunto. Todo dia, Biel dava uma flor para ela. Seu pai perguntava onde ela tinha ganhado tantas flores e ela dizia que eram dos seus irmãos. Estes concordavam, já que eles sabiam aonde Isa ia na madrugada e mantinham segredo. Suga achava que ela andava muito sorridente ultimamente. Sorridente até demais.

     Então, naquela noite, ele resolveu não dormir. Quer dizer, fingiu que foi dormir e ficou observando Isa. Quando ela saiu de casa, ele a seguiu e, com isso, chegou até a floresta, onde a pegou conversando animadamente com o Biel. Antes dele brigar com os dois, principalmente com Isa, ele resolveu ficar escondido atrás de uma árvore e observar sobre o que eles conversavam.

  — E aí, minha mãe me deixou de castigo por 2 semanas. Ficar sem videogame é horrível. - o garoto dizia enquanto Isa ria.

  — Você é bem rebelde, hein?

  — Um pouco. - ele respondeu, envergonhado.

  — Hm... Estão só conversando sobre coisas bestas, nada demais... - Suga sussurrou. Logo, Biel tirou de trás das suas costas uma flor e deu para ela. Depois, depositou um beijo na bochecha dela. — Tá, já chega. - ele disse, saindo da árvore, o que assustou os outros dois. — Então era isso o que você fazia nesse tempo? Eu bem que desconfiei.

  — P-papai? O que faz aqui?

  — Ainda pergunta?! VOCÊ ACHA QUE SAIR ESCONDIDA É CERTO?!!

  — Suga, se eu puder explicar...

  — E VOCÊ CALA A BOCA!! - ele o interrompeu, gritando.

  — Você não me deixou escolha... Você não pode dizer com que eu posso ou não conversar.

  — Na verdade, eu posso sim porque eu sou seu pai e eu não te criei assim.

  — Mas...

  — JÁ CHEGA! - ele a interrompeu. — ISABELLA, VOCÊ ESTÁ PROIBIDA DE VER ESSE GAROTO PARA SEMPRE!

  — VOCÊ NÃO PODE FAZER ISSO!!

  — NÃO SÓ POSSO COMO VOU! NA VERDADE, JÁ FIZ!! - Isa ia responder, mas Biel tocou em seu ombro.

  — Talvez seja melhor assim... Você tem que ficar com sua família, assim como eu tenho que ficar com a minha. Até nunca mais, Isabella. - ele disse sério e saiu.

  — Obrigada... - disse ela, virando-se para o pai — ... POR ESTRAGAR COMPLETAMENTE A MINHA VIDA!! - ela saiu correndo pela floresta. Suga foi atrás dela, mas não a encontrou. Então, depois de muito chamar e procurar, ele simplesmente voltou para casa.

      Chegando lá, ele se deparou com Pedro sentado no sofá e coçando os olhos.

  — Ei, o que tá fazendo acordado à essa hora?

  — Eu tive um pesadelo... Fui para o seu quarto, mas não te achei... Aonde você estava?

  — Resolvendo uns assuntos com a Isa. - Pedro já sabia que "assuntos" eram esses.

 — E cadê ela? 

  — Não sei... Ela sumiu.

  — Como assim??! - ele falou alto.

  — Ela tá com raiva de mim, Pedro.

  — Então temos que procurá-la! Eu vou chamar o Tae.

  — Não. Vamos dormir. Amanhã, procuramos ela.

  — Vai deixar mesmo uma criança de 6 anos sozinha? - ele dizia, cruzando os braços e se fazendo de adulto responsável.

  — Ela não quer me ver.

  — Mas ela quer me ver. Eu e Tae vamos procurá-la.

  — Não, vocês vão dormir. Agora, vai já pra cama.

  — Mas...

  — Está na hora de dormir, Pedro.

   — Tudo bem... - ele foi para o quarto de cabeça baixa.

        Enquanto isso, na floresta, Isa caminhava de cabeça baixa, ainda de madrugada. Logo ela olhou para o céu e viu que era lua cheia. Foi a última coisa que ela viu antes de escutar um uivo e um lobo avançar nela. Ela não pôde se defender antes de levar uma mordida no braço. Ela empurrou o lobo depois e saiu correndo. Logo viu que a mordida se multiplicava por seu braço. Era uma ferida horrível que não cicatrizava.

       Então ela apenas se sentou na grama, encostada em uma árvore, olhando para aquela ferida que só aumentava e estava em carne viva. Tentou levantar e voltar para casa, mas, no momento seguinte, caiu. Ela não sabia o que estava acontecendo. Estava consciente, mas fraca e via pontinhos para todo lugar que olhava. Sua visão começava a ficar embaçada e uma enorme dor no local da mordida tomou conta dela no restinho daquela madrugada. Ela gritava de dor, mesmo sabendo que ninguém a poderia escutar. Então ela continuou deitada na grama, sentindo aquela dor horrível. 

    Ficou assim até desmaiar alí mesmo.

Criada por DemôniosOnde histórias criam vida. Descubra agora